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Política e Economia NA REAL n° 253

terça-feira, 16 de julho de 2013

Atualizado em 8 de julho de 2013 13:44

Em busca da legitimidade perdida - 1

Como se sabe a legitimidade política de um governo ou de um líder não se confunde com a legitimidade formal. Factualmente, o conflito entre as duas formas de aquisição de legitimidade diminui a previsibilidade, fator essencial à calma política e aos negócios prósperos. A existência de mandato fixo presidencial torna esta questão ainda mais complexa. No parlamentarismo, a perda de legitimidade política normalmente não convive com a mera permanência da formal. Não existindo no presidencialismo a saída da "queda do gabinete" a crise tende a prosperar por mais tempo e depende ainda mais da liderança política presidencial para recuperar sua legitimidade. O presidente precisa encontrar e promover perante o corpo social o "fato novo" para tornar a sua legitimidade política novamente associada à formal, seu mandato legal. Caso contrário, o líder e seu governo perdem a capacidade de engendrar novas (e positivas) expectativas, estas que na política só florescem depois de criados os fatos (e não o contrário, como ocorre no caso dos agentes econômicos que agem em função das expectativas).

Em busca da legitimidade perdida - 2

O momento político brasileiro é especialmente "perigoso". Não que se vislumbre uma ruptura institucional, muito embora o "amadurecimento democrático e institucional" do país seja bem menor que aquele apregoado pelos "formadores de opinião". O que estamos a discutir é a elevada probabilidade de que o governo Dilma Rousseff se veja enquadrado na categoria de "morto-vivo", incapaz de produzir fatos e expectativas tão necessários à sociedade, em geral, e à economia em particular. Alguns dos sintomas são preocupantes e estão a se agigantar : (i) a falta de sintonia enorme entre o sentimento das elites políticas e o do cidadão que trabalha e paga impostos. Os episódios de uso ilegal ou imoral (ou ambos) de aeronaves pelos presidentes do Senado e da Câmara são o retrato exemplificativo da ausência de sintonia entre eleitos e eleitores, quiçá seja, até mesmo, pouco caso com a opinião pública; (ii) a credibilidade das instituições está obscurecida pelos seus representantes. Exemplo disso é o espaço excessivo que ocupa o presidente do STF e o espaço diminuto ocupado pela classe política no seu conjunto. Além da pálida figura que se tornou a presidente da República, os sindicatos, as associações de classe e por aí vai; (iii) a deterioração das expectativas econômicas : pela nona semana seguida "o tal do mercado" aponta para queda da atividade e inflação alta (ainda que não seja mais crescente), baixo nível de investimentos, apenas para citar alguns exemplos.

Em busca da legitimidade perdida - 3

Em meio a este cenário, a presidente se acanha. Mostra-se, pelo menos por enquanto, cerceada de problemas sem trabalhar nas soluções. Ademais, seus conselheiros contribuem para jogá-la em mais ares turbulentos (algo detestado pela presidente quando no seu avião). Vejamos. Aloizio Mercadante, ministro de múltiplas funções, conhecido no Congresso pela imagem antipática e arrogante, lança ideias ("fatos novos") necessitadas de robusta articulação política e naufraga com elas sem conhecer alto mar e em poucas horas ou dias. Michel Temer, o vice-presidente poeta e político (como Sarney foi um dia), mais parece empenhado em desarticular o governo e pegar a bússola política para saber qual é o próximo lance que desfechará para se manter bem no retrato - será uma espécie de "síndrome de Dorian Gray" na política ?; Consta do habitual bate-papo congressual com a imprensa que Guido Mantega ambiciona ser mais longevo no cargo que alguns antecessores (Malan e Delfim). Não se sabe se é verdade. Todavia, sua política é que não pode ser longeva, por uma razão simples : simplesmente é incapaz de manter em ordem as coisas ordinárias (contas públicas, inflação, etc.) e nos eventos extraordinários é simplesmente incapaz politicamente, em parte pela própria postura "ministerial" da presidente que tudo quer saber e nada delega. Como se vê, o palco parece pouco ofertado de atores para uma boa cena.

Em busca da legitimidade perdida - 4

A partir da análise das variáveis acima relacionadas, o que se vê é um cenário que nos leva a concluir que não é vasto o "espaço político" para se alterar as tendências estruturais da política e da economia. Nessa ordem diga-se, mesmo porque na economia não há nenhum problema que seja implacável para suscitar as piores expectativas - o que falta mesmo é competência para começar a trabalhar na direção correta, apesar de seus prováveis resultados serem colhidos apenas no próximo mandato presidencial. Mas... a política... bem... Esta nos joga num vazio que carcome a legitimidade, torna incerta a coalizão de apoio ao atual governo, resgata velhos atores (Lula e FHC) e não serve sequer à pálida oposição (sem projeto e sem credibilidade). Restará, ao que parece, a expectativa sobre os próximos fatos sociais, estes que simplesmente não sabemos quais serão. Vejamos as notas a seguir para verificarmos se não é esse mesmo o vento que sopra.

De terrorismo e terroristas

Da presidente Dilma Rousseff em discurso no complexo da Rocinha, RJ, no dia 14 de junho : "Críticas, todo mundo tem de ter a humildade de aceitar. Agora, terrorismo, não. Fazer estardalhaço e terrorismo informativo sobre a situação do Brasil, não". E agora, depois do IBC-Br de menos 1,4% (espécie de prévia do PIB) de maio, Dilma vai acusar o BC de terrorismo ?

O "novo" sindicalismo em concordata - 1

É desses paradoxos que nem a política explica e que a razão desconhece : depois do fiasco (pela grandiosa adesão esperada pelos organizadores) do Dia Nacional de Luta, quinta-feira passada, percebe-se que o novo sindicalismo brasileiro, batizado de autêntico, nascido com Lula e os movimentos no ABC paulista em fins dos anos 1970, está a morrer, vítima do lulismo. É inegável que a CUT, Força Sindical, CGT e outras centrais sindicais menos votadas, mais "companhias belas" como UNE e MST, esperavam levar às ruas no dia 11 multidões bem maiores que as cerca de 100 mil pessoas que a elas compareceram pelo Brasil inteiro. Sem organização visível, sem estrutura, sem líderes tarimbados, sem carros de som e microfones, os "indignados" brasileiros de junho reuniram um milhão e meio de cidadãos também numa quinta-feira, semanas atrás.

O "novo" sindicalismo em concordata - 2

Falharam os pentecostais do trabalhismo oficial e seus penduricalhos basicamente por três razões :

1. Afastaram-se de suas bases, imantados que foram por verbas oficiais do imposto sindical e de financiamento às organizações "não-governamentais 'governamentais'" que começaram a recolher milhões nos últimos anos, graças às generosidades brasilienses. Perderam garra. O MST é a melhor prova disso.

2. Estão com um discurso defasado, antiquado para uma sociedade que mudou muito, política e socialmente, no último caso em boa parte graças às políticas de renda do lulismo.

3. Tornaram-se extremamente semelhantes aos partidos políticos aos quais indiretamente estão ligadas. Neopeleguistas, se quiserem sobreviver só lhes resta se reinventarem, assim como Lula inventou o sindicalismo moderno brasileiro mais de 30 anos atrás.

Leia mais em "Vocês não estão agradando" - José Márcio Mendonça - (Clique aqui)

Ilusão à toa

Na surdina, mas não de todo modo disfarçado, Dilma, Lula e o PT namoram com o Dia Nacional de Luta. Cada um a seu modo, imaginava utilizar o que se pensava ser uma demonstração de força e liderança do sindicalismo oficial organizado, para retomar o "controle" das ruas e colocar o Congresso Nacional na defensiva, livrando-se da parte que cabe a eles no latifúndio das cobranças que explodiram nas "revoltas de junho". Foi sonho de uma noite de inverno.

Padrões mentais do passado

Nada soa mais antiquado e irrealista do que interpretar a "revolta de junho" pelas velhas categorias da análise política, a chamada "esquerda versus direita". Lula chegou até a instar os movimentos sociais a não deixarem as ruas para a "direita". Se a interpretação for só um discurso para embalar "militantes", nada demais. O problema é se o julgamento for mesmo uma convicção : pode levar a reações e respostas equivocadas. Afinal, Lula, entre outras coisas, é o conselheiro-mor do Palácio do Planalto para qualquer assunto.

Frouxos de riso

Definitivamente, o fracasso subiu à cabeça das centrais sindicais depois das ruas quase às moscas na quinta-feira passada. Elas agora estão ameaçando com uma "greve geral", inicialmente no dia 30 de agosto, se a presidente Dilma Rousseff e o Congresso Nacional não atenderem as reivindicações delas até esta data. Como diria Eça de Queirós depois da demonstração de liderança e capacidade de aglutinação de trabalhadores das centrais (e de seus penduricalhos e patrocinadores), o Palácio do Palácio deve estar "frouxo de riso".


Gangorra no Planalto Central

Em tempos de desarranjo político como os que vivem agora o governo Dilma Rousseff, os partidos da base aliada e o Congresso Nacional, o primeiro esporte nacional é especular sobre uma possível reforma ministerial e sobre o balanceamento do poder na República, quem está prestigiado (de fato) e quem perde pontos. Estas são algumas cotações de momento no Planalto Central, a primeira coluna indicando quem caiu e a segunda indicando quem está subindo ou pode subir, segundo a percepção das raposas Federais do mundo político - ninguém como elas sabem que gabinetes frequentar :

- 38 ministros - Aloizio Mercadante

- Ideli Salvatti - qualquer político que não seja de oposição

- Michel Temer - Michel Temer

- Dilma Rousseff - Lula

- Bernardo Figueiredo - Arno Agustín

- PT - PMDB

- João Santana - Franklin Martins

- Guido Mantega - enorme espaço em aberto

Isto não significa que os em baixa no momento serão substituídos em algum momento, como quer uma parte dos aliados com Lula em relação a Dilma. Nem mesmo que haja agora uma reforma ministerial, como alguns acreditam que poderá ocorrer até o fim do mês. Significa apenas que as panelas de fritura em Brasília estão ligadas em fogo alto e sem óleo.

Dilma e seus amigos

O presidente licenciado (e de fato) do PMDB, o vice-presidente Michel Temer está submetendo os deputados do partido em Brasília a um extenso questionário para medir a temperatura de turma em suas relações com o governo Dilma e os aliados, principalmente com o mais estridente deles, o PT. No rol das questões há uma intrigante para quem se diz aliado preferencial da presidente e aspira manter a coligação e o cargo de vice na recandidatura no ano que vem : "Você apoiaria a reedição da chapa Dilma-Temer para a eleição presidencial de 2014?". Num diapasão não muito diferente, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, do grupo do presidente Lula na legenda e em busca da reeleição para o comando partidário, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" deixou escapar uma dúvida inusitada para o encarregado de organizar os palanques da presidente no ano que vem : "Ninguém sabe hoje quem apoiará Dilma em 2014". Em Brasília, os ouvidos mais atentos já registram o som de petistas de renome se referindo ao "governo Dilma" e não mais ao "nosso governo", como orgulhosamente denominavam a gestão da presidente até pouco tempo atrás. Vale a velha boutade : com amigos assim, Dilma não precisa de adversários na oposição.

Leia mais em "As vozes roucas do lulismo" - José Márcio Mendonça - (Clique aqui)

Os tropeços da oposição

Nem só Dilma Rousseff em sua cruzada pelas urnas de 2014 está às voltas com os "muy amigos" que vicejam a seu lado. Os adversários também.

1. Eduardo Campos, apesar de todo o esforço, ainda não conseguiu sensibilizar os irmãos Gomes, os governadores da legenda e nem mesmo o vice-presidente do PSB para sua candidatura. No máximo, com a queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff alcançou uma trégua.

2. Aécio Neves viu ressuscitar o fantasma da candidatura José Serra, com aparelhos respiratórios ligados depois que uma pesquisa divulgada dias atrás apontou que o ex-governador paulista tem melhores índices de intenção de votos que o ex-governador e senador mineiro.

3. Marina Silva, se não está com nenhum inimigo dentro de casa desde que desistiu do Partido Verde ainda não conseguiu organizar alianças que lhe garantam um tempo maior na propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na televisão.

E olha que o problema mais grave da oposição não é nem mesmo essas divergências. O pior mesmo é a falta de ideias novas, práticas verdadeiramente factíveis, para enfrentar as dificuldades atuais do país. Se tem algo, além das críticas óbvias, estão escondendo tão bem que ninguém percebe. Assim, Dilma está ganhando tempo para tourear seus próprios demônios.

EUA aumentam a tração, Brasil perde

No Brasil, com as ruas mais quietas e com o BC agindo para conter a alta dos preços (também contida pela queda da atividade durante os protestos), os investidores ficaram mais calmos. Volatilidade em queda, preços dos ativos em alta. No cenário internacional dois são os destaques : (i) do lado positivo, os EUA persistem com indicadores cada vez mais positivos, mostrando que a atividade econômica sobe consistente e significativamente. Os resultados corporativos do segundo trimestre do ano estão aderentes aos indicadores macroeconômicos ascendentes, o que reforça a visão otimista para o mercado acionário daquele país; (ii) já a China transpira que a atividade econômica vai cair ainda mais e não está claro se este cenário estrutural levará a um crescimento inferior a 5%-6%. Como se sabe, o Brasil, com seu comércio de US$ 40 bilhões com a China, torce para que a queda da atividade econômica chinesa seja apenas pontual e nada intensa. Nesse momento em que o crescimento doméstico naufraga por conta da crise política e pela inércia governamental, o Brasil poderia, ao menos, contar com uma China mais comportada.

Em momentos de otimismo fixe o olhar nas tendências

Como temos seguidamente informado aos nossos leitores permanecemos negativos em relação à economia brasileira e ao desempenho dos principais segmentos do mercado financeiro. De um modo geral, acreditamos que o mercado acionário permanece caro e sem perspectivas positivas no curto prazo. O destino dos investidores é o mercado norte-americano. De outro lado, a taxa de juros básica deve subir mais um pouco, mas não será capaz de debelar a taxa de inflação elevada (ao redor de 6% para este ano), apesar da fragilidade da atividade econômica - acreditamos num PIB mais para 1% que para 2% neste ano. A vedete do mercado financeiro deve ser a moeda norte-americana, claramente em tendência de alta e carregando benefícios (exportações) e malefícios (inflação). Neste cenário, obviamente haverá momentos de otimismo : assim ocorrendo é hora de se desfazer de posições ruins e não alinhadas com as tendências estruturais. A pior coisa que pode ocorrer é permanecer "torcendo" para que a tendência daquele segmento de mercado reverta a favor da posição de investimento. Torcida é bom no campo de futebol e não no mercado financeiro.

Radar NA REAL

12/7/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável/alta
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3068 estável baixa
- REAL 2,2257 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 45.533,24 baixa baixa
- S&P 500 1.680,19 estável/alta alta
- NASDAQ 3.600,08 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). 
(2) Em relação ao dólar norte-americano 
NA - Não aplicável

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