Lava Jato

24/10/2016
José Renato M. de Almeida

"Um artigo do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, na Folha de São Paulo, com o título pretensioso de 'Desvendando Moro', repercutiu na mídia semana passada. Não porque o autor compara o juiz Sergio Moro com o frade dominicano Girolano Savonarola, chamando a ambos de 'justiceiros messiânicos' - personagem de triste memória que aterrorizou a cidade de Florença, na Itália do século XV, na condução de um tribunal da Inquisição - mas por causa de uma carta enviada à Folha pelo juiz Moro. Nela Moro chama atenção àquele jornal por veicular artigo com ameaça de morte à sua pessoa. Ocorre que o professor Rogério Leite, após expor as crueldades do inquisidor Savanarola, relembra do triste fim que levou. Condenado pela Igreja foi enforcado e seu corpo queimado. E encerra seu artigo dizendo: 'Cuidado, Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira'. Essa ameaça, típica de mafiosos, passou em branco. Na Bahia de governadores e ministros já na fila da Lava Jato, o que foi ressaltado pelo colunista Elio Gaspari no Correio de (16/10/16) e, posteriormente, pelo editorial de A Tarde (22/10), foi a parte da carta em que o juiz Moro considera que não deveria ser acolhido à publicação, um texto que venha 'sugerir atos de violência contra o ora magistrado'. As palavras de imediato repúdio de Moro à opinião panfletária do artigo, que visa colar no coordenador da Lava Jato a pecha de juiz cruel e prepotente, foram consideradas pelos defensores dos investigados, julgados e condenados por Moro e por outros magistrados, como uma tentativa de censura semelhante a que existiu durante a Ditadura Militar! Elio Gaspari infere no último parágrafo de seu texto que 'A contrariedade de Moro produziu uma surpresa: que há algo de Savanarola no seu sistema'. Inacreditável a capacidade de análise do colunista visto que o 'sistema' utilizado pelo juiz Moro é o do Judiciário brasileiro baseado na Constituição, aplicado da forma mais transparente, lúcida jamais vista a ponto de apesar de todas as interferências sinistras contra a Lava Jato, ela vem recolhendo um a um os criminosos atrás das grades e recuperando bilhões de reais roubados - seja na política, na empresa privada ou nas instituições republicanas. Essa Justiça constitucional praticada por Moro é o fiel cumprimento das leis, que não se confunde com "intolerância moralista", como rotula Rogério Leite. Já o jornal A Tarde demorou alguns dias para ser convencido a repercutir a carta de Moro. Em compensação, redigiu editorial recorrendo com presteza ao artigo 5º da Constituição Federal, para condenar a opinião de Moro à redação da Folha: 'É livre a manifestação do pensamento; é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação independente de censura'. E mais adiante junta os dois textos constitucionais que deixa à mostra a verdadeira intenção do editorialista ao escrever que - nada mais fez o jornal (FSP) do que cumprir, à risca, o que estabelece a Lei Maior: permitir a 'manifestação do pensamento', 'independente de censura'. Quem tem mais de dois neurônios funcionando percebe a forma tendenciosa e pouco jornalística usada nesse e em outros trechos do editorial enjambrado. Critica a opinião de Moro expressa na carta e sugere que, no caso de se sentir ofendido, o caminho é processar o autor conforme a lei. Que se processe, mas nada impede de que seja dada de imediato uma resposta ao agressor e satisfação aos leitores através do mesmo veículo, dando-lhe oportunidade a uma retificação. Como se vê, os membros da organização criminosa instalada nos poderes da República continuam usando e abusando de qualquer coisa para distorcer e confundir a opinião pública, com o único objetivo de insultar, provocar, desqualificar e desconstruir a reputação que o juiz Sérgio Moro tem aqui e no mundo. Ainda mais, quando se é conselheiro de editoria da Folha, como é o caso do professor Rogério Cerqueira Leite! Entretanto, os profissionais da imprensa, jornalistas e cidadãos de bem sabem que é o trabalho corajoso e competente da força-tarefa da operação Lava Jato, coordenada pelo juiz Sérgio Moro, que permite termos hoje esperança de, finalmente, remover das governanças e das instituições republicanas os canalhas criminosos que saqueiam o país e infelicitam o nós, povo brasileiro, há décadas."

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