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Porandubas nº 537

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Atualizado às 08:14

Abro a coluna com uma historinha de Mossoró/RN.

As mãos limpas de Sócrates

Debate na Câmara dos Vereadores de Mossoró. De um lado, Toinho Duarte toma posição, recorrendo a um gesto bíblico para melhor se fazer compreender:

- Excelências, como "Sócrates", eu lavo as mãos....

Com seu jeito sarcástico, depois de pedir um aparte o também vereador Lázaro Paiva encurrala-o com um necessário reparo histórico:

- Excelência, me desculpe. Quem lavou as mãos não foi Sócrates (filósofo grego), mas sim Pilatos.

Sem dar o braço a torcer, Toinho retoma a palavra para a estocada final:

- Excelência, o senhor quer bem dizer que Sócrates nunca lavou as mãos, hein? Hein?

(Do Livro Só Rindo 2, de Carlos Santos)

O melhor e o mais selvagem

O homem, em estado de perfeição, ensinava Aristóteles, é o melhor dos animais. Quando, porém, afastado da lei e a da Justiça, é o mais selvagem e impiedoso de todos, pois, destituído de qualidades morais, usa a inteligência e o talento como armas para praticar o mal. É possível vislumbrar no pensamento do grande filósofo grego a inspiração que emoldura a sábia (e poética) observação do então ministro Carlos Ayres Britto, por ocasião da sessão da Suprema Corte que julgou o núcleo político da Ação Penal 470 pelo crime de formação de quadrilha.

Deus no céu...

Ayres Britto, também poeta, escreveu na ocasião: "Deus no céu e a política na terra. Por quê? Porque a política é o meio pelo qual a sociedade constrói e reconstrói o Estado. A política é o instrumento de concretização dos anseios do povo. É, acima de tudo, a forma pela qual se pode buscar o bem-estar coletivo, a manutenção da ordem e a concepção do progresso".

Brasil policial

Sensação geral: o Brasil virou uma gigantesca delegacia de polícia. A crise política adentrou na esfera policial. Quase todos os dias vemos prisões, algumas envolvendo políticos, outras levando empresários. A PF cumpre os mandados autorizados por juízes. As operações em sequência avolumam o contencioso da operação Lava Jato. Anteontem foi a vez do ex-ministro Geddel Vieira Lima e do empresário de transportes do Rio de Janeiro, Jacob Batista Filho.

Cerco ao governo

Cada detenção de políticos, principalmente de ex-ministros, impacta negativamente sobre a imagem do Governo. A impressão é a de que há uma estratégia bem definida para estreitar a margem de articulação governamental. Uma cadeia de impressões se estabelece: os deputados se impressionam com as detenções e fazem raciocínios sobre os efeitos que tais prisões geram no sistema cognitivo dos eleitores. E começam a tomar decisões que garantam sua sobrevivência política. Pensam em 2018. E sob este pano de fundo, vão decidir sobre o pedido de investigação feito pelo STF à Câmara Federal.

O efeito do discurso

Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem muito maior importância.

A imagem da mala, a soma de GRPs

Projetemos esses dados sobre a mala de dinheiro que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures carregava ao sair de uma pizzaria. Ganhou status de símbolo maior da corrupção. Imaginem, agora, essa imagem sendo apresentada quase todos os dias pelo Jornal Nacional, da TV Globo. O GRP (Gross rating point), que mede alcance e frequência das campanhas, no caso da imagem da mala, equivale a uma soma dos GRPs de campanhas maciças de produtos de consumo de massa. Ou seja, ocupa todos os lados do cérebro dos telespectadores. É com essa força que a TV Globo conta para despachar o presidente. E a repetição diária das linguagens (diálogos e imagens) acaba plasmando o conceito de "verdade".

Bonner

Ao encerrar o Jornal Nacional da última segunda-feira, 3, William Bonner se despediu anunciando o título do filme da Tela Quente, que seria transmitido após a novela das 21h. O filme: era Caçada ao Presidente. Bonner mostrou um 'sorriso sarcástico'. Muitos interpretaram o tom como uma indireta a Michel Temer.

A corrida

A imagem da mala assume outros significados: a corrida do Loures é associada à fuga, despiste, medo de flagrante, ilícito. A repetição dispara sentimentos negativos e comentários jocosos. O elo com o presidente é feito pela oralidade: homem de confiança, amigo, fiel aliado. E dessa forma, os mecanismos da cognição são acionados contra o ex-deputado e, por conseguinte, na autoridade a quem servia. A repetição, sem fatos novos que justifiquem tantos GRPs, acaba fechando o circuito de campanha negativa.

A teia da delação

Sem terem para onde correr, os envolvidos são lançados na malha da delação. Sob certa dose de coação (e coerção) psíquica, que se extrai dos duros ambientes dos cárceres (salas pequenas, sem ventilação, sem janelas, sem aparelhos sanitários). Ao fundo, a pressão familiar, que funciona como bússola de salvação. A família luta para que pais, filhos e parentes presos voltem para casa. Mesmo com tornozeleiras eletrônicas.

Um fim para a crise

A crise crônica que consome a esfera política chegará ao fim? Quando? Em que circunstâncias? O fato é que a sociedade clama por uma nova página no dicionário da crise. Quer ver assepsia, compromisso, verdade, transparência, política séria. A saída é a reforma política. Esta, porém, está ameaçada. Pode não sair do papel. Será uma frustração. As mesmas notícias, todos os dias, esgotam o estoque de paciência do telespectador. Que clama por um país que tem de dar um basta ao PNBC, Produto Nacional Bruto da Corrupção.

Um livro que vale a pena

"TRABALHISTA! E AGORA"? Onde as Empresas Erram. Eis um grande livro para a compreensão do sistema de trabalho e a Justiça do Trabalho no país. O autor é o juiz Marlos Augusto Melek. Um perfil arrojado, que explica, de maneira didática, as distorções na área do mercado. E sem juridiquês. Já está na 3ª edição.

Mané

Mané era aquele esforçado sujeito que, obcecado pela ideia de escapar do fundo do poço, onde caiu, tornou-se insensível a qualquer ajuda externa. Uma pessoa ouviu um barulho, aproximou-se do poço, jogou uma corda e gritou: "Pegue a corda e saia." Irritado, o bronco respondeu: "Não vê que estou trabalhando? Não quero sua ajuda." Leitor, tem algum Mané ao seu redor?

PT vai às ruas por Lula

O PT promete grandes mobilizações de rua caso Lula seja condenado pelo juiz Sérgio Moro. O partido admite que políticos de todos os partidos sejam condenados e até presos. Luiz Inácio, porém, é diferente. Não pode ser condenado e jamais preso. O petismo quer convencer o mundo de que não tem nada a ver com a bandalheira que corrói a pátria.

Mais delações à vista?

Há quem esteja vendo mais delações ali na frente: Lúcio Funaro, Eduardo Cunha e Rodrigo Rocha Loures. O que diriam? Colocariam mais lenha na fogueira? A questão que alimenta tensões entre procuradores e advogados é: e as provas? Pode-se condenar alguém porque foi delatada por outro? Os advogados exigem provas. O verbo de uns e outros é farto. Os juízes é que vão decidir a parada.

Credenda e Miranda

A política é o estuário das expectativas e demandas sociais. Duas referências animam seus eixos: os "credenda", coisas a serem acreditadas, a partir do sistema legal, e os "miranda", coisas a serem admiradas, a partir dos símbolos. Daí a inescapável pergunta: o que há para crer na política brasileira e o que há para admirar? Aos ouvidos chega o eco: nada. As razões para tanto se abrigam em campos múltiplos, mas a origem dos males recentes é a consolidação do PNBC (Produto Nacional Bruto da Corrupção), cuja raiz quadrada se extrai dos números que a esfera privada subtrai da res publica.

Proposta do Sescon

O Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo faz interessante proposta na área da reforma trabalhista. Prega que sindicatos, federações e confederações das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais e as centrais sindicais deverão prestar contas, quando solicitadas, ao Tribunal de Contas da União, sobre a aplicação dos recursos provenientes das contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas, de que trata o art. 149 da Constituição Federal, e de outros recursos públicos que porventura venham a receber.

Os recursos

O Sescon explica: recursos provenientes de que trata o caput são aqueles advindos das receitas geradas pelos recolhimentos das contribuições sindicais, estabelecidos na forma da lei e que deverão ser aplicadas integralmente nas finalidades estatutárias. E arremata: "Não se aplica à eventual exigência mencionada no caput aos recursos e demais receitas e despesas previstas no Estatuto e não oriundos das Contribuições Sindicais".

O ranking do Planalto

Protagonistas que poderão (poderão, não deverão) frequentar a planilha eleitoral de 2018: Geraldo Alckmin, João Dória, Luis Inácio, Marina Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Joaquim Barbosa, Josué Gomes da Silva (empresário, filho do ex-presidente da República, José Alencar), Nelson Jobim, Álvaro Dias, Ronaldo Caiado, Rodrigo Maia, Jarbas Vasconcelos. A galeria tende a ser mais extensa.

O gaguinho

Em 1976, o candidato da Arena a prefeito de Palmares renunciou. O governador de Pernambuco na época, Moura Cavalcanti, correu lá e pesquisou: "Quem é mais popular na cidade?" Resposta: "O gaguinho. Não fala nada". Foi forçado a assumir a candidatura. Subiu no palanque, endeusado pela oração do governador: "Prefeito não precisa falar. Precisa agir". A multidão, comovida, aplaudia o gaguinho, que apenas gesticulava com o V da vitória. Sem um dizer um A, ganhou. Os gaguinhos não têm mais vez no território eleitoral. Nossa democracia, de claudicante, está melhorando. Tornando-se mais participante.