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Porandubas nº 460

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Atualizado às 08:36

Abro a coluna com uma historinha do RN.

Salgar meu pai

Historinha do RN, mais precisamente de Macaíba, vizinha à capital, Natal.

Em certa administração municipal, constituída em sua grande maioria por pessoas de Natal, um pobre rapaz procurou o gabinete do prefeito com um problema urgente. Era uma sexta-feira. "Meu pai morreu e vim pedir o caixão", suplicou o jovem à secretária natalense da mais fina flor da moderna burocracia. "Hoje não há como atender. O prefeito e todo o pessoal foram a Natal. Volte segunda-feira, está bem?", respondeu a funcionária consciente do dever cumprido. Desolado o rapaz recuou e abriu novamente a porta do gabinete para nova abordagem : "Dona, poderia me arranjar dois reais ?" "Pra quê você quer o dinheiro ?", interrogou a eficiente servidora. "É pra comprar sal grosso, salgar o meu pai até segunda-feira !" Quem conta o "causo" é Valério Mesquita.

Michel I

Michel Temer é um vice-presidente da República cioso de seus deveres. Trata-se de um perfil sempre alinhado à letra da lei. Educado, equilibrado, tem uma qualidade rara entre os políticos : sabe ouvir. E pondera bastante sobre o que ouve. Costuma concordar com o interlocutor, mesmo que, a seguir, de modo que suave, comece a discordar. Atribui-se a ele a qualidade de "algodão entre cristais". Evita rachaduras, atritos. Dito isso, vale arrematar : não é de seu feitio dar recados com palavras e frases que possam parecer desrespeitosas.

Michel II

Os episódios em que aparece como pivô e que chegaram a criar certo distanciamento da presidente da República podem ser considerados como eventos comuns à crise. Não se pode negar a gravidade do momento, a necessidade de um ponto de união e a obviedade que nenhum governante tem condições de sustentar por muito tempo uma baixa avaliação, registrada hoje em apenas 7% para a nossa mandatária.

Dilma I

A presidente é cercada por um grupo de assessores e ministros que não veem como positiva a aliança tática entre PT e PMDB. Sabe-se, por exemplo, que Aloísio Mercadante exerce grande influência sobre a presidente. Mas não faria parte do grupo de Lula. Por isso mesmo, tem sido considerado um entrave na relação entre a presidente e os partidos políticos. Com a saída de Michel Temer da articulação política do varejo, esse papel tende a ser acumulado por Mercadante e, nas planilhas, por Giles Azevedo, assessor de confiança da presidente. Mercadante arrisca-se a aumentar as restrições que a área política tem contra ele.

Dilma II

Dilma retira parcela do poder dos chefes militares, transferindo algumas decisões - política de pessoal das Armas - para o Ministério da Defesa. Na visão desse analista, trata-se de uma posição que não deve ter agradado às cúpulas militares. A presidente desarruma mais ainda a desorganizada estrutura de mando.

Lula

Luiz Inácio tem dado muitos conselhos à presidente Dilma, particularmente no que se refere à articulação política. É o que se lê nos jornais. A relação da presidente com o PMDB é crítica. Lula sabe que as crises políticas da contemporaneidade se devem às precárias relações com os partidos, principalmente com o PMDB. O ex-presidente demonstra desejo de ajudar, mas tem papel limitado. Promete correr o país na tentativa de salvar o PT do naufrágio em 2016. E se Dilma sair do governo, Lula poderia viabilizar sua candidatura de oposição "aos governantes que comandam o país" (claro, projeta-se essa frase para 2018).

Mercadante

O chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, parece mais talhado para lidar com a feição econômica do que com a feição política. Por isso, se for consolidado como articulador político, poderá ser uma espécie de macaco em um armário de louças. Mercadante teria vontade de viabilizar seu nome para o futuro, como candidato à presidente pelo PT. A ala lulista brecará. O ministro navega nas águas das investigações. O tiroteio contra ele tende a se expandir nas próximas semanas.

Levy

É patente que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, perdeu força nas últimas semanas. E quem teria levado parte dessa força perdida ? Nelson Barbosa, o ministro do Planejamento, agora escalado para dar o tom maior da economia. Teria este o apoio de Mercadante. De sua cabeça teria saído a ideia de ressuscitar a CPMF. Na Europa esta semana, Levy tenta convencer empresários que a economia começa a se recuperar. Uma inverdade. A crise econômica terá muito fôlego.

Edinho

Edinho Silva, o ministro da Secretaria da Comunicação Social, está sendo investigado. Deve entrar na relação do STF e, nessa condição, abre mais um alvo contra o governo. Não é conveniente continuar sendo o porta-voz do Governo. Seria um ato de grandeza se os ministros arrolados na lista da Lava Jato pedissem licença de seus cargos até a conclusão das investigações.

Zavascki

O ministro Teori Zavascki dará o tom da Lava Jato na orquestra política. Dele dependerão os pedidos de investigação, os despachos para ouvir os indiciados, a reunião de provas, etc. O futuro de muitos políticos estará em suas mãos.

Mendes

O ministro Gilmar Mendes é visto como o aríete a furar os dutos das contas de campanha da presidente Dilma no TSE. Tem acusado o procurador-Geral da República, Janot, de agir como advogado de defesa da presidente. Ao fazer isso, Mendes ultrapassa o limite da linguagem sóbria que cabe aos membros da mais Alta Corte. Mas a insinuação do ministro Gilmar até provocou uma reação de Janot, que propõe a investigação das contas de campanha da presidente. Ou teria sido coincidência ?

Moro

O juiz Sérgio Moro continua a fazer seu árduo trabalho na primeira instância, estourando dutos e malhas intestinas que agem nos subterrâneos da administração pública. Nos últimos tempos, Moro tem aparecido em muitos eventos como palestrante. Talvez não seja muito conveniente a super exposição do juiz Moro. Deveria conter mais o verbo. Para não ser engolido pelo Estado-Espetáculo.

Haddad

O prefeito Fernando Haddad começa a ser identificado como Raddard, o boneco que vai desfilar na campanha de candidatos de oposição em 2016. Calcula-se que os radares de SP vão encher os cofres da municipalidade. Este consultor político ouviu dois números : R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. Leu também que as novas placas nas marginais, mudando a velocidade, foram encomendadas a uma empresa da capital, ao custo, cada, de R$ 1.000. Um possível candidato a vereador em 2016 garante que o preço oferecido a ele, para a confecção do mesmo tipo de placa, é de R$ 80.

Marta

Marta Suplicy vai lutar com todas as forças para ser a candidata do PMDB à prefeitura de SP em 2016. Tem um grande recall. Ex-prefeita, consegue ainda reunir uma grande bacia de votos nas margens. Teria condições de explorar bem o céu Educação. Mas não tem vivência com o PMDB. Terá de conquistar o partido e evitar a autossuficiência. Marta, diz-se, não se guia por cartilhas de outros. Esse é um busílis a enfrentar.

Andrea

Andrea Matarazzo parece ter, hoje, o maior número de apoiadores no Colégio eleitoral que escolherá o candidato tucano. Hoje. Amanhã, porém, pode ser ultrapassado por outros contendores, eventuais pré-candidatos, como o esforçado João Doria. João abre apoios por muitos lados. É conhecido pela capacidade de aglutinar. Não é jejuno em política, como se pensa, sendo um tucano dos velhos tempos. Seu pai, de mesmo nome, foi deputado Federal e cassado. Obstinado, não será fácil para os outros passarem a perna nele. Os deputados Federais Bruno Covas e Ricardo Tripoli pensam em um acordo de união entre eles.

Doria

João Doria é um aglutinador. Um perfil-imã. Liga um com outro, junta grupos, reúne equipes. E tem extrema facilidade com a expressão, seja na interlocução direta, seja na exposição de rádio e TV. Dos pré-candidatos tucanos, é quem melhor desempenha a arte da palavra. Claro, deverá encontrar fortes adversários - Andrea Matarazzo, por exemplo - nas prévias partidárias.

Datena

Este consultor acredita que José Luiz Datena não deve ser candidato. Até poderia fazer barulho. Mas a candidatura do apresentador de TV seria um ponto muito fora da curva. Campanha exige muito dinheiro. Datena teria mais essa dor de cabeça.

Cunha

Eduardo Cunha será o mestre-sala da política nas próximas semanas. Vamos acompanhar como o STF agirá no que diz respeito às investigações envolvendo o presidente da Câmara. Uma coisa parece certa : ele não renunciará ao cargo de presidente da Câmara. Na visão deste consultor, ficará até o término da legislatura.

Renan

O presidente do Senado, Renan Calheiros, poderá ser contemplado com fatia maior na próxima recomposição do Ministério. Um dos nomes que poderiam ser reconduzidos à posição de ministro é o de Vinicius Lajes, ex-ministro do Turismo, muito bem avaliado por seu perfil técnico e capacidade de liderança.

Marketing eleitoral

À guisa de orientação, este consultor oferece pequenas lições de marketing eleitoral que podem alimentar o planejamento da campanha de 2016.

Planejamento

A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade : peru não morre de véspera.

Viabilidade

Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos : a) Avaliar a situação ; b) Adequar a relação recurso/objetivo ; c) Concentrar-se no foco ; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário ; e) Economizar recursos ; f) Escolher a trajetória de menor expectativa ; g) Multiplicar os efeitos das decisões ; h) Relacionar estratégias ; i) Escolher diversas possibilidades ; j) Evitar o pior ; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando ; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada ; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza" ; n) Não se distrair com detalhes insignificantes ; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.

Importar modelos

Importar modelos é uma prática lastimável. Na campanha presidencial da Argentina de 1999, uma peça produzida por um marqueteiro brasileiro mostrava o candidato governista, Eduardo Duhalde, cabisbaixo, e um locutor dizendo : "Você acha justo o que estão fazendo com ele ?" Para a machista sociedade argentina, um candidato que se apresenta como perdedor é o retrato de uma tragédia. A peça provocou a ira implacável da mulher do candidato, Hilda. A cultura argentina não cultiva tanto a emoção quanto a brasileira. O trabalho, considerado amador, provocou a queda de Duhalde nas pesquisas. Foram torrados US$ 25 milhões em dois meses.

Regrinhas para candidatos

Primeira orientação para um candidato : procurar saber para onde vai o vento, descobrir o rumo a seguir. Cada município comporta modelagem própria : condições geográficas, proporção entre votos das áreas urbanas e rurais, demandas regionais (bairros), cultura das comunidades, infraestrutura, colchões sociais (confortáveis/desconfortáveis), linguagens comuns, líderes populares, tipos folclóricos, caciques e elites, meios de comunicação, etc. Colocar todos esses ingredientes no liquidificador e extrair o caldo grosso. Bebericar em doses pequenas apurando o gosto. Adicionar pitadas dos elementos que faltam no caldo. Testar essa receita entre agosto e outubro de 2016.