Jovem aprendiz

28/8/2016
José Renato M. de Almeida

"Há uns 20 anos, teve início a campanha para evitar que menores fossem explorados em trabalho escravo ou coercitivo. As fotos de crianças trabalhando em carvoarias, canaviais e na quebra de castanha-de-caju comoveram a todos, resultando na decisão de que criança e adolescente devem estar na escola para brincar, aprender e, no futuro, ter uma profissão. Que não lhe é permitido aprender na prática desde cedo. Desapareceu de vez a figura do aprendiz que acompanhava o mestre em seu trabalho, executando pequenas tarefas e absorvendo a arte da profissão. Esse efetivo aprendizado junto ao artífice - praticado desde o início da humanidade - atualmente é considerado trabalho infantil ilegal ou como exploração de menor. E as consequências disso passam despercebidas para nós outros. Depois da campanha e da elaboração do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), o jovem que como todos nós, tem a necessidade de realizar algo concreto, está impedido de praticar qualquer atividade profissional que lhe atraia e fascine. A não ser que seja uma profissão 'especial' que pode ser exercida sem qualquer impedimento, tipo: modelo, jogador de futebol, apresentadora, dançarina, ator, cantora, escritor, músico. Essas atividades, nunca são consideradas como trabalho coercitivo e são invisíveis quanto ao trabalho escravo. Mas os criminosos e traficantes estão aí para dar às crianças e adolescentes oportunidades de realização no grupo, como: olheiro, mula, 'bróder', namorada de bandido, prostituta e - talvez a mais atraente - 'soldado do tráfico', tão exaltado pelos repórteres policiais. Há realização e orgulho maiores do que ser soldado aos 13 anos? Na busca de realização, os jovens vêm sendo jogados por nós nas mãos dos bandidos, por impedimento ao trabalho e sustento lícitos. Podemos mudar isso. Um jovem de menor, com a anuência do engenheiro, encarregado e dos operários, entrava escondido pelos fundos de uma obra realizada por grande construtora baiana. Era um risco, caso fosse flagrado trabalhando ali. Foi assim, trabalhando, que ele ganhava o suficiente para sustentar a ele e aos familiares. Hoje é engenheiro dessa mesma empresa."

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