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"A Faculdade e meu itinerário constitucional" - Malheiros Editores Ltda.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Atualizado em 10 de março de 2008 15:30

A Faculdade e meu itinerário constitucional






Editora :
Malheiros Editores Ltda.
Autor : José Afonso da Silva
Págs : 640





Trata a obra do trajeto do consagrado constitucionalista desde sua infância pobre no interior de Minas Gerais até o alcance do grau de Professor Titular do Departamento de Direito Econômico e Financeiro da tradicional Faculdade de Direito da USP. Não se restringe, no entanto, às reminiscências pessoais. À extraordinária narrativa se acrescentam a história da faculdade e de seus professores, e até mesmo páginas de história do Brasil.

O percurso narrado é sublime e empolgante, pois trilhado com base no esforço individual e na crença no conhecimento como portador de uma vida melhor.

Não foram poucas as dificuldades enfrentadas pelo autor, que ingressou na Faculdade de Direito quando já contava com 28 anos de idade, após uma adolescência e começo de juventude marcadas por exaustivos trabalhos braçais, de padeiro a garimpeiro, antes de aprender o ofício que lhe permitiria vir para São Paulo e fazer o curso superior, o de alfaiate.

Se ao leitor cabe emocionar-se com tão pungente relato, é bom que se diga que nem só de passagens edulcoradas se faz o texto. É com extrema franqueza que o autor esmiúça a qualidade das aulas e a produção acadêmica de cada um dos professores que teve nos cinco anos do curso de Direito, sem poupar críticas abertas a nomes celebrados. Com a mesma coragem escancara intrigas e boicotes de que foi vítima ou que presenciou mais tarde, quando já professor da Casa, nos sucessivos concursos que enfrentou.

Com a tranqüilidade que talvez só assista aos que se sintam agraciados pela fé na democracia, o autor dirige sua voz no sentido contrário ao da maré para apontar os equívocos do legislador que vem emendando a Constituição Federal desde 1995, provocando verdadeira "deformação da obra do poder constituinte originário". A alinhavar todos esses enfoques, a coerência dos posicionamentos adotados pelo autor em toda sua longa e trabalhosa caminhada, verdadeira vitória do livre-arbítrio sobre o determinismo.

No belo ensaio "O direito à literatura" o crítico Antonio Candido afirma que a literatura cumpre a função de nos humanizar, "de confirmar em nós [...] o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres [...]."

Assim se faz na obra em tela. O alfaiate coseu suas memórias, talhou-as, deu-lhes forma bela. A costura foi rigidamente planejada, feita a partir de um molde, como o eram suas aulas, seus livros jurídicos. A guiar o professor, a preocupação ética com os fins a que se devem destinar: a mais eficaz fruição pelos alunos. Obteve êxito o grande mestre, mais uma vez.

[1] CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades / Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004.

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 Resultado :

  • Welson Gasparini Júnior, sócio e advogado do escritório Pasquali Parise e Gasparini Júnior Advogados, de Ribeirão Preto/SP
















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