Dilma x jornalismo

22/9/2014
Pedro Luís de Campos Vergueiro

"Além de dizer uma bobagem, a presidente Dilma Rousseff, pouco sutil mas com clareza, propala sua ideia de querer sufocar e calar a imprensa, tal qual vem sendo feito em outras paragens da América Latina. Fundamentalmente devemos nos lembrar do affair 'Watergate' que teve como resultado final a renúncia de um presidente (de triste memória) da democracia mais estável e respeitada pela população respectiva. Com o objetivo de manter princípios éticos nas campanhas eleitorais, dois jornalistas foram a fundo em suas investigações e deu no que deu: envergonhado e humilhado, Richard Nixon caiu fora por vontade própria e forçada. Ou seja, foi uma renúncia que significou a preservação do decoro e da honradez imprescindíveis para a vida pública democrática de um Estado de Direito, isso como decorrência da extraordinária atuação de dois jornalistas, Bob e Carl. Cabe ressaltar que a elucidação dos fatos que antecederam a renúncia começou pelo vazamento de informações, uma denúncia velada. E no Brasil? Vazar informações segundo a presidente seria uma atitude espúria, quase criminosa; mas, em verdade, não é assim porque, vivendo num Estado de Direito, os cidadãos têm o direito de saber o que anda ocorrendo e sendo feito nos diferentes escalões da administração pública a respeito, especificamente, sobre o trato dado ao dinheiro arrancado, digo, arrecadado dos cidadãos contribuintes. Nunca antes neste país, senão depois do advento do petismo no exercício do poder, cogitou-se tão incessantemente em calar a imprensa, desejo ambicioso que com clareza emana da mais recente declaração da presidente Dilma Rousseff. Que outra coisa ela não pretende ao dizer que 'não é função da imprensa investigar', senão expor sua ideia, até então não muito revelada, de que pretende tolher a atividade dos jornalistas verdadeiramente independentes. E disse mais: 'eu não reconheço na imprensa o status que tem a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo. Não é função da imprensa fazer a investigação; a função é divulgar'. D.Dilma: a população brasileira de bem quer paz, seriedade, transparência, ética, bons modos, a preservação dos bons costumes, etc., na atuação dos poderes públicos. Dizem que corrupção é uma característica da vida pública brasileira e que não teria remédio. Se assim pode ser que seja; todavia é preciso mudar essa tendência, o dito atavismo dessa tendência. É preciso extirpar a corrupção da vida pública brasileira. E o caminho muito eficaz e muito eficiente para tanto é o jornalismo, mais especificamente a atividade jornalística investigativa, independente e desvinculada, que desenvolve com muito afinco a busca da real natureza dos fatos que transtornam a cidadania. Não é reservando o status da investigação à Polícia Federal ou ao Ministério Público - o Supremo Tribunal Federal não tem essa atividade institucional - que os cidadãos vão se sentir plenamente seguros que haja lisura na condução das coisas e negócios públicos. Investigar, decididamente, é atividade inerente do jornalismo. Aliás, é atividade de todos como decorrência dos direitos decorrentes da cidadania e do seu regular exercício. Fazer jornalismo não é informar apenas - divulgar como aspira a presidente da República. Fazer jornalismo é investigar e divulgar o que foi investigado. Se a conduta dos agentes públicos fosse plenamente confiável, como o é de muitos, os que se afastam da devida confiabilidade devem ser buscados por toda atividade investigativa: se no seio da administração pública essa atuação, a partir da instauração de um procedimento administrativo comumente é lerda em razão do excesso de burocracia, no âmbito do jornalismo é diferente, pois no exercício da cidadania o jornalista vai a fundo em busca do que é real e que está obrigado, por dever de ofício, a informar. Por seu lado, a afirmação da presidente Dilma, enfim, não revela outra coisa senão seu desespero de causa porque está com a popularidade em baixa e aí estagnou."

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