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Porandubas nº 307

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Atualizado em 28 de fevereiro de 2012 10:25

"Foi o que me valeu"

Carlos Pedreira, advogado e engraçado, entra no relato engraçado de Leonardo Mota, no Tempo de Lampião, lá no Nordeste. A passagem é esta :

Certa vez, passei a atuar num processo de desquite. Como esses processos são sempre escandalosos, interferi suasoriamente junto aos cônjuges, a ver se os reconciliava. Consegui um entendimento de ambos. A esposa era uma jararaca velha ciumenta. Feia e desdentada, casara-se em segundas núpcias com o meu constituinte. Atendendo ao meu pedido para que dissesse francamente as razões que a levavam a desquitar-se, ela não hesitou :

- Doutor, eu não aguentei ingratidão do finado, quanto mais deste ! Felizmente, o defunto meu primeiro marido está hoje prestando contas a Deus das noites e noites que me fez passar em claro. Agora, faz seis mês que eu estou casada com este cidadão. Os primeiros três mês viveu-se em paz. Ele tratava de me agradar e eu a ele. Mas, de certo tempo pra cá, este homem se desencabeçou, pensa que eu sou peixe podre, se esqueceu que é casado comigo, virou oficial de varruma (conquistador) e vive espalhando o sacramento pela rua..( prevaricando..).

- Mentira sua ! Exaltou-se o acusado. E como prova de que cumpria os seus "deveres", e procurando desabotoar a camisa :

- Inda na semana passada você deu-me uma dentada aqui no peito, que eu não sei como não me arrancou um chaboque... Está aqui a roncha !

- É menos verdade ! Titubeou ela, mostrando as gengivas. É menos verdade : a prova é que eu nem dente tenho...

Ele pôs levemente a mão sobre o peito equimosado e resmungou :

- Foi o que me valeu...

Serra, ufa, saiu do muro

Até que enfim, José Serra decidiu encarar a realidade. Não tinha alternativa melhor que a de entrar no páreo paulistano. Elenco as seguintes razões : o ciclo Serra de Vida Política não aguentaria mais uma esticada no limbo até 2014. Sem poder e sem visibilidade, chegaria trôpego e com a fala engrolada no ano do pleito presidencial. A eleição paulistana fecha o ciclo da polarização PT versus PSDB. Mas essa polarização só ocorreria com Serra candidato para disputar com Fernando Haddad. Nenhum outro candidato tucano teria cacife para ser competitivo.

Apoio e visibilidade

Serra conta com o apoio de duas máquinas, a da prefeitura, comandada por Kassab, e a do Estado, comandada por Alckmin. Serra tem alta visibilidade e já entra na disputa carregando uns 25% de intenção de voto. Tem ele uma rejeição alta - 33% - mas pode diminuí-la ao correr da campanha. Experiente, conhece os problemas de São Paulo mais que outros. Ademais, FHC e a cúpula tucana já avisaram que o candidato tucano, em 2014, para enfrentar Dilma é Aécio Neves. Portanto, ante a melhor alternativa, Serra desceu o muro.

O novo quadro

Diante da moldura que se estabelece com a decisão de Serra, é possível fazer as seguintes projeções : um segundo turno envolvendo Haddad e Serra, em campanha polarizada; a estrutura das máquinas - municipal e estadual - tende favorecer a candidatura tucana; Serra tentará comer o prato do centro para as bordas, ou seja, das classes médias para as margens sociais; Haddad, sob o império carismático de Lula, tentará comer a sopa das bordas para o centro, ou seja, tentando fisgar o eleitorado de Marta Suplicy e, vir com ele, das margens para o centro. O PT começa com seus 30% históricos de votos. Mas sua decolagem carecerá de mais alguns pontinhos.

Nacionalização ?

A questão é : com a entrada de Serra, a campanha será nacionalizada ? Este consultor tende a apostar que poderá, sim, ser nacionalizada, até porque a entrada de Lula na arena contribuirá para essa ideia.

Táticas de guerra

"Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e esmague-o. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado".(Sun Tzu)

Chalita no meio

Mas há a candidatura de Gabriel Chalita, pelo PMDB, que não pode ser desprezada. Chalita é carismático e junta um voto fiel de parcela importante da Igreja Católica. Terá um bom tempo de TV e rádio, mais de quatro minutos, e expressa um discurso de renovação. Poderá, portanto, fazer barulho. Seu desafio : quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Se não entrar no segundo turno, fechará posição com Haddad. Neste caso, o petista contará com a maior parcela do eleitorado de Chalita. Claro, nem todos os eleitores deverão entrar na corrente, pois há, em São Paulo, forte onda contra o petismo. A partir das classes médias.

D'Urso

Na telinha estará também a imagem de Luiz Flávio Borges D'Urso, candidato do PTB, que poderá surpreender nos debates. D'Urso é bom de embate. Se tiver um tempinho razoável de TV, pode crescer.

Renda mínima

"As rendas mínimas asseguradas aos cidadãos que não trabalham podem fazer com que grupos sociais inteiros caiam em um alçapão de pobreza por inatividade, de onde terão as maiores dificuldades de sair. E assim se reduz a oferta de trabalho". (Majnoni D'Intignano)

PSB com Haddad

O PSB do governador Eduardo Campos deverá formar aliança com o candidato petista. Lula e Campos são muito amigos e conservam uma admiração recíproca. Mas há um imbróglio : Marcio França, que comanda o PSB estadual, é secretário de Turismo do governo Geraldo Alckmin. Será que se curvará à orientação/determinação do governador Eduardo Campos ? Há, como se pode depreender, muita interrogação no ambiente pré-eleitoral.

PC do B e PR

O PT quer atrair, ainda, o PC do B, o PR e outros partidos que compõem a aliança governista na área Federal. O PC do B tem Netinho de Paula, o cantor e vereador, como pré-candidato a prefeito. O PR é o partido de Paulo Maluf. Seria interessante Maluf no palanque de Haddad, ao lado de Lula e Marta Suplicy. Como o pleito deste ano é o do samba do crioulo doido, Maquiavel faz o patrocínio.

Dilma virá ?

Claro, a presidente Dilma, convocada por Lula, deve aparecer para dar um abraço em seu candidato Haddad. Mas, como ela própria já anunciou, não gastará sola de sapato com os contendores, porque na maior parte dos 5.564 municípios os candidatos pertencem à base governista. Agradar a um significará desagradar a outro. A exceção deverá ser São Paulo. Trazida pela batuta do Papa Lula.

PSD de Kassab

O PSD do prefeito Gilberto Kassab terá papel importante no cenário político. O fato de apoiar Serra, em São Paulo, não implicará uma teia de apoios aos tucanos em outros espaços. Kassab tem sido muito claro : esse apoio se restringe a São Paulo. Até porque a tendência do partido é a de vir a integrar a base governista, logo após o quadro eleitoral. O PSD lutará para eleger 500 prefeitos. Com uma bancada de 53 deputados, terá cacife suficiente para influir no processo legislativo. Kassab pisca com um olho para o norte e, com o outro olho, para o sul. Um dos mais hábeis articuladores da política nacional.

Centrais e empresários

A FIESP promoveu, nesta segunda-feira, um encontro/almoço entre Centrais Sindicais e empresários. O motivo : debater a desindustrialização em marcha no país. Em torno de uma comprida mesa, dirigentes de entidades sindicais e industriais expressaram sua indignação com a falta de sensibilidade do Governo Dilma para com os setores produtivos. Paulo Skaf deu o tom dos discursos. Mostrou como o país está estrangulando seu parque industrial. A contrariedade se dirigia também ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que prometera comparecer ao encontro e, na última hora, deu o cano. Por que Pimentel não apareceu ? Cochichos : desprezo por São Paulo; falta do que dizer aos participantes; medo de ser foco de grande indignação (e foi mesmo); veto da presidente Dilma à sua presença na FIESP.

A lição de Lincoln

"Não criarás a prosperidade se desestimulares a poupança. Não fortalecerás os fracos, por enfraquecer os fortes. Não ajudarás o assalariado, se arruinares aquele que paga. Não estimularás a fraternidade humana, se alimentares o ódio de classes. Não ajudarás os pobres, se eliminares os ricos. Não poderás criar estabilidade permanente, baseada em dinheiro emprestado". (Lincoln)

Dados contundentes

Sindicalistas e empresários cantaram a mesma música : o Brasil está patrocinando milhares de empregos no exterior. O presidente da Marcopolo, gigante da fabricação de ônibus, exibiu dados contundentes : a hora trabalhada em sua fábrica, na Índia, é de R$ 12,00; no Brasil, é de R$ 54,00. Essa tende, dentro de poucos anos, a ser a maior fábrica do grupo. E desfilou o rosário de contas negativas, que termina na nossa logística, que cunhou com o adjetivo : "podre".

Pano de fundo

A presidente Dilma Rousseff dá visíveis demonstrações de desconsideração à maior Federação de Indústrias do país, FIESP. Diferentemente de Lula, que sempre visitou a entidade, quando convidado, Dilma é indiferente aos convites para encontros com empresários na avenida Paulista. Parece ter optado por uma aliança tática com a Federação de MG e com o mineiro Robson Andrade, que dirige a CNI. Em suma, Minas faz a cabeça (e o coração) da presidente. Fernando Pimentel, amigo dileto da mandatária, dá sinais de que a FIESP não existe em seu sistema cognitivo.

PDT em chamas

O PDT parece um partido em chamas. Paulinho, da Força Sindical, diz que será candidato a prefeito de São Paulo. Mas pode vir a apoiar José Serra. Ou não ? Depende. Depende de quem será nomeado ministro do Trabalho. Se for alguém de sua ala, poderá debandar para o lado de Haddad, em São Paulo. Se não for, baterá cabeça com o governo e com o PT em São Paulo. Lupi, por sua vez, espera que o ministro seja alguém de sua confiança. Não pode ser o deputado Vieira da Cunha ou Brizola Neto. Se for Vieira, Paulinho garante que pulará para a oposição. Ninguém sabe para onde a sigla caminhará.

Base da Antártica

A base brasileira na Antártica foi destruída por um incêndio. Pesquisas de 30 anos foram destruídas. Retrato brasileiro do desleixo e displicência.

Marketing de campanhas

Este consultor, ancorado em sua vivência, chama a atenção para o planejamento do marketing das campanhas. Senhores candidatos e assessores, atentem para estas abordagens : 1) priorizem questões regionalizadas, localizadas, na esteira de um bairro-a-bairro, ou seja, façam a micropolítica; 2) procurem criar, logo, logo, o diferencial de imagem, elemento que será a espinha dorsal da candidatura, facilmente captável pelo sistema cognitivo do eleitor; 3) desenvolvam uma agenda que seja capaz de proporcionar "onipresença" ao candidato (presença em todos os locais); 4) organizem uma agenda contemplando as áreas de maior densidade e, concentricamente, chegando às áreas de menor densidade eleitoral; 5) eventos menores e multiplicados são mais decisivos que eventos gigantescos e escassos; 6) despojamento, simplicidade, agilidade, foco para o essencial, mobilidade, propostas fáceis de compreensão e factíveis - eis aí um ligeiro escopo de conceitos-chave.

Maia e Garotinho

Cesar Maia e Anthony Garotinho formalizaram a aliança entre PR e DEM. Minha velha mãe, Chiquita, sempre me lembra : "meu filho, nunca diga : desta água não beberei".

Porandubas populares

Pois é, esta coluna Porandubas Políticas tem a satisfação de registrar a peça Porandubas Populares ou Paulicéia Desvairada, de Carlos Queiroz Telles. Misto de teatro de revista, circo e ópera-rock. Ora, Porandubas é isso mesmo, coisa como fragmentos. Vivem perguntando a este consultor : o que significa Porandubas ? Digo : em tupi guarani, quer dizer notas, notícias curtas, flashes, fragmentos de texto, pílulas.

O nome dos ministros ?

Pequeno teste : quem é capaz, agora mesmo, de citar sete ministros do governo Dilma ? Até o final deste texto, procure se lembrar. Num regime presidencialista forte, como o nosso, e ainda por cima controlado com mão de ferro, sob o regime do medo, ministro que aparece muito tem a língua cortada. Bom, chegamos ao final. E os cinco ministros ? Lembro : há 37 ministros.

Mais que uma rosa

"Quero ser algo mais que uma rosa na lapela de meu marido" (Margaret Trudeau, então casada com o primeiro ministro do Canadá, Pierre Trudeau)

Conselho a José Serra

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos foliões. Hoje, sua atenção se volta à José Serra :

1. Não perca tempo. Alinhe o discurso, com abordagens convincentes, para justificar sua decisão de ser candidato, depois de tanto tempo indefinido.

2. Desta feita, evite coisas espalhafatosas, como registro em Cartório com o compromisso de permanecer até o final da administração, caso seja eleito. Uma vez, é aceitável. A segunda vez, mesmo sob o colchão da sinceridade, ninguém vai aceitar. Lembraria o compromisso não cumprido.

3. Tente usar a experiência para estabelecer seu diferencial. E administre sua conhecida índole de auto-suficiência, arrogância e superestima. Os olimpianos também despencam dos céus.

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