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Porandubas nº 434

quarta-feira, 4 de março de 2015

Atualizado às 08:38

Abro a coluna com o riso da política, um "causo" da BA.

O que eu sou ?

O caso é engraçado, mas verídico. O farmacêutico Claodemiro Suzart, candidato do PTB à prefeitura de Feira de Santana, decidiu fazer o comício de encerramento da campanha na rua do Meio, na zona do meretrício. E jogou o verbo : "o povo precisa estudar a vida dos candidatos, desde o nascimento deles, os lugares onde nasceram, para saber em quem votar direito". Por exemplo, Arnold Silva, da UDN, nasceu em Palácio, nunca falou com o povo. O que ele é ?

- Candidato dos ricos - gritava a multidão

- É isso mesmo. Não pode ter o voto de vocês. E Fróes da Mota, candidato do PSD, nunca sentiu o cheiro de povo. Só gosta mesmo é do gado de sua fazenda. O que ele é ?

- Candidato dos fazendeiros - delirava a galera

- Isso mesmo. Não pode ter o voto do povo. Já eu, meus amigos, nasci aqui, nesta rua do Meio, a mais popular de Feira de Santana. E eu, meus amigos, o que eu sou ?

Lá do fundo da turba, um gaiato soltou a voz :

- Filho da puta.

O comício acabou ali.

(Historinha hilária do amigo Sebastião Nery).

A cidade ideal - I

A cidade ideal de Aristóteles deveria ter não mais que cinco mil habitantes, o que permitiria que todos se conhecessem, ao menos de vista. A cidade ideal de Platão teria funções bem definidas e administradas por três tipos de almas : os filósofos, almas racionais, a quem deveria ser entregue o governo ; os guerreiros, almas irascíveis, que se encarregariam da defesa e da manutenção da ordem ; e os produtores, espíritos concupiscentes, para os quais estariam reservadas as atividades econômicas de produção de bens. A cidade ideal de milhares de prefeitos no Brasil deve ser um território cheio de obras. Culto ao obreirismo faraônico.

Horas tensas

As próximas horas serão tensas na seara parlamentar. A famosa lista de Janot, enviada ao STF, agita os ânimos. Se não houver condenação direta, apenas pedido de investigação e abertura de inquéritos, haverá um bom tempo para deputados (em maior quantidade) e senadores (em menor quantidade) ganharem fôlego. A fase de inquérito deverá demorar, mas não tanto quanto o mensalão. Essa divisão do STF em turmas dará maior celeridade aos processos. O ministro Teori Zavascki abrirá o sigilo ? Essa é a questão nesse momento. Ou divulgará os nomes de acordo com as apurações feitas ? O procurador, ao que se diz, teria solicitado divulgação geral.

Efeitos

Seja qual for a lista e seu tamanho, provocará efeitos sobre o Congresso. Nesse momento, em que a presidente Dilma se ressente de baixa avaliação, uma teia envolvendo parlamentares impactaria negativamente o Congresso e, nessa textura, o Executivo poderia se sentir mais aliviado. Ou seja, as fragilidades se encontrariam na bifurcação de imagens corroídas pela crise. Na Câmara, pode-se projetar a tendência de uma defesa corporativista : um por todos, todos por um. Se um deputado, por exemplo, entrar na agenda do Conselho de Ética da Câmara, outros também serão ali julgados. A recíproca é verdadeira.

Pressão da opinião pública

Veríamos, então, de um lado uma fortaleza na defesa parlamentar sendo bombardeada pelos canhões midiáticos, cujos artefatos serão produzidos com os sentimentos da opinião pública na forma de indignação, repulsa, rejeição, insatisfação. O Congresso tenderá a reagir por meio de pautas positivas e um discurso de independência. Aliviará a carga sobre ele, mas não a ponto de receber aplausos. Principalmente porque o clima ambiental deverá receber altos níveis de poluição. Vejamos.

O clima ambiental

Vejamos como o clima será afetado pelos ares das circunstâncias. Primeiro, o Congresso terá de apreciar o fabuloso pacote de Joaquim Levy, que visa arrumar R$ 111 bi para os cofres do Tesouro, a partir de três fontes : 1. Corte de despesas ; 2. Diminuição de subsídios ; 3. Aumento de tributos. Os setores que foram beneficiados pelas desonerações já começaram a botar a boca no trombone. O desemprego já começa a inundar as ruas, a partir da Petrobras e das empreiteiras. A projeção para o PIB deste ano é a da maior retração em 25 anos. O movimento dos caminhoneiros já contabiliza aumento de até 70% para alguns produtos hortifrutigranjeiros. As MPs 664 e 665, que tratam de questões trabalhistas e previdenciárias - acesso ao seguro desemprego, ao abono salarial, à pensão por morte, ao auxílio-doença e ao seguro-defeso pago aos pescadores no período de proibição de suas atividades - são bombardeadas pelas centrais sindicais.

A reação das massas

Os conglomerados das margens começam a reagir de forma mais dura quando o bolso é atingido pelas políticas governamentais. Ora, isso já começou. A inflação real, não a artificial/criativa, já orbita em torno de 8%. Logo, o bolso já aperta a barriga. A carestia é uma palavra que volta ao vocabulário das ruas. Junte-se ao bolso mais vazio das periferias o transporte mais caro. A energia acaba de ser reajustada em 40%, com mais aumentos nos próximos meses. Os combustíveis também entram na rota de subida. Ora, não se faz omelete sem quebrar os ovos. E o omelete de Joaquim Mãos de Tesoura Levy está sendo preparado para agradar à bocarra da economia. Afinal, foi para isso que foi convocado. Por isso, enxerga-se expansão do Produto Nacional Bruto da Insatisfação Social (PNBIS).

Dia 13

Temos à vista dois eventos sobre os quais devemos observar com atenção. O primeiro é o movimento da CUT, dia 13, para defender a Petrobras e, por consequência, o próprio governo. O argumento é o de que a petroleira sofre ameaças de privatização. E que, nesse momento, as forças da Direita se mobilizam para desestabilizar o país. O discurso serve como sinal de despiste. No fundo, objetiva criar uma frente de defesa do governo, cuja avaliação atinge índices muito ruins. Mas a velha CUT perdeu o eixo. De um lado, vai às ruas contra o governo, pedindo mudanças drásticas nas MPs 664 e 665. Ou seja, tem um discurso contra o governo, no qual enxerga o machado que corta a árvore dos benefícios trabalhistas. De outro lado, vai às ruas defender a Petrobras e o governo. Em quem acreditar ?

Dia 15

No dia 15, as redes sociais e algumas entidades promovem um mutirão nacional contra os desvios e a roubalheira e, ainda na pauta, fazem um clamor pelo impeachment da presidente. Será uma manifestação extraordinária. Primeiro, urge lembrar que o dia será um domingo. As galeras deixarão seu lazer para ir às ruas ? É possível que essa arregimentação tenha mais efeito junto a setores e categorias organizadas das classes médias. Este consultor ainda não vê a movimentação de conglomerados das margens sociais. O movimento deverá se ater às grandes cidades. E poderá engrossar um pouco mais se o evento do dia 13 gerar conflito ou balbúrdia. Ou seja, os eventos estarão integrados nos polos da ação e reação.

O olho do furacão

A verdade é que o olho do furacão ainda não apareceu. Essa terrível visão poderá ocorrer mais adiante, se a situação destrambelhar. Para que isso ocorra, a par da inflação mais alta, desemprego dando o tom, aumentos gerais de produtos das gôndolas, teríamos, ainda, ameaças de apagão, se o consumo de energia não for reduzido. A questão da água, apesar de chuvas intermitentes em algumas regiões, ainda pesa em áreas do Sudeste e do Nordeste.

Follow the money

"Se tiver dificuldade de vincular a cúpula, siga o velho conselho norte-americano : follow the money". (Juiz Sérgio Moro)

TT na ótica mundial

Annemarie Muntz, presidente da Confederação Internacional das Agências Privadas de Emprego (CIETT), está no Brasil para uma série de reuniões que visam estabelecer metas para o pleno desenvolvimento do setor de Trabalho Temporário (TT) em nosso país. Ao redor do mundo são 40,2 milhões de trabalhadores temporários. Amanhã, 5/3, a especialista participa do Fórum CIETT/Sindeprestem no Hotel Tivoli, (al. Santos, 1437,SP), a partir das 9h. A abertura será coordenada pelo presidente do Sindeprestem e da Fenaserhtt, Vander Morales, pelo presidente da Clett&A, Fernando Calvet e pelo presidente da Cebrasse, Paulo Lofreta.

Tucanos em cima do muro

Os tucanos apreciam contemplar a cena em cima do muro. Vejam Fernando Henrique. Ele disse que o tucanato apoia o movimento do dia 15, mas é contra o "fora, Dilma". Claro, quer se referir ao "fora, FHC", dos tempos passados. Apoiar o movimento das ruas, mas ser contra o discurso que a turba expressará, mais parece o dilema : ser ou não ser, uma no cravo, outra na ferradura.

- 3% do PIB

As projeções se ampliam. A mais recente projeção fala de 0,58% negativos. Mas há quem aposte em -3%. E até mais. O país entraria em clima de caos.

Alerta do SINSTAL

As recentes medidas do ajuste fiscal anunciadas pelo governo vão interromper o desenvolvimento das telecomunicações em nosso país e provocar demissões em massa no setor. As empresas de Telecom investiram mais de R$ 19 bilhões em 2014 e são responsáveis por mais de um milhão de empregos. O fim das desonerações, alterações do PIS/COFINS e mudanças nas áreas trabalhistas dão uma ideia do cenário sombrio para o Brasil a partir de agora, ao contrário de todas as promessas de campanha da presidente Dilma. O setor produtivo nacional vai custear todo o programa de ajustes do governo. A engenheira Vivien de Mello Suruagy, presidente do SINSTAL (Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços e Instaladoras de Sistemas e Redes de TV por Assinatura, Cabo, MMDS, DTH e Telecomunicações), teme um retrocesso grave no desenvolvimento do país.

PT x PT

As querelas entre alas do PT continuam. Sempre existiram, mas no momento atingem seu clímax. Trata-se de lutar pelo domínio da máquina petista. E de ter mais peso na estrutura governativa.

Dilma começa a ouvir

Depois do ciclo da autossuficiência, vem o ciclo da modéstia. A presidente Dilma começará a ouvir os líderes dos partidos governistas. É o anuncia o vice-presidente Michel Temer.

Levy e os petistas

O ministro Joaquim Levy está encontrando muitas dificuldades para convencer os deputados petistas sobre o programa de ajustes econômicos do governo. Mais que as barreiras encontradas junto a outras bancadas. O PT gosta de bônus, não de ônus.

O caranguejo

O rei pediu a Chuang-Tsê que desenhasse um caranguejo, missão que o desenhista prometeu cumprir em cinco anos, e muito bem recompensada. Passado o tempo, o rei cobrou-lhe o desenho, mas ele pediu mais cinco anos. Após o décimo ano, o rei voltou à carga. O pintor, então, pegou o pincel e, num instante, com um único gesto, desenhou o mais perfeito caranguejo que jamais se viu. O Brasil precisa da agilidade de Chuang-Tsê.

Cidade ideal - II

A cidade ideal é aquela que respeita o cidadão. Enquanto essa cidade não aparece, podemo-nos contentar com a poesia de Luiz Enriquez e Sérgio Bardotti, na versão cantada de Chico Buarque : "Deve ter alamedas verdes/a cidade dos meus amores/e, quem dera, os moradores/e o prefeito e os varredores/e os pintores e os vendedores/as senhoras e os senhores/e os guardas e os inspetores/fossem somente crianças".

Amigo do papa

Fecho a coluna com outra historinha de Nery : Rui Carneiro, paraibano matreiro, era candidato a senador pelo PSD, em 1955. A UDN tinha apoio dos comunistas. Rui esteve na Europa, voltou, foi fazer o primeiro comício da campanha :

- Paraibanos, estive em Roma com o papa. Ele me cochichou : "Rui, se destruírem meu trono aqui no Vaticano, sei que tenho um grande amigo lá na PB. Vá, dê lembranças à comadre Alice e diga ao povo que estou com você".

Ganhou a eleição!