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A hora de executar. Os candidatos que só dependem de si. E os que precisam do tropeço alheio

domingo, 17 de junho de 2018

Atualizado às 11:49

Há seis pré-candidatos à Presidência da República que passam ou roçam o patamar arbitrário de 5% nas pesquisas. Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Álvaro Dias e o "candidato do Lula". Arbitrário porque nada impede um outro nome de arrancar para o segundo turno. Mas o quadro atual é esse, e dele vamos partir.

É possível separar os seis nomes em dois grupos. No primeiro está quem depende essencialmente de si para chegar à rodada final. Estão aqui o "candidato do Lula" e Geraldo Alckmin. Os outros quatro precisam que pelo menos um destes dois erre o suficiente para abrir uma vaga na grande decisão, no mano a mano de 28 de outubro.

A probabilidade de alguém decidir a parada em 7 de outubro não é zero, mas quase. Seis nomes com 5% ou mais fazem uma decisão no primeiro turno estar no terreno da imponderabilidade. Cuidado porém. Como já dito aqui algumas vezes, uma característica do imprevisível é ele ser difícil de prever. Na dispersão atual, se alguém ganha massa crítica pode disparar.

Geraldo Alckmin só depende de si. Ele veste bem a camisa do centro, a mais nova ficção ideológica, hoje hegemônica no universo das narrativas. Eleição não é disputa de fatos, é braço de ferro de histórias. Só quem pode ameaçar Alckmin imediatamente em seu campo é Álvaro Dias, que está atrás. Se o tucano resiste até o início da TV fica em boa situação.

Álvaro Dias precisa que Alckmin não escape, para tentar, quem sabe?, partir de um empate técnico na largada da TV. E daí produzir uma onda. Dias tem sobre os tucanos a vantagem de poder discursar a favor da Lava Jato e não precisar se explicar. Em debates, será uma vantagem e tanto. Mas falta a ele por enquanto tempo de tela. Ter alianças. É seu maior desafio agora.

Já Marina Silva precisa que tudo dê errado para Alckmin e Dias. Precisa que continue a dispersão do centro para a direita e que Bolsonaro não perca substância. Daí a ex-senadora pode tentar atrair o voto útil da direita não bolsonarista na véspera de 7 de outubro. E se conseguir passar ao segundo turno levará com ela o atributo da alta votabilidade.

E Bolsonaro? Seu desempenho até agora é inelástico. Para ir ao segundo turno precisa se manter, o que parece não tão difícil assim, mas também que nenhum dos concorrentes "de centro" cole nele. Porque quem colar pode desencadear uma corrida pelo voto útil, certamente com amplo apoio do establishment, imprensa incluída nisso. #FicaaDica.

Do outro lado da quadra, quem só depende de si é o PT. Mesmo correndo sozinho terá tempo de TV razoável. Se fechar com PCdoB e principalmente PSB ganha mais musculatura e passa um cadeado no Nordeste. As pesquisas dizem que Lula transfere quase tudo, mas mesmo que se dê um desconto o quadro ainda permite razoável otimismo aos petistas.

Para Ciro a coisa é um pouco mais complicada. Ele está bem agora, mas precisa ou ser o "candidato do Lula" ou torcer para que dê errado a operação político-eleitoral de transferir os votos de Lula, e aí herdar o patrimônio. Depender do erro alheio é arriscado. Ciro também corre o risco do isolamento, lipoaspirado de um lado por Alckmin e do outro pelo PT.

A hora é menos de planejar e mais de executar. E quem for melhor nisso agora vai ficar bem na foto.

*

Uma novidade na eleição parece ser a movimentação de pedaços do autodenominado centro por um assim chamado pacto democrático. Pactos pela democracia são comuns, mas este agora ensaiado sofre do mesmo problema estrutural que injetou fragilidade na distensão do presidente Ernesto Geisel e na abertura do presidente João Figueiredo.

Ambos imaginaram um pacto democrático no qual o regime mantivesse a prerrogativa de escolher quem teria ou não o direito de participar do pacto. Difícil de executar com sucesso. Em geral, pactos desse tipo só funcionam quando todo mundo está convidado para a mesa. Foi assim em Moncloa (Espanha) e na Aliança Democrática (Brasil). #FicaoutraDica.

Do jeito que a coisa vai, qualquer um eleito este ano encontrará em 2019 uma oposição concentrada prioritariamente em derrubar o governo. Por enquanto, é o pacto que está no radar.