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África do Sul Connection nº 25

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Atualizado às 10:15

Geração de Ouro

"Antes dos 30: Os bilionários de amanhã" é a matéria da capa da Forbes Africa, assinada por Tshepo Tshabalala, com histórias fascinantes. Mubarak Muyika, do Quênia, tem 20 anos. Órfão aos 10, é dono da Zagace, que explora um software por meio do qual companhias gerem suas contabilidades, pagamentos, estoques e marketing. Arthur Zang, 27, engenheiro em Camarões, criou o Cardiopad, um tablet médico que realiza exames cardíacos em áreas rurais. Os eletrocardiogramas são encaminhados para especialistas, que os interpretam. Agora, pessoas das zonas rurais não precisam se deslocar aos centros urbanos para obterem diagnósticos. Também em Camarões, há Alain Nteff, 22, que se chocou com a alta taxa de mortalidade infantil e de óbitos entre adolescentes grávidas. Ele desenvolveu um aplicativo que permite às adolescentes grávidas, e profissionais da saúde, calcularem os dias de gravidez, sendo abastecidas por informações sobre suas gestações. Hoje, com 1.200 beneficiadas, Nteff comemora o aumento em 20% no pré-natal em mais de 15 comunidades. Seu plano é alcançar 5 milhões de mulheres até o final de 2017. Há a Mind Trix Media, fundada na Cidade do Cabo, por Bheki Kunene, 27, um exemplo de superação. Kunene estava em casa, numa manhã de Domingo, quando policiais bateram à sua porta. "Você está preso. Você assassinou um homem na noite de ontem", disseram. Sem provas ou processo judicial, Kunene passou uma semana na cadeia. Havia sido um engano. Hoje, seis anos depois, a Mind Trix Media presta serviços de comunicação para gigantes da África do Sul, Itália, Vietnã, Zimbábue e Angola. Julie Alexander Fourie, 28, começou a consertar produtos da Apple no seu dormitório, na Universidade de Stellenbosch, na Cidade do Cabo. Hoje, é dono da iFix, que faz reparos em smartphones da Apple e Samsung. São mais de 40.000 clientes por mês. Ainda na África do Sul, Ludwick Marishane, 25, fundou a Headboy Industries, graças a uma pitoresca inspiração. "Por quê alguém não cria um produto que a gente passe na pele e não precise mais tomar banho?", perguntou um amigo. Marishane não perdeu tempo. Ele criou o DryBath, um gel que exerce sobre o corpo os mesmos efeitos do banho, sem a necessidade de água. Para o Google, "ele é um dos mais inteligentes jovens do mundo". Da Nigéria, há Affiong Williams, 29, dona da ReelFruit, fundada em março de 2012, que processa frutas. Ela começou com frutas secas e nuts, como castanhas, passas, amêndoas e amendoins. Hoje, seus produtos estão nas prateleiras de mais de 80 lojas. A Holanda conferiu-lhe o prêmio Competição Mulheres nos Negócios. São exemplos de uma nova geração de africanos que, frutos de uma boa educação combinada com uma economia acelerada, depositaram seus sonhos em seus próprios talentos. Agora, ajudam a construir um continente mais próspero.

Fascínio pela inovação

O cientista marroquino, Adnane Remmal, ganhou o Prêmio de Inovação pela África, no valor de $100.000, por desenvolver uma alternativa aos antibióticos, com propriedades antibacterianas, antiparasitas e antifungos. Sua fórmula reduz a transmissão de germes e cancerígenos, utilizando propriedades dos animais. Alex Mwaura Muriu, do Quênia, ganhou o segundo lugar, $25.000, pela criação do Farm Capital Africa, um modelo de agronegócio que permite que trabalhadores do campo compartilhem os riscos de sua produção e colheita com investidores interessados. É uma espécie de "Seguro Safra", mas sem intervenção do governo, sem custeio baseado em tributos e decorrente exclusivamente da comunidade. Por fim, Lesley Erica Scott, da África do Sul, levou o terceiro lugar pela criação do TBCheck, uma máquina que aumenta a qualidade do diagnóstico da Turbeculose.

Fórum econômico mundial sobre a África

Aconteceu entre os dias 3 e 5 de junho, na Cidade do Cabo, o Fórum Econômico Mundial sobre a África, com o tema: "Agora e depois: Re-imaginando o futuro da África". Entre os organizadores estão Antony Jenkins, executivo da Barclays, Phumzile Mlambo-Ngcuka, secretário-geral das Nações Unidas para as Mulheres, em Nova Iorque, e Patrice Motsepe, presidente da mineradora African Rainbow Minerals.

O general de black tie

Vestido num black tie, Muhammadu Buhari, 72, fez o juramento como presidente da Nigéria. É um general reformado que, com mão de ferro, já havia comandado o país. Agora, eleito democraticamente, derrotou o presidente Goodluck Jonathan, que disputava sua reeleição. Uma das propostas que precipitou essa vitória foi a intenção de derrotar o Boko Haram, organização criminosa que tirou a vida de mais de 10.000 pessoas. Com a oitava população do mundo (174.5 milhões) e a 41ª economia ($510 bilhões), a Nigéria é o 12º maior produtor de óleo e o 5º maior exportador de gás natural. A missão de Buhari é árdua. Ele começará com a redução em dois terços da máquina pública e o corte de 15% do orçamento que herdou. Daí, elevará a taxa de juros e criará barreiras para a importação. Por enquanto, não haverá socorros do Fundo Monetário Internacional. Houve, com Goodluck Jonathan, a concessão atabalhoada de incentivos fiscais, somada à falta de fiscalização no recolhimento de tributos e, ainda, o pagamento de salários a funcionários fantasmas. Já há uma reforma tributária em vista. A intenção é não ficar tão dependente dos tributos arrecadados com a produção de óleo. A tributação na Nigéria corresponde a 12% do PIB. A ideia é elevar para 25%. No Brasil, chegará a 40%. Com o enxugamento da máquina pública, somado ao incremento na arrecadação, virá, em seguida, a contratação de 100.000 servidores públicos, a universalização da merenda escolar e a criação de um programa de transferência condicionada de renda. A expectativa é de que em 2030, o PIB da Nigéria ultrapasse $1.6 trilhões. O país estará entre as 20 maiores economias do planeta.

Corrupção na FIFA

O Sunday Times, jornal sul-africano, divulgou que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, tinha conhecimento do repasse de US$ 10 milhões feito pelo governo da África do Sul antes da Copa de 2010. Na reportagem, cita-se um e-mail no qual o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, fala sobre as negociações entre Blatter e o então presidente do país, Thabo Mbeki. A verba teria sido usada para a compra de três votos, em 2008, a favor da África do Sul para sediar o Mundial. Segundo a Fifa, contudo, a quantia se referia à uma contribuição para o desenvolvimento do futebol na América Central. Isso vai render muito.

Ainda há juízes no Burundi

Cortes Constitucionais e Supremas Cortes existem, basicamente, como formas alternativas de controle do poder, venha ele de onde vier. São instâncias que, baseadas na sabedoria e honradez, previnem a sociedade de seus próprios excessos. O que aconteceu no Burundi ilustra bem isso. "Na minha alma e consciência, eu decidi não colocar a minha assinatura naquela norma, simplesmente pelo fato de que ela é claramente inconstitucional", disse Sylvere Nimpagaritse, vice-presidente da Corte Constitucional do país. Ele se refere à famigerada emenda à Constituição que permitia ao atual presidente da República, Pierre Nkurunziza, concorrer ao seu terceiro mandato. Não fosse a Corte, ele teria conseguido. A tentativa do presidente de esnobar a Constituição fez multidões tomarem as ruas do Burundi exigindo respeito ao documento fundamental. Pressionado, Nkurunziza recusou. Ninguém sabe até quando.

Eutanásia

O debate em torno da eutanásia segue ativo na África do Sul. Vítima de um tumor na pele, e em estágio terminal, o sul-africano Moss gravou um vídeo falando sobre a sua dor e exortando o direito a uma morte digna. Como o caso demorou a ser apreciado pelo Judiciário, ele cometeu suicídio, tomando remédios. Em maio, Robin Stransham-Ford, advogado de 65 anos vítima de câncer da próstata, já havia conseguido uma decisão, mas houve apelação do governo. Há mais cinco casos espalhados pelo país. A palavra final será dada pela Corte Constitucional.

Escravidão no Brasil

Aconteceu, semana passada, na residência do juiz aposentado da Corte Constitucional da África do Sul, Albie Sachs, a histórica cerimônia pela descoberta dos destroços do navio negreiro português São José Paquete África. Em 1794, ele partiu de Moçambique para o Maranhão, quando se chocou em rochas na costa da Cidade do Cabo. Dos cerca de 500 escravos, 212 morreram. Os sobreviventes foram vendidos em 2 dias. Semana passada, na casa de Albie Sachs, em Clifton, diante do local da tragédia, compareceram representantes do projeto, jornalistas e diplomatas. Foi uma oportunidade para reiterar o princípio do "nunca mais". Representando o Brasil, brilhou e nos encheu de honra a vice-Consul do Brasil na Cidade do Cabo, Stela Brandão, que não só fez um discurso emocionante como cantou uma exortação a Iemanjá, cuja representação no imaginário africano é muito forte.