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Dr. Semana

Dr. Semana: Sérgio Cabral e a Masmorra

Pegando como exemplo o caso de Sergio Cabral, trancafiado na solitária porque não abaixou a cabeça para um integrante do Ministério Público, nosso cronista faz um diagnóstico do mal que afeta nossos novos heróis da República: a perversidade.

Da Redação

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Atualizado às 07:17

Como anunciado há alguns dias, Dr. Semana comunicou o respeitável público que se achava em solo pátrio, e que iria ministrar aos necessitados os socorros de sua infalível ciência.

Também, como informado, enquanto não estabelece definitivamente sua clínica, Dr. Semana irá, periodicamente, municiar os migalheiros com homeopáticos comentários.

Na dose ministrada semana passada, drágeas acerca dos dois pesos e duas medidas de nossa combalida Justiça.

No diagnóstico que faz hoje, Dr. Semana apresenta uma patogenia. O mal estudado é a nequícia ministerial.

Com efeito, apesar de ter diagnosticado essa afecção em várias situações, foi ontem que ela apresentou fétidas pústulas.

De fato, é o que se constata quando um promotor resolve meter o ex-governador do RJ, Sergio Cabral, em uma solitária, porque ele não estava de cabeça baixa quando "Sua Excelência" passou pelo corredor das celas de Bangu.

Enfim, deixemos o resultado do exame com nosso cirúrgico e festejado, Dr. Semana. Veja abaixo:

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"Sérgio Cabral e a Masmorra"

Por Doutor Semana

Caros leitores,

Depois de falarmos sobre dois pesos e duas medidas na Justiça brasileira, quero trazer um novo tema: o abuso de autoridade sem constrangimentos ou punições. 

 

Não falo do abuso maior, de prisões e condenações excessivas ou precipitadas, ais quais já são motivo de acaloradas discussões em rodas de advogados e juízes pelo Brasil e, mais recentemente, tema debatido em editoriais em nossos maiores jornais.

Quero falar de um tipo específico de abuso, mais comezinho, menos midiático, conhecido pela marginalidade carioca como "esculacho" e que agora também é exercido com desenvoltura contra os condenados famosos da Lava Jato.

Quero usar um personagem especial: o condenado Sérgio Cabral. Antes bajulado pela elite carioca, e por mais de uma década o político mais poderoso do Rio, hoje circula, mesmo com sua baixa periculosidade, entre Benfica e Bangu, com direito a temporadas em Curitiba.

Sua primeira experiência de abuso, ainda nos primeiros dias de cárcere, foi quando um jovem procurador da República pediu que ele se identificasse numa fila indiana de prisioneiros. Cabral se identificou como ex-governador do Rio, ato que o "diligente" integrante do parquet corrigiu prontamente para "prisioneiro Cabral". O ainda incauto preso caiu em prantos. Alguns dias depois desse infausto episódio, o "prisioneiro Cabral" tomou uma dose excessiva de remédios que, fora alguns desmaios e visível prostração, por sorte não tiveram maiores consequências.

Alguns meses atrás, fomos todos expostos à plangente figura do ex-governador sendo transferido para Curitiba, por um capricho de um magistrado que se sentiu ameaçado (?!) durante uma audiência. Algemado pelas mãos, pés e cintura, parecia um vilão, destes com poderes especiais dos filmes Marvel.

Seria ridículo e risível, se antes não fosse cruel e patético.

Todos sabem que o único poder do ex-governador foi ter usado o cargo para pedir comissões a empresários ou fraudado licitações. Crimes graves, sim, e que devem ter consequências. Mas nunca com a crueldade e perversidade aqui descrita.

Eis que nesta semana o "prisioneiro Cabral" é novamente removido, desta vez para a solitária. O motivo: contestou a ordem de um jovem promotor que queria vê-lo olhando para parede enquanto este fazia uma revista em sua cela. Pobre excesso de poder.

Outro dia já elogiei, neste espaço, nossa capacidade investigativa e o alcance, antes impensável, que nossos agentes da lei passaram a ter. Um avanço, dentre poucos recentes, para este sofrido Brasil.

Mas para que essa importante conquista não vire um pesadelo institucional, temos que urgentemente criar regras e limites para nossos novos "heróis". Aquilo que os vizinhos ianques chamam de 'checks and balances'.

A desenvoltura que estes jovens e imberbes concursados, com independência funcional, têm exercido seu quase ilimitado poder está deixando a sociedade pensante de cabelo em pé.

A oportunidade de poder humilhar uma ex-autoridade, ou um figurão abastado, tem trazido deslumbramento e regozijo a alguns, mas, vamos e venhamos, é de embrulhar o estômago do observador isento.

A civilização deixou, há muitas décadas, a escravidão, os duelos mortais, as lutas entre prisioneiros para diversão geral. Essas barbáries não fazem parte de nenhuma sociedade moderna. Não vamos, então, andar para trás.

Abaixo às masmorras; e punição imediata aqueles que caíam na tentação de serem os carrascos de plantão!

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