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Porandubas nº 385

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Atualizado às 07:50

Takachi e o povo

Lá das bandas do PR vem a historinha de Jorge Takachi, japonês simpático, generoso e afável, muito querido. Decidiu ser candidato a prefeito de Nova Esperança. A oposição começou o tiroteio. Takachi é isso, Takachi é aquilo. O candidato não aguentou. E desabafou no palanque :

- Jorge Takachi bom para a cidade, né ? Constrói hospital, dá dinheiro para igreja, ajuda pobre, paga feira dos outros. Povo diz : Jorge Takachi muito bom; Jorge Takachi muito querido. Jorge Takachi candidato prefeito, ai povo diz : Jorge Takachi filho da puta. Assim, Jorge Takachi não entende povo.

Risadas gerais na plateia. E comentários entre uns e outros : "Takachi não entende mesmo".

Doação do além

Em coro uníssono, os vereadores em plenário na Câmara de Mossoró defendem campanha para doação de órgãos humanos. Corroborando com os colegas, o vereador Chico da Prefeitura manifesta integral apoio ao movimento, mas lamenta não poder fazer um gesto concreto.

- Sou diabético e sei que nenhum órgão meu serve para nada - admite.

Apesar da auto-análise catastrófica, Chico da Prefeitura reitera sua convicção na solidariedade, mesmo que do além :

- Não faço questão de após a minha morte assinar qualquer termo doando meus órgãos !

(Do Livro Só Rindo 2 - A política do bom humor do palanque aos bastidores - De Carlos Santos)

Cavalo não desce escada

Quem se lembra de Ibrahim Sued, o famoso e impagável colunista social carioca, com seus bordões ? Pois bem, convido leitores e leitoras a seguir um de seus bordões : "olho vivo, que cavalo não desce escada". A cena brasileira merece um olho bem vivo. Tem tramóias, emboscadas, projetos mirabolantes e o tabuleiro do poder nunca esteve tão frequentado.

Tempestades e turbulências

A mobilização da semana passada, em SP, contra a Copa do Mundo acabou em mais um capítulo da crônica de baderna e devastação que se escreve por estas plagas. O que significa ? Primeiro, que há e haverá, sempre, grupos que não têm nada a perder e que se dispõem a tumultuar o cenário das ruas. Segundo, que a natureza do ano eleitoral, somada ao calendário esportivo, favorecerá a continuidade dos movimentos. Terceiro, é patente que a organicidade social, no país, atingindo níveis extraordinários, acabará incentivando as pressões de grupos, categorias profissionais e setores organizados. Afinal, o ano eleitoral é propício para encaminhamento público de demandas.

PT, o mais prejudicado

Qual a influência da movimentação sobre a imagem dos atores políticos ? Bastante forte. Temos de convir que qualquer movimentação de rua chama a atenção, paralisa o trânsito, incomoda as pessoas e acaba deflagrando impropérios contra os governantes, sejam os da esfera Federal seja os do âmbito estadual. Mas o impacto maior se faz sentir no PT. O Partido dos Trabalhadores tem parcela de sua identidade firmada sobre as bases dos movimentos sociais. Logo, deveria ele ser o partido dos encaminhamentos sociais. Não o é. Perdeu o controle. Gilberto Carvalho, o ministro que tem por atribuição administrar e monitorar o barulho das ruas, acaba de reconhecer esse fato. Chegou a insinuar ingratidão. O PT, portanto, recebe os respingos dessa movimentação. Geraldo Alckmin, idem. Como governador do Estado mais populoso do país, identifica-se com o status quo.

Nuvens sobre a Copa

A partir de maio, as tensões começam a ganhar força. As arenas esportivas passarão pela lupa. Condições gerais dos estádios, o acesso, os meios de mobilidade, a estrutura de serviços - tudo será analisado. O que merecer desaprovação - não há dúvidas - deverá ensejar protestos. Uma questão será, portanto, a condição de cada arena esportiva. E o desempenho do Brasil ? Veja abaixo.

O desempenho do Brasil

O desempenho da seleção canarinho na Copa dá margem a especulações: 1. a derrota do Brasil levaria às multidões aos protestos e revolta nas ruas; 2. a vitória brasileira consolidaria a candidatura Dilma, podendo motivar uma vitória logo no primeiro turno. Este consultor coloca as duas hipóteses sob o império das dúvidas. O povo tende a separar o futebol da política. Um urro de raiva contra os cartolas tem direção. Se esse urro se estende aos políticos, todos, sem exceção, poderão ser atingidos. Atribuir ao governismo a culpa pela derrota seria um exagero. Usar a vitória como bandeira de campanha também poderia ser um bumerangue para os candidatos que assim o fizessem.

Punição aos jogadores

Certamente a indignação, em caso de derrota, será mesmo junto aos atletas. E mais, a alguns atletas, não a todos. O paredão abrigará os jogadores com pior desempenho; o pódio, por seu lado, acolherá os melhores. Desse modo, haverá críticas e indignação. E se o Brasil tiver um desempenho médio, o clima tende a não endurecer, como muitos acreditam. A eleição é um evento que pode receber contaminação da Copa, mas em índices muito pequenos. Não se acredita que o bom ou mau desempenho dos jogadores no campo político tenha relação forte e direta com o desempenho dos jogadores na arena esportiva. A conferir.

Pezão com as mãos nas rédeas

Luiz Fernando Pezão, a essa altura, é considerado por muitos como carta fora do baralho. Perderá feio as eleições. Não é o que pensa este consultor. Com as rédeas do governo do RJ, poderá ganhar intensa visibilidade e, na sequência, exibir um perfil de obreiro, trabalhador, pessoa séria e desprovido de vaidades. Sob essa moldura, tem condições de avançar, e muito, nas veredas eleitorais e, até, alcançar o pódio no segundo turno. Claro, teria de desbancar Garotinho, Crivella e César Maia para poder enfrentar o senador petista Lindbergh. É difícil ? Sim. É improvável ? Não.

Nova geografia eleitoral

A geografia eleitoral de 2014 será bem diferente da geografia eleitoral de 2010. O governismo encontrará um quadro mutante em alguns Estados. Por exemplo : no AM, os tucanos podem virar o jogo e dar alguns votinhos a Aécio sob a batuta do alcaide tucano Arthur Virgílio, que comanda a capital; no CE, se o senador Eunício não tiver o apoio do PT e fechar aliança com Tasso Jereissati, do PSDB, este para senador, é evidente que Aécio ganhará um ótimo palanque nesse Estado, que deu grande vitória a Dilma em 2010; em PE, por mais que Lula se esforce para repetir o feito do pleito anterior, é evidente que Eduardo Campos fará uma boa maioria no Estado que comanda; na BA, a previsão é de que Dilma não terá uma grande vitória, eis que o candidato do PT, saído do bornal do governador Jaques Wagner, poderá ser derrotado; no RS, a reeleição do governador Tasso Genro, do PT, passará por grandes dificuldades.

PT e o cálice sagrado

O PT mira no cálice sagrado. O cálice é uma miragem. Mas o PT quer porque quer encontrar esse precioso objeto. Porque este cálice o levaria, até 2030, à mais alta montanha do poder. Com ele nas mãos, o PT mudaria a face da política, o sistema econômico, imprimiria uma nova marca social, deixaria seu nome nos livros de história do Brasil como a entidade que, depois de Pedro Álvares Cabral, redescobriu um imenso território para fazer dele a Pátria do socialismo mundial no século XXI. Pois bem, metáforas à parte, o PT se prepara para moldar o projetão 30. Ou, se quiserem, 28 anos. PT no comando do Brasil até 2030. Como assim ?

PT, 2030

A ideia é essa : Dilma até 2018; Lula voltando em 2018 para ficar mais 8 anos, até 2026. E, na sequência, um mandato tampão até 2030, quando se encerraria o ciclo petista. Nesse ínterim, o maior conjunto de mudanças na política, na economia, nas relações trabalhistas, nos tributos e na previdência. E o lastro ? Grana, muita grana. É o que não faltaria. Miragem ou não, o fato é que esse mirabolante projeto começa a frequentar as conversas de próceres petistas. Como dizia Ibrahim Sued, "em sociedade tudo se sabe".

PMDB, 1986

Em quem o PT parece se inspirar ? No PMDB de 1986. Naquele ano, as eleições ocorreram em 15 de novembro, sob o voto de 70 milhões de brasileiros. O PMDB fez 22 governadores, perdendo apenas em SE para Antônio Carlos Valadares, do então PFL. Fez maioria dos 49 senadores; elegeu 487 deputados Federais e 953 deputados estaduais. Com essa base, elegeu, no pleito seguinte, o maior número de prefeitos. Até hoje, o partido se beneficia da vitória esmagadora.

PMDB, Federação; PT, religião

Em sua trajetória, o PMDB se tornou uma Confederação de partidos. Cada unidade estadual tem seus comandantes e suas posições. O partido é o mais repartido do país. Mas se une na hora das urgências. Usa a divisão como soma, na medida em que faz parcerias com quase todos os grandes e médios partidos. Já o PT é uma religião. Seus participantes até pagam dízimo. É uma entidade vertical. E comandos bem definidos. Ordem dada é ordem cumprida. Com essa armadura, o PT quer buscar a hegemonia. Custe o que custar.

O valor da pontuação

Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e pena, e escreveu :

"Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Não teve tempo de pontuar - e morreu. A quem deixava ele a fortuna que tinha ? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito; e pontuou-o deste modo : "Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". Surgiu o alfaiate que, pedindo cópia do original, fez estas pontuações : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade; e um deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate ? Nada ! Aos pobres !"

(Extraído do Leia Comigo, livro do amigo Luís Costa)

Conselho aos parlamentares

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, dedica sua atenção aos parlamentares :

1. O recesso chega ao fim e a retomada das atividades parlamentares, nesse ano eleitoral, requer mais esforço, mais engajamento, mais atenção às pautas e agendas. O ano será mais curto e, nem por isso, Vossas Excelências podem justificar menos trabalho.

2. Por isso mesmo, urge selecionar temáticas importantes e que correspondam ao clima e às aspirações da sociedade. Todo esforço deve ser empreendido para evitar paralisações, bloqueios, prolongamento de discussões infrutíferas.

3. A Nação espera que cada parlamentar cumpra o seu dever. Temos um eleitor mais racional, mais crítico, mais atento e bem mais disposto a participar do processo político. Que tem no voto uma arma letal.