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Porandubas nº 450

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Atualizado às 08:51

Abro a coluna com a culinária francesa, na esteira da proibição do "foie gras", em São Paulo, pelo prefeito Fernando Haddad.

Pulé roti

O negro Belarmino era um cozinheiro cheio de pompa e orgulho. Trabalhava no antigo "Hotel de France", em Fortaleza. Quem o azucrinava com sua cor, ele não deixava por menos : "roupa preta é que é roupa de gala". E arrematava : "pinico também é branco". Chegava um cliente, esnobava o francês : "Que tal um puassom ("poisson", peixe) com petipuá ("petit pois", ervilha)" ? Mas nunca conseguiu entender que "poulet rôti" é frango assado e não simplesmente frango. Transferido para a Pensão do Bitu, reclamou ao patrão, logo no primeiro dia, ao passar diante do galinheiro : "seu Bitu, me dê a chave da despensa para eu tirar o milho, pois inté essa hora, os pulê roti estão tudo em jejum". (Historinha narrada por Leonardo Mota, em Sertão Alegre)

Cálculo político

É possível projetar a viabilidade política de contendores e evitar erros de cálculo político ? Sim. Carlus Matus, o papa do planejamento estratégico situacional, ensina : "Tudo depende de saber jogar, pois um jogador, mesmo tendo boas cartas no jogo de baralho, pode não saber jogar e perder o jogo para outro que recebeu cartas inferiores, mas tem melhor estratégia de jogo".

Contendores de 2016 : procurem estrategistas para uma boa orientação. Pensem com a cabeça e arremetam com o coração, evitando a síndrome do touro, que faz exatamente o contrário.

Nuvens negras à vista

As projeções continuam inundando os espaços midiáticos : o segundo semestre será pior que o primeiro. O cenário continua a mostrar revisão para baixo do PIB não apenas para este ano como para o próximo. E a inflação poderá chegar aos 9%. Significa aperto forte nas camadas mais baixas da pirâmide e refluxo no bolso dos consumidores de classes médias. A classe C, média emergente, sofrerá bastante. E fará emergir sua indignação por temer voltar a um patamar inferior. As nuvens negras abarcam todos os quatro cinturões do governo : político, econômico, social e administrativo.

Quatro trimestres

A economia pode amargar até quatro trimestres consecutivos de queda do PIB em 2015, na comparação trimestral, tornando a crise atual mais longa do que a de 2009. O crescente pessimismo com a atividade econômica está contaminando também as expectativas para 2016. O boletim Focus, do Banco Central, que reúne projeções de mais de 100 instituições, aponta avanço de 0,5% do PIB no ano que vem, 0,2 ponto percentual a menos do que na semana passada. Analistas já prevêem desempenho negativo no próximo ano. Baixa confiança de empresários e consumidores e piora do mercado de trabalho comprometem a recuperação da economia.

Clima mais tenso

O clima político, já bastante tenso, tende a se agravar com a relação de mais nomes nas listas da operação Lava Jato. O ar de tensão se agudiza face ao peso dos nomes que entram na lista, a partir da delação premiada do presidente da UTC, Ricardo Pessoa. Com todas as letras, afirmou que propina foi distribuída para campanhas e políticos. Não foi doação oficial. E mostra ter provas à disposição da Justiça. O Congresso chegará ao clímax de expectativas. O Executivo continuará ser foco das delações.

Afastamento ?

Terá a presidente Dilma condições de tocar a administração com uma bateria continuada de acusações, denúncias e envolvimento de pessoas ao seu redor ? Acrescente-se ao apertado cinturão político a imagem destroçada do governo. Pesquisas que estão sendo feitas por Institutos, esta semana, poderão baixar mais ainda a avaliação positiva do governo, hoje em torno de 10%. Já se discute a pauta do parlamentarismo, apesar de sabermos que o presidencialismo está profundamente impregnado na alma nacional. O impeachment volta a acender os ânimos. Mas este analista acredita que a ideia será rechaçada.

A mobilização das ruas

As ruas voltarão a ser ocupadas pelos movimentos sociais. Este primeiro semestre serviu para observação de cenários, avaliação de forças, acompanhamento do quadro econômico e planejamento de novas ações. Que virão. O Congresso será cobrado por aquilo que ainda não fez : a reforma política. A guinada conservadora, que tomou conta de pautas e debates, terá um forte contraponto por parte das entidades que trabalham na linha de frente da defesa de igualdade de gêneros. A carestia jogará também os desempregados e os de bolso vazio nas ruas.

Estratégias do líder

Dois casos clássicos demonstram a capacidade estratégica de um líder. O primeiro envolve Alexandre Magno. Quem conseguisse desatar o nó que unia o jugo à lança do carro de Górdio, rei da Frígia, dominaria a Ásia. Muitos tentaram. Foram a Alexandre. Ele tinha duas opções : desatar o nó ou cortá-lo com a espada. Optou pela via mais rápida e certeira com um golpe forte. Sabia que perderia tempo tentando desatá-lo. O segundo caso é o ovo de Colombo . Levaram um ovo para o almirante e pediram que o equilibrasse. Com um pouco de força, Colombo colocou o ovo em posição vertical sobre a mesa.

Agressões entre grupos

As agressões entre grupos e núcleos se ampliarão na esteira das crises : econômica, política, moral, de gestão. Os conflitos deverão enfrentar o pulso forte das forças policiais, donde se pode inferir que a violência ampliada desencadeará mais violência. A segurança pública será questionada. As devastações de patrimônios - público e privado - deixarão rastros de sangue.

Refluxo produtivo

O pacote fiscal/tributário do governo atingirá os setores produtivos, fazendo baixar sua produção, aumentar seu prejuízo e demitir em massa. Aliás, o desemprego, hoje em torno de 8%, pode chegar à casa dos dois dígitos. Nenhum setor se mostra otimista. As projeções de queda atingem todos. Ou seja, as coisas ruins que se registram, hoje, ficarão piores. Esse é um quadro desalentador. O fim da política de desoneração da folha - atenuada apenas para quatro setores - vai pesar sobre o budget das empresas e dos setores de serviços.

Povo

"Não há povo, com efeito, sem pátria. Mas depende do povo que a pátria seja um vínculo de servidão ou um monumento de liberdade." (Jules Michelet)

PT saudações

O PT está com o destino selado. Não terá imagem melhorada até as eleições de 2016. Fará uma pequena bancada de prefeitos. Tentará dar uma guinada forte à esquerda, uma espécie de vôo rumo às origens, para renascer das cinzas. Virou o partido da corrupção, por excelência. A cor vermelha, apropriada pela sigla, tornou-se o traço cromático da esperteza e da imoralidade. Lula voltará com vontade para dar um norte ao partido. Mesmo com carisma, em queda, não conseguirá melhorar a imagem do PT no curto prazo.

E as novas opções ?

Onde estão as novas lideranças ? As novas opções ? Quem pode canalizar a vontade social nesta crise ? Por enquanto, não surgiu nenhum nome alternativo. Aécio Neves desponta na frente, neste momento, por causa do recall que tem da última eleição presidencial. O governador Geraldo Alckmin começa a fazer uma agenda nacional, indo às regiões e tentando se mostrar fora do circuito do Sudeste. José Serra, com seu recall alto, também começa a aparecer nas especulações. Poderia ser o candidato do PMDB à presidência em 2018. Mas o PMDB promete que, na próxima campanha, terá candidatura própria.

Impacto da delação

O impacto da delação premiada de Ricardo Pessoa foi grande. A segunda fase deverá ser a de amostra de provas. Com elas, o MP e o juiz Sérgio Moro deverão ir em frente abrindo novas fases da Operação. Cresce, no entanto, a insatisfação com a escalada de prisões a mando do juiz. Soltas, figuras exponenciais do empresariado seriam ameaça à ordem social ? Algum traço de celebridade, reconhecimento, espetacularização, efeito pictórico é claramente visível nessas operações da Lava Jato.

Lula, Cardozo e PF

Lula se queixa do ministro José Eduardo Cardozo por este não controlar a Polícia Federal. Ora, mas a Polícia Federal só age quando é instada, quando recebe ordem para prender alguém. Trata-se de um instrumento do Estado. O ministro não pode desautorizar o juiz e muito menos interferir nas ações rotineiras da PF. Dessa forma, a queixa de Lula perde sentido.

PT e PMDB

PMDB e PT continuarão fazendo aliança para 2016 ? Pouco provável. O vice-presidente da República, Michel Temer, tem redobrado esforços para conseguir aprovar o pacote fiscal. Ocorre que o PT tem pouco ajudado nessa tarefa. O partido está divido em alas. Algumas não aceitam o PMDB como parceiro central. Por via das dúvidas, o PMDB põe sua lupa para ver até onde vai a ambição do PT. Impossível fazer aliança com um partido que tenta esfaqueá-lo pelas costas.

Quatro mães

"Quatro mães muito formosas parem quatro filhos muito feios. A verdade pare ódio, a prosperidade, orgulho, a familiaridade, desprezo e a segurança, perigo." (Padre Manuel Bernardes)

Arrefecimento das oposições

Dois nomes de oposição constaram na lista apresentada por Ricardo Pessoa : o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, e o deputado mineiro Júlio Delgado, do PSB. Esses parlamentares arrefeceram o ânimo das oposições face à lista de pessoas que receberam dinheiro da UTC. Doações ou não, que os órgãos de controle façam a devida investigação.

Nêumanne na academia

José Nêumanne Pinto, jornalista, poeta e escritor, toma posse, hoje, às 19h, na Academia Paulista de História, em cerimônia a ser presidida pelo presidente a APH, Luiz Gonzaga Bertelli. O evento será na rua Tabapuã, 445, Itaim Bibi. A saudação será feita por este escriba.

"Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o restante não é vida, mas tempo." (Sêneca)

O ataque ao delator

O ataque da presidente ao presidente da UTC, Ricardo Pessoa, que fez a delação premiada na operação Lava Jato, foi um ponto completamente fora da curva. Comparar delação premiada, que é um instrumento previsto por lei, com a delação sob tortura nos tempos da ditadura, é confundir conceitos e "torturar" a verdade. E, por cima, lembrar que ninguém gosta do delator Joaquim Silvério dos Reis, da Inconfidência Mineira, é atropelar a história. A presidente deveria se valer de uma assessoria qualificada.

Respeite minha palavra

Marli Gomes, ativista política de Luziânia (Goiás, 65km de Brasília), convidou as amigas em junho de 1983 para visitar o seu deputado Federal na Câmara. Ao adentrar no Plenário, acesso dos visitantes, Marli viu seu representante a cochilar. Joaquim Roriz, o mais votado pelo MDB de Goiás, retirava o atraso no descanso. Cabeça pendurada, caía em sono profundo com direito a boca aberta. Constrangida, Marli resolveu sentar, esperando uma reação. Ocupava a Tribuna o deputado Gastone Righi, do PTB de São Paulo. Acostumado a discursos acalorados, fazia o representante paulista um comunicado com entonação amena. O deputado Roriz então passou a mão no microfone e solicitou :

- Deputado Gastone, o Senhor me concede aparte ?

- Nobre deputado Roriz, respeite a minha palavra como respeitei o seu sono. Estou há um bom tempo a cochichar.

(Enviado por [email protected])