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Porandubas nº 468

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Atualizado às 08:41

Abro a coluna com uma hilária historinha das bandas da PB.

E tome chicotada

Encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da PB. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores ; no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios diários. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'.

- Como ? - reclamaram - Você não ensaiou !

- Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala ! E eu sou o dono.

O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. A cidade em peso compareceu. No momento mais solene, plateia em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas.

- Oxente, cabra, tá machucando ! Reclamou Jesus, em voz baixa.

- É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião.

E tome chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião :

- Vem, desgraçado ! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso !

O centurião correu, Jesus com a peixeira correndo atrás e a galera em delírio gritando :

- É isso aí ! Fura ele, Jesus ! Fura, que aqui é a PB, não é Jerusalém, não !

A locomotiva emperrada

Diz-se que a crise por que passa o país tem a índole fincada na política. Em termos. Se a economia vivesse tempos saudáveis, a política seria mais amena e menos conturbada. E a razão é simples : a economia é a locomotiva que puxa o trem, com todos os vagões da sociedade e da política. Daí a triste negociação : a locomotiva está emperrada. Seus eixos estão tortos. E o pior é que não há perspectiva de arrumação das peças tortas no curto prazo. Que eixos são estes ? Vejamos.

Desemprego

O desemprego ameaça a cada dia mais e mais brasileiros. A taxa se aproxima perigosamente dos dois dígitos. Desempregada, a pessoa entra em desespero. Baixa a auto-estima. Sabe que vai faltar dinheiro no bolso, comida na geladeira, leite para os filhos, aperto no estômago. Pois bem, cerca de três milhões de brasileiros, entre os 30 milhões que chegaram à classe C, descem à classe D. A equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) se desfaz. A situação tende a se agravar nos próximos meses.

A inflação

Da mesma forma que o desemprego, a inflação também se aproxima dos dois dígitos. Quer dizer : as compras nas feiras e supermercados são modestas ; para manter os suprimentos na normalidade, os consumidores terão de desembolsar mais. Ocorre que falta o "mais" ? A inflação das feiras livres beira os 12%. Esta praga, aliada ao desemprego, deixa o fogo alto queimando a imagem do governo Dilma. Imaginem se o Brasil perde a condição de investimento com a nota de uma terceira Agência de Classificação de Risco. O pior está por vir.

Década perdida

Os dados são desalentadores : o PIB de 2015 ficará entre 3% e 3,5% e o de 2016, segundo as projeções, ultrapassará a casa dos 2%. O quadro é ruim. Ante o despenhadeiro que se enxerga, a projeção de institutos é de que a renda dos brasileiros em 2020 seja igual à renda de 2010. Já se fala em década perdida.

Gestão capenga

Dilma Rousseff era considerada, no início da gestão, um perfil técnico de respeito. Perdeu o eixo de sua identidade. Mostrou-se ineficaz. Sem grandes realizações para mostrar, a presidente tateia na escuridão. Tenta incrementar a articulação política, agora distribuindo cargos no segundo e terceiro escalões. Os políticos aceitam as recompensas, mas tão logo vejam as coisas se complicarem, pularão fora do barco. Há uma questão central fustigando a administração : como fazer ajuste fiscal sem causar sacrifício ? Como fazer uma agenda positiva se o ajuste entra na agenda negativa ? Lula só pensa em agenda positiva. Lula, mostra como se faz.

Congresso em chamas

Não se pode dizer que o Congresso passa por momentos tranquilos. O ambiente nas duas casas é tenso. O governo vê seu pacote fiscal criando atritos por todos os lados. A Comissão de Orçamento do Senado aguarda a defesa das pedaladas fiscais. Na frente do impeachment, até se pode enxergar certo alívio por parte da presidente. Houve um refluxo nos últimos dias. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, se esforça para esticar seu tempo na presidência da Casa. Mas espera, a qualquer momento, o pedido do PGR, Rodrigo Janot, para que o STF o indicie. Se o fizer, a Suprema Corte deverá fazer a solicitação ao Parlamento. O Conselho de Ética instala processo para apurar se Cunha mentiu aos deputados. É possível que o relator seja favorável a ele. O ambiente é tenso.

Partidos abrem veredas

Os partidos sentem a temperatura e preparam seu futuro. O PMDB acaba de lançar um documento forte - Uma ponte para o futuro - onde faz sérias críticas às políticas do governo. Trata-se de um freio de arrumação que o partido adota para direcionar seus passos. O PMDB, com este documento, abre veredas para 2016 e 2018. Vai se afastar gradativamente do PT. Ou, como prega o paper, com elegância. O PDT também não concorda com a política fiscal do governo. E deixa Ciro Gomes no ataque do jogo, a fim de poder se habilitar à candidatura presidencial em 2018. O PSB começa a organizar um contraponto ao foro de SP, onde se insere o PT. Acaba de ingressar na Condução Socialista Latino-americana por meio do deputado Beto Albuquerque. Que discute a política do continente. O PSB deve ter candidato próprio em 2018.

Escancarando o jogo

As lupas do Parlamento e do Judiciário continuam a jogar luzes sobre a escuridão dos jogos de poder. O MPF e a PF fecham o cerco à família Lula da Silva. Há um procedimento investigativo criminal no DF ; a operação Zelotes investiga Luís Cláudio, o filho de Lula, por tráfico de influência ; a CPI da CARF, no Senado, analisa pedido para ouvir Lula e seu filho ; a operação Lava Jato investiga o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, de fazer intermediação para compra de um navio sonda da Petrobras ; são investigados os pagamentos feitos à LILS, empresa do ex-presidente, pelas palestras que proferiu mundo afora ; a COAF (uma bomba) descobre transações bancárias de quase meio bilhão de reais nas contas de Lula, Palocci, Erenice Guerra e Fernando Pimentel. Essa história ainda vai render por muito tempo.

Abrindo as comportas

As comportas são abertas em todas as instâncias. No Congresso, a CPI do HSBC continua a investigar contas de brasileiros na Suíça. O STF, a par da possibilidade de indiciar o presidente da Câmara, investiga parlamentares, entre eles, os deputados Roberto Goes (PDT-AP) e Bernardo Santana (PR-MG), além do senador Ivo Cassol (PP-RO). O juiz Sérgio Moro, que acaba de condenar a quase 20 anos de prisão o herdeiro da empreiteira Mendes Junior, vai ouvir o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Pode vir mais bomba deste depoimento. O TSE deve escolher Gilmar Mendes como relator do processo contra a chapa Dilma/Temer. A revista Veja também enfrenta processo. O procurador Reginaldo Pereira Trindade processa a revista no STJ. A paisagem mais se parece uma briga de foice entre cegos no escuro.

Longo prazo

O clima de litigiosidade que se observa no país certamente continuará por tempo. A política passou a ser um empreendimento que anima novos contendores. Além disso, estamos caindo no imenso vácuo de lideranças. Os maiores líderes nacionais pertencem à geração de 64. O país se ressente da falta de quadros que expressem grandeza e respeito. Na paisagem, quem sobressai é o Poder Judiciário, que começa a assumir o papel de redentor moral da nação. O Parlamento está no fundo do poço em matéria de credibilidade. O Executivo está na lona. O que esperar ? Pelos tempos de amanhã. O Brasil só será potência no longo prazo.

Eleições de 2016

As eleições do próximo ano propiciarão a abertura de um ciclo mais radical de renovação política. Veremos perfis assépticos, não contaminados pelo vírus das mazelas tradicionais. Teremos uma campanha mais enxuta, racional e participativa. E modesta no capítulo dos recursos. Mas não se espera por reformas estruturantes no curto prazo. A semente de nova cultura política deverá frutificar. Em condições de influir em 2018.

PT

O PT será devastado, mas não a ponto de desaparecer. Lula continuará a ser seu ícone. Menos carismático, o bombardeado Lula pode, até, se recuperar. Se a economia de Dilma melhorar e as margens voltarem a ser contempladas com programas assistencialistas. Qual a chance de 0 a 10 ? 3.

PMDB

O PMDB deverá ter candidatos próprios no maior número de municípios. Pretende conservar e até alargar a base do edifício político. Nunca será um ente harmônico. Terá sempre suas divisões. Precisa ter escopo, programas, ideias. Se continuar a ser amorfo, não resistirá aos novos tempos.

PSDB

Os tucanos estão sem discurso. Fazem oposição por oposição. Qual é seu projeto para o país ? Todo o esforço do tucanato será nessa direção. O partido precisa chegar até as margens sociais, nos centros e no interior.

PSD, PDT, PSB, PP

Os partidos médios haverão, igualmente, de procurar seus ideários. Sem doutrina, fenecerão. É possível identificar uma virada à direita, encabeçada pelo PSD de Kassab, uma abordagem de esquerda por parte do PSB, cada um puxando outros partidos médios e pequenos para fortalecer seus territórios. Não haverá espaço para 33 siglas.

Dilma

É o fim da carreira ? Será que não entraria no Parlamento ? Tem índole para isso ?

Lula

Andará ainda muitas léguas. Mesmo com a língua cansada.

Aécio

Tem idade para circular bem na política por um bom tempo. Precisa adensar sua credibilidade.

Alckmin

Jeitoso, boa conversa, diplomática, precisa ter visibilidade nacional.

Serra

Preparado, calculista, ambicioso, carece ir às margens. Tomar um banho de povo.

Marina

Imagem de mulher sofrida, uma amazônica que transpira ética. Mas parece sem força para aguentar o rojão da política.

Tipologia eleitoral

Atenção, candidatos e assessores. Vejam os principais perfis de candidatos

1. O continuista - Candidato à reeleição na prefeitura, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, o continuista tem grandes vantagens sobre outros. Particularmente se construiu forte identidade junto à comunidade. Pontos fortes : ações e obras a mostrar. Pontos fracos : mesmice e eventuais denúncias de corrupção/nepotismo, etc.

2. O oposicionista - Deve encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa. Para ter sucesso, precisa captar espírito da comunidade, auscultar demandas, fazer um corpo a corpo, deixar-se mostrar, ganhar confiança do eleitor. Pontos fortes : alternativa à velha ordem ; encarnação do espírito do novo. Se for um perfil já conhecido, impregná-lo com o verniz da renovação. Pontos fracos : pequena visibilidade ; estruturas de apoio mais tênues.

3. A terceira via - O candidato da terceira via apresenta-se como perfil para quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso moderado, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. E demonstrar que tem melhor programa do que os dois candidatos. Pontos fortes : bom senso, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Pontos fracos : falta de apoios das estruturas.