A Justiça e os poetas

19/11/2017
Vadim da Costa Arsky

"Desliguei a TV, com uma sensação de perplexidade! Não conseguia entender a sanha feroz com que a 'mídia' estampa diuturnamente cenas de prisões, invasões policiais de domicílio com apreensão de objetos pessoais, detalhes do encarceramento, tudo isso autorizado judicialmente com base em suspeições levantadas por criminosos confessos em busca de benesses de uma delação premiada. Lembrei-me então do saudoso mestre de Direito Penal da 'Velha e Sempre Nova Academia do Largo de São Francisco', professor catedrático Joaquim Canuto Mendes de Almeida, que, invariavelmente, citava em suas aulas o compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues com a frase do seu famoso samba Segredo: 'Primeiro é preciso julgar, pra depois condenar'. Assistindo porém essas sucessivas agressões ao devido processo legal que abalam ainda mais o nosso já capenga Estado de Direito ao estimular pela 'mídia' a condenação da sociedade antes do julgamento da Justiça, desconfiei que os juízes que autorizam essas incursões ao estilo GESTAPO, NKVD, CIA e similares, certamente não devem gostar de samba. Como corolário, conclui com o compositor baiano Dorival Caimi : 'Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé'. Acho que é por isso que as Arcadas da Academia tem gravados na pedra os nomes de três poetas e de nenhum juiz!"

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