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Porandubas nº 452

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Atualizado às 08:11

Abro a coluna com PE nos tempos de Agamenon e o RN nos tempos de Aluízio, na verve do mestre Sebastião Nery.

Bajulação

Agamenon era o interventor. A seca assolava o Nordeste. De repente, começou a chover na região do São Francisco. Um prefeito telegrafou :

- Chove copiosamente na região, graças à profícua administração de V. Exa.

Agamenon demitiu o prefeito nomeado.

Ufa, não aguento esta porcaria

Dinarte Mariz era governador e inimigo de Aluízio Alves. Que saiu candidato pela oposição, ganhou. O velho Dida se recusou a passar o cargo. No dia da posse, Dinarte saiu cedo do palácio, entregou as chaves ao porteiro. Todo importante, paletó e gravata, sapato engraxado, o porteiro foi lá para frente e ficou de pé nas escadarias. Esperou uma hora, duas, três, o novo governador não chegava. A mulher mandou chamá-lo para o almoço, nada. Ele ali, de pé, cumprindo patrioticamente seu dever cívico. De repente, à frente da multidão, apareceu Aluízio Alves na esquina. O porteiro suspirou aliviado :

- Ainda bem que ele está chegando. Não aguento mais governar esta porcaria.

Entregou as chaves e o fugaz poder !

Lava Jato, fase política

Ainda não esgotada a fase empresarial, a operação Lava Jato abre a fase política, com a busca e apreensão de documentos nas casas de parlamentares, a começar pelos senadores Fernando Collor e Ciro Nogueira. A entrada na área parlamentar tem o placet dos ministros do STF, Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski. Significado : ao bater no Congresso, a operação agita os ânimos políticos, fazendo subir a temperatura em Brasília. A crise chegará às alturas na segunda quinzena de agosto/primeira semana de setembro.

Missão divina

O juiz Sérgio Moro, de um lado, e os procuradores do MP, de outro, se imbuem de uma "missão divina". Essa é uma das explicações para as fases que estão se desenvolvendo na operação Lava Jato. Como "missionários", entendem que nada os afastará do caminho apontado por Deus. Nada de pressões, nenhuma interferência de poderosos. Irão até o fim, na crença de que terão de passar o Brasil a limpo, doa a quem doer. Imaginam que serão capazes de varrer a sujeira, tirando, até, os vestígios que se escondem por baixo do tapete. O DNA brasileiro será refeito ? Há dúvidas.

Vulcão de agosto

Haverá condição de se fazer o impeachment da presidente ? Eis uma recorrente questão que se coloca a este consultor. Respondo sempre : a questão será política, mas para se viabilizar, precisa do empuxo de dois motores : o da locomotiva da economia e o do rolo compressor das ruas. Explicando : se a economia arrebentar o bolso dos contribuintes, o povão revoltado, sob a alavanca das classes médias também atingidas, empurrará o Congresso para a beira do impeachment. Criam-se, nesse caso, as condições para se tomar uma decisão de magnitude. E, dessa forma, o vulcão pode dar sinais de erupção já em agosto.

Pulso das bases

Esses sinais deverão ser visualizados já agora nessa segunda quinzena de julho, quando os parlamentares estarão tomando o pulso de suas bases. O recesso parlamentar que começa em 17, sexta-feira, propiciará um banho de massas. Deputados e senadores vão sentir de perto o que significa inflação das ruas passando da casa dos 10%, o desemprego chegando aos 9%. Só na área da construção civil, há um milhão de desempregados. E a tendência é de acirramento das carências e carestia nos próximos meses.

Os grupos - I

É possível aferir a seguintes abordagens e posicionamentos políticos : 1) O grupo que deseja mudanças imediatas com a saída de Dilma-Temer ; trata-se da ala aecista do PSDB. Como o senador mineiro, sob o recall da campanha do ano passado, ganharia facilmente de Lula, hoje, defende a saída dos dois ; 2) O grupo lulista do PT, que gostaria de ver Dilma fora do Palácio do Planalto, com Michel Temer assumindo a presidência. Com esse afastamento, seria possível a Lula correr o país, adoçar o gogó, armar palanques por todos os lados e se apresentar, em 2018, como oposicionista contra o marasmo geral.

Os grupos - II

3) O grupo tucano ligado a Alckmin, que gostaria de empurrar a presidente ao abismo, porém conservando Temer no comando. Este faria um governo de harmonia nacional e presidiria as eleições de 2018. Alckmin, em 2018, terá melhores condições para disputar a presidência que Aécio Neves ; 4) O grupo tucano ligado ao senador José Serra, que tem interesse em deixar a situação como está até 2018. Serra se aproximaria do PMDB, podendo, até, viabilizar sua candidatura por este partido.

As teses

Há teses para todos os gostos : a) a primeira defende a responsabilidade de Dilma no caso das "pedaladas fiscais", o que daria ao Congresso a base para o impeachment presidencial ; b) a segunda tese argumenta com o fato de que houve "pedaladas fiscais" em governos anteriores, tanto no ciclo FHC quanto nos mandatos de Lula. Dizer que hoje a situação é mais crítica pelos volumes de recursos transferidos como empréstimo e pelos prazos mais dilatados pode não se sustentar. Dr. Ulysses dizia: uma pessoa 99% honesta é 100% desonesta, porque não existe desonestidade relativa. C) Há o argumento de que recursos de propina para a campanha da Dilma ocorreram no mandato anterior. Mas há o contra-argumento de que eventos ocorridos do mandato anterior não passam para o mandato seguinte. E, por último, há a crença e provas de que recursos desviados de contratos da Petrobras irrigaram campanhas da situação e da oposição.

Três fontes do poder

Diz Galbraith : "eis as três fontes do poder : a personalidade, a propriedade (a renda disponível) e a organização".

Outros

Completando o triângulo de Galbraith : "a personalidade, a paixão, a perícia/habilidade, o controle, a posse de recursos, e o domínio do conhecimento científico e tecnológico".

A régua

Na linha de 0 a 100 km, a operação Lava Jato teria caminhado, até hoje, cerca de 30 km. Ou seja, há 70 km pela frente. Haja estrada. Como a frente política passa por muitas curvas no território do STF, há quem vislumbre os horizontes políticos da operação lá pelas beiradas de 2018.

Janot

O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, parece ter um foco : Eduardo Cunha. Mas tem um olho também em outros políticos. Ocorre que deve entrar na lista dos nomes de procuradores que serão submetidos à presidente Dilma no segundo semestre. Se entrar em primeiro lugar, a presidente não terá outra alternativa que a de encaminhar seu nome para aprovação pelo Senado. Donde emerge a pergunta : passará pelo crivo dos senadores ? Este consultor acredita que passará.

Oposições sob a lupa

As oposições devem se precaver. O pau que bate em Francisco bate também em Chico. Não serão apenas figuras da situação a entrarem no loop do MP e do juiz Sérgio Moro. Há figuras de destaque na oposição que entrarão no ranking.

Brasil e os mercados fortes

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, falando na abertura do Congresso do Aço, em SP, defendeu a necessidade de o país melhorar a competitividade dos produtos nacionais para que indústria volte a ganhar espaço no mercado doméstico que vem sendo ocupado pelo produto importado. Para ele, o governo está trabalhando para reposicionar o país, aproximando o Brasil de mercados fortes. O Brasil tem de se integrar de maneira mais efetiva aos fluxos de comércio em regiões com maior dinamismo. O foco da política se volta para alguns mercados importantes, como o americano.

Acordos

Nos Estados Unidos, foram assinados, segundo Monteiro, acordos de convergência de normas técnicas com o objetivo de remover as barreiras não tarifárias aos produtos brasileiros. O México é outro parceiro com o qual o Brasil quer expandir os laços comerciais.

Retração de 12,85 no aço

O maior evento anual da siderurgia ocorreu esta semana em SP. Dados de impacto. O setor aguarda uma retração de 12, 8% este ano. As perspectivas negativas resultam da perda de ritmo do setor industrial. O presidente-executivo do Instituto do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, definiu o período atual como "o pior da história" do setor siderúrgico brasileiro. Neste ano, o consumo aparente - que compreende as vendas domésticas das siderúrgicas e as importações - deverá somar 22,333 milhões de toneladas, contra 24,638 milhões de toneladas em 2014.

Vendas em queda de 15,6%

As vendas no mercado interno deverão somar 18,324 milhões de toneladas neste exercício, volume 15,6% inferior ao verificado no ano anterior, quando elas chegaram a 20,738 milhões de toneladas. Segundo Lopes, a situação é preocupante, pois além da economia estagnada e da falta de competitividade do país, o cenário de sobre-oferta de aço no mercado internacional está se agravando. As estimativas são que a sobra de capacidade atinja cerca de 700 milhões de toneladas neste ano. Quase quatro mil postos de trabalho deverão ser extintos.

40 anos no mesmo patamar

Conselheiro do Aço Brasil e vice-presidente comercial da Usiminas, Sergio Leite destacou que o Brasil se mantém no mesmo patamar de consumo há 40 anos, mas que existe uma demanda represada na área de infraestrutura. O país precisaria investir entre 4% e 6% do PIB nos próximos 20 anos para reverter a situação atual e proporcionar às indústrias a retomada do crescimento e lembrou que a China investe 13% de seu PIB, o Vietnam 10% e a Índia 6%. Já o CEO da ArcelorMittal Aços Longos Brasil, Jefferson de Paula, chamou a atenção para o momento difícil por que passa a economia brasileira, com a perspectiva de registro do pior PIB desde a década de 70.

Fiat Lux

Lino Machado, médico e deputado em 1947, criticava na Tribuna da Assembleia o prefeito :

- A cidade está abandonada, está às escuras. Fiat Lux !

Jefferson Nunes, todo poderoso chefão político do Interior do Maranhão, partiu para a ironia :

- É um absurdo que V.Exa. vá estudar no RJ e volte para cá com esse latim de caixa de fósforo.

Esporádico

Lino, tempos depois, quis se vingar da ironia do coronel. Alguém foi assassinado no interior do MA. Jefferson Nunes disse que era um caso esporádico. Lino Machado deu o troco ao Fiat Lux :

-V. Exa. não sabe o que é esporádico.

- Eu sei, sim. V.Exa é médico. Tem 100 clientes. Morrem 99. Salva-se um. É um caso esporádico.

Sete pecados capitais dos governantes

1) A insensibilidade

2) A onipotência

3) A crença na força absoluta da grana

4) A rotina

5) A improvisação

6) A bajulação consentida

7) O descompasso com o senso comum.