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Porandubas nº 458

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Atualizado às 08:15

Abro a coluna com uma historinha de sapiência

Em 5 anos, tudo pode ocorrer

Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir.

- Quero que ensine meu camelo a falar !

- Mas isso é impossível.

- Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto !

Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou.

- Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir.

Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse :

-Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de cinco anos, e farei falar teu camelo.

Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa.

-Doravante, és meu grão-vizir ! Mas se falhares, sabes o que te espera !

- Bem sei !

Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa.

- Infeliz, acabas de assinar tua condenação.

- Não é bem assim, meu bem. Pedi cinco anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em cinco anos : morre o camelo, morre o sultão...

(Fábula enviada pelo atento Alexandru Solomon. "Nada a ver com o Mensalão, Lava Jato e outras questiúnculas....")

O fio das tensões

O fio das tensões continua a ser puxado. A acareação entre Aberto Youssef e Paulo Roberto Costa na CPI da Petrobras deixou mais interrogações que certezas. O primeiro garante que depoimentos de novos delatores deverão mostrar se houve ou não propina para a campanha de Dilma. O segundo disse nunca ter tratado desses temas com Lula ou Dilma. Youssef chegou também a dizer que tudo era decidido sob o conhecimento do Palácio do Planalto. O fio continuará a ser puxado.

Impeachment muito longe

A ideia de impeachment vai se afastando do terreno da probabilidade. A base governista toma fôlego com os 500 milhões de reais que estão sendo distribuídos para atender emendas parlamentares. É oxigênio a vitalizar o corpo do governo Dilma. Eduardo Cunha, por sua vez, não quer ver sua imagem dentro do pacote da vingança. Teme perder em plenário eventual pedido de abertura do processo de impeachment. E desafia o MP a mostrar prova contra ele. Até agora, diz, não se viu um cheque, contracheque, ordem de pagamento, uma prova documental que o envolva.

Saídas para a crise I

Uma agenda que contemple saídas para a crise começa a ser discutida no Congresso. E na mídia. A TV Cultura, a OAB/SP, o Núcleo de Estudos Estratégicos da USP e Assembleia Legislativa de São Paulo promoverão intenso debate sobre o assunto. Analisemos a questão. A bonança só virá após passar a tempestade. A borrasca atinge principalmente o atlântico da economia. Ora, a calmaria nas águas da economia não virá naturalmente. Depende de fatores externos e internos. Os externos se ligam à conjuntura internacional. Não dependem do nosso controle. Os internos abrigam medidas para conter a gastança e aumentar a poupança interna. A demora dessas medidas prolongará a tempestade. Daí a pressa do ministro Joaquim Levy pela aprovação do pacote fiscal. Ocorre que chegou ao Senado já desidratado. Por isso, a calmaria não virá de imediato.

Saídas para a crise II

Para complicar a equação, há outro oceano que também está borrascoso. É o oceano índico da política. Suas Excelências, os congressistas, lutam para manter suas reservas eleitorais. Precisam, para tanto, mostrar serviço em suas regiões. Carecem de verbas, recursos para atender compromissos e promessas. Acabam de receber 500 milhões tirados de um orçamento apertado. O que isso significa ? Uma retirada pesada de grana dos cofres do Tesouro, que vai significar mais obstáculo para o ministro Levy cumprir a missão de equilibrar as ondas econômicas. E, agora, como resolver esse aparente impasse ?

Saídas para a crise III

Uma boa alternativa seria a formação de um pacto pela governabilidade, reunindo Executivo, Legislativo e os setores produtivos. Será inviável qualquer alternativa que não imponha sacrifícios e limites. Os círculos de negócios terão de se conformar com baixa lucratividade no período de vacas magras, os políticos precisam compreender que o ciclo de aperto exige contenção de despesas e menos recursos para atendimento às demandas políticas e o Executivo, em meio às pressões e contrapressões, deverá se esforçar para evitar o naufrágio de sua embarcação. Não será fácil. A política chegou a um curso de intensa polarização. As bandas estão açodadas. Os setores produtivos estão no limite de suas possibilidades.

Saídas para a crise IV

O pacto pela governabilidade comportaria, necessariamente, um amplo programa de mudanças, a partir das reformas política, eleitoral, fiscal/tributária. O apaziguamento dos contrários, pelo menos no ciclo mais acirrado da crise, é tarefa hercúlea. Como chegar a um consenso em matérias tão polêmicas como sistema de voto, tributos e redistribuição de receitas, guerra fiscal, etc.? Se houver vontade política, tudo se conseguirá. Com repartição de sacrifícios, claro.

Quem comandará o processo ?

Que perfil terá condições de comandar este processo ? A atual mandatária ? Teria ela condições de fazer voltar a confiança, a auto-estima, a esperança dos brasileiros ? Esse é o imbróglio da toda a questão. A maioria das pessoas acha que ela não teria condições de chefiar um novo projeto para o Brasil. Muitos apontam o vice-presidente da República, Michel Temer, como eventual artífice dessa construção. Mas essa também é uma alternativa complicada, pois exigiria a renúncia da presidente. Este termo não combina com a índole da mandatária. E o impeachment ? Hipótese muito distante.

Corajosa, admirada

Um dirigente de uma grande empresa brasileira confessa a este escriba : "a presidente Dilma faria um gesto de grandeza cívica caso renunciasse. Não apareceria como derrotada. Emergiria como pessoa corajosa. Melhoraria sua imagem. Reconheceria as dificuldades da conjuntura e a impossibilidade de levar adiante um projeto de reconstrução nacional. Seria aplaudida. Não sairia como derrotada. E até daria chances ao PT de se viabilizar, como partido, às eleições de 2018, com Lula candidato. Esse desenho seria o mais viável e o menos curto para o Brasil refazer o caminho do desenvolvimento".

Nome, quem ?

As saídas para a crise esbarram, portanto, em um nome. Quem guiará o país nos próximos tempos ? O vice é o nome mais indicado. Mas, por sua índole, não é dado a maquinações, emboscadas, saídas ao arrepio da lei. Trata-se de um professor de Direito Constitucional que preza a lei a ordem. A par da fidelidade. A não ser que seu partido, o PMDB, tome a decisão de se afastar do governo. Essa é outra história. E essa data é mais ou menos consenso, a partir da decisão a ser tomada pelo Congresso do partido em novembro. Nessa ocasião, o PMDB apresentará um projeto ao país e tomará a decisão sobre candidaturas próprias aos pleitos de 2016 e 2018.

O grande Rosa

Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, prezava o que chamava de 'Relações Exteriores', ou seja, suas relações pessoais com terceiros. O velho Rosa alinhava as normas de sua 'mineirice', dentre as quais Zé Abelha nos brinda com essas :

"Combater a expansividade, em todas as suas formas. De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio".

"Dominar todos os impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades".

"Never explain, never complain". (Nunca explicar, nunca queixar-se !)

"Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo)".

"Não expressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos".

"Cada exclamação, cada palavra, cada gesto - conservador - aumentam nossas reservas".

"Moderar todos os movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento".

Redução de ministérios

Reduzir os ministérios de 39 para 29 tem um efeito mais simbólico. Dá ideia de corte de despesas, enxugamento da máquina administrativa. Mas é algo como cobrir um santo e descobrir outro. As estruturas serão unificadas, mas os programas e equipes deverão apenas mudar de status no papel. Por quê ? Ora, os partidos da base não vão querer perder os espaços conseguidos na velha estrutura. Poderemos assistir a uma briga de foice às claras, caso as mudanças sejam feitas.

Terceirização

Terça-feira, um importante grupo de dirigentes de entidades ligadas à terceirização e ao trabalho temporário foi recebido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Que teve oportunidade de ouvir sugestões, observações e aspectos polêmicos do projeto 4330, que tramita pelo Senado. Falaram na oportunidade Vander Morales, presidente da Fenaserhtt e do Sindeprestem (Federação Nacional e Sindicato das Empresas de Terceirização e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo) ; Genival Beserra, presidente do Sindeepres (Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros) ; Vivien Mello Suruagy, presidente do Sinstal (Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços em Telecomunicações) ; Jorge Vasquez, coordenador da Câmara de Trabalho Temporário do Sindeprestem ; Amâncio Barker, assessor político do Sindeepres ; José Carlos Teixeira, presidente do Sinserht (Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços e Trabalho Temporário no Estado de Minas Gerais) ; Mario César Ribeiro, presidente do Sindeepres (Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços no Estado do Espírito Santo). Este consultor/escriba fez a coordenação do Grupo.

Desemprego na GSP

A taxa de desemprego na região metropolitana de SP aumentou de 13,2% em junho para 13,7% em julho, de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese. Foi a sexta alta mensal consecutiva. Em julho do ano passado, o desemprego na região era de 11,4%. No município de SP, o desemprego subiu de 13,5% para 13,8%, enquanto nos demais municípios da Grande SP houve aumento de 12,8% para 13,6%.

Ética e razão

Uma questão recorrente : o que impulsiona a onda ética que se propaga por quase todas as regiões brasileiras ? Em primeiro lugar, o despertar da racionalidade. O Brasil está deixando para trás o ciclo da emoção. A sociedade toma consciência de sua força, da capacidade que tem para mudar, pressionar e agir. Vivemos em pleno ciclo da autogestão técnica. Trata-se de uma aculturação lenta, porém firme, no sentido do predomínio da razão sobre a emoção. O crescimento das cidades e, por consequência, as crescentes demandas sociais ; o surto vertiginoso do discurso crítico, revigorado por pautas mais investigativas e denunciadoras da mídia nacional ; o sentimento de impunidade que gera, por todos os lados, movimentos de revolta e indignação ; e, sobretudo, a extraordinária organicidade social, que aparece na multiplicação das entidades intermediárias e nos movimentos de rua, hoje um poderoso foco de pressão sobre o poder público - formam, por assim dizer, a base do processo de mudanças em curso.

Melhorar o discurso

Como melhorar o discurso ? Lubrificando suas alavancas. Há quatro tipos :

1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa.

2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate a coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso.

3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia.

4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas.