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Entrevista onírica

Migalhas nº 4.000: Jornalismo, política e novas tecnologias, pela pena de grandes escritores

"Não há grande poeta que não seja um grande Vidente."

Da Redação

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Atualizado em 1 de dezembro de 2016 10:50

"As idéias não morrem; elas são o lábaro da justiça"
(Machado de Assis)

Há quase uma década você tem um encontro diário com pelo menos um deles. Começou com Machado, depois Euclides, Eça veio logo em seguida, e tantos outros após estes...

Anos de erudição gentilmente cedida a este rotativo e seus fiéis leitores. Migalhinhas de sabedoria e sagacidade polvilhadas nos milhares de informativos que nosso suntuoso parque gráfico já colocou em produção. Hoje, depois de anos de contribuição, honramos estes célebres autores com uma saborosa entrevista onírica.

Para celebrar o Informativo 4.000, reunimos os aplaudidos escritores das "Migalhas Literárias" para uma conversa sobre jornalismo, política e novas tecnologias. Afinal, segundo Olavo Bilac, "não há grande poeta que não seja um grande Vidente".


Após 16 anos levando migalhas de informação aos operadores do Direito, completamos, hoje, honrosas 4.000 edições de informativo. Neste contexto, qual é a perspectiva do senhor a respeito do jornalismo no século XXI?

O jornalismo ensina, professa, alumia sobretudo; é ele o grande construidor do futuro; não é só o fato de hoje que o prende - isso é o menos - é o fato que o futuro contém: ele vai das relações presentes às relações futuras e mostra a revolução lenta, serena, imensa, pela qual a humanidade transforma e refaz o seu destino no sentido da justiça. (Eça de Queirós)

O senhor acredita, nessa linha de raciocínio, que, em alguma medida, temos a função de descortinar as janelas do mundo para os olhos do leitor?

Nesse atropelo em que vivemos, neste fantástico turbilhão de preocupações subalternas, poucos têm visto de que modo nós nos vamos afastando da medida, do relativo, do equilibrado, para nos atirarmos ao monstruoso, ao brutal. (Lima Barreto)

De que maneira o senhor crê que a imprensa contribui para a evolução do país, da sociedade e das ideias?

Crescer é a altíssima lei dos seres, e a humanidade se engrandece pelo tempo na história, com uma condição - que não se esqueça o passado, para que não despreze o futuro. (Rui Barbosa)

Em razão dos anos de trabalho independente e comprometido com a verdade, conquistamos credibilidade e a honrosa confiança de fiéis leitores. Devemos, então, nos regozijar com o reconhecimento do bom trabalho e manter a "receita" destas migalhas?

Aplausos, quando os não fundamenta o mérito, afagam certamente o espírito, e dão algum verniz de celebridade; mas quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma cousa, prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia. (Machado de Assis)

Foi um caminho árduo o trilhado para chegar até aqui. Acha que deveríamos ter percorrido, talvez, uma rota mais "confortável" ou segura?

As épocas de conforto, ociosidade, prazer, não geram os mesmos caracteres que as de sofrimento, trabalho e esforço. (Joaquim Nabuco I)

Qual é a reflexão que o senhor deixa para Migalhas utilizar como bússola até a edição 5.000?

Independentemente do que estiver acontecendo à sua volta, faça o melhor papel que puder. (Luís Roberto Barroso)


PAÍS E POLÍTICA


Vamos falar sobre o país. O Brasil está passando por um momento político e econômico conturbado, que começou em 2014, nos primórdios da operação Lava Jato. A população parece estar descrente no futuro...

O que tem feito mal a muita gente não é a mentira; é o invólucro de palavras artificiosas com que se doira a algema que as verdades lançam ao pulso do homem. (Camilo Castelo Branco)

Em tempos como este, isso significa uma relativização negativa do "Ordem e Progresso"?

O lema da nossa bandeira é uma síntese admirável do que há de mais elevado em política. Precisamos, porém, não invertê-lo, o que seria um desastre. (Euclides da Cunha)

Candidatos a cargos políticos têm aproveitado a insatisfação social para se lançar como bastiões. Devemos nos preocupar com esse movimento?

Se um grande homem pode impor-se a um grande povo pela influência deslumbradora do gênio, os degenerados perigosos fascinam com igual vigor as multidões tacanhas. (Euclides da Cunha)

O que o senhor acha que isso nos diz sobre o povo?

Nós, os brasileiros, somos como Robinsons: estamos sempre à espera do navio que nos venha buscar da ilha que um naufrágio nos atirou. (Lima Barreto)

E o que isso nos diz sobre a política brasileira?

A classe política parece ter contraído, na bancarrota das promessas e dos compromissos, a faculdade de tornar-se insensível diante da miséria alheia. (Joaquim Nabuco I)

Depois de passar por um impeachment, diversas prisões de políticos, e ver uma brusca mudança no cenário político-partidário do país, qual é a lição que fica para 2017?

Nenhuma lição é tão poderosa como a do exemplo. Filtra-se ela pelo nosso espírito sem que o sintamos; e ela nos invade, nos conquista, nos possui totalmente, sem que possamos determinar ao certo qual foi o fato, o acontecimento que em nós estabeleceu este ou aquele sintoma, esta ou aquela inclinação, sem que possamos dizer o que foi que nos trouxe tal vício, tal idiossincrasia, tal propensão boa ou má. Tudo mais, que aprendemos de ouvido ou que aprendemos nos livros, se evapora com o tempo e desaparece; só essas lições, que nos entraram pelos olhos e nos espalharam na alma as suas raízes, só essas conservaremos por toda a vida e levaremos conosco para a sepultura. (Aluísio Azevedo)


NOVAS TECONOLOGIAS


Migalhas surgiu já amparado pelos alicerces da Era Digital e, na época do senhor, a disseminação de informações por um sistema binário era algo impensável. Como o senhor vê a internet e as transformações que ela promoveu na sociedade?

Se Pedro Álvares Cabral ressuscitasse, e viesse visitar o Brasil, não acharia nele grande mudança. O mato é o mesmo: muito bravo, inexplorado, cobrindo quase todo o território. As cidades, com raríssimas exceções, não diferem muito dos antigos aldeamentos dos índios. E os índios, apesar de vestidos à moderna, com cartolas na cabeça e sobrecasacas no corpo, não deixam de ser índios. (Olavo Bilac)

Com os avanços tecnológicos surgiram novas ferramentas para facilitar a vida homem. Temos certeza que já ouviram falar do famigerado Uber. Qual é a opinião dos senhores sobre o inovador aplicativo de transporte de passageiros?

Causa tédio ver como se caluniam os caracteres, como se deturpam as opiniões, como se invertem as idéias, a favor de interesses transitórios e materiais, e da exclusão de toda a opinião que não comunga com a dominante. (Machado de Assis)

Os primeiros sempre têm a vantagem de ser primeiros, e esta primazia, ou prioridade tem de si mesma tal excelência, que comparada entre igual e igual, sempre fica superior, e é necessário que a mesma igualdade se supra com algum excesso, para não ser ou parecer menos que igualdade. (Padre Antônio Vieira)

Ainda falando sobre essa onda tecnológica, se pudesse, adicionaria como amigo no Facebook o senhor ministro Luís Roberto Barroso, do STF?

A amizade e a gratidão (...) têm mil outras maneiras de se manifestar. (Camilo Castelo Branco)

Resposta Barroso: Empatia e afeto são a matéria-prima que faz as grandes amizades. E amigos de verdade não precisam estar próximos para estarem juntos. A amizade vence o tempo e a distância.

Resposta Olavo: A distância, tanto no espaço como no tempo, atenua a violência das impressões.

Resposta Lima: Só o tempo faz o que o tempo não destrói.

E qual mensagem enviaria no Whats dos leitores de Migalhas para fechar este 2016 com esperanças em um 2017 virtuoso?

Um tesouro, por grande que seja, repartido entre muita gente, torna-se migalha. (Bernardo Guimarães)

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Livraria Migalhas

As frases desta entrevista foram extraídas das 16 edições da coleção "Migalhas literárias". Publicados pelo Editora Migalhas desde 2009, os livros reúnem as melhores reflexões de grandes escritores como: Machado de Assis, Euclides da Cunha, Eça de Queirós, José de Alencar, Rui Barbosa, Aluísio Azevedo, Olavo Bilac, Camilo Castelo Branco, Bastos Tigre, Bernardo Guimarães, Paulo Bomfim, Lima Barreto, Joaquim Nabuco volume I e II, Luís Roberto Barroso e Padre Antônio Vieira.

A livraria virtual de Migalhas, onde é possível adquirir exemplares das obras, tem atualmente 57 livros à disposição dos migalheiros e mais de 95 publicados. Todas as publicações são títulos da Editora Migalhas, que cresceu exponencialmente desde seu surgimento.

Recentemente foram publicados pela editora livros como "A Vida, o Direito e algumas ideias para o Brasil", do ministro Luís Roberto Barroso, e "Ciência e Consciência", de autoria do também ministro do STF Marco Aurélio, em comemoração aos 25 anos recém-completados na Corte Constitucional.

Outras obras que levam o selo da Editora Migalhas são "Memorabilia", do aplaudido criminalista Tales Castelo Branco, "Comentários à Lei de Mediação", assinada pelo advogado Rubens Decoussau Tilkian, "Era do Consumo", pelo desembargador aposentado Rizzatto Nunes, "Diálogos sobre a Advocacia e a Cidadania", do bâtonnier da advocacia paulista, Marcos da Costa, entre outros títulos.

Anualmente, Migalhas também é responsável pela edição da obra "Top Lawyers", uma sofisticada publicação que reúne festejados escritórios de advocacia e artigos sobre temas pontuais que circulam nas mesas de discussão das principais bancas do país. O livro é dedicado às áreas de atuação, perfil dos sócios e casos de sucesso conquistados pelas bancas.

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