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O quinto poder

A imprensa é chamada o quarto poder. Além e acima dos poderes executivo, legislativo e judiciário, paira o poder da imprensa, crítico dos três, absolutamente independente, intocável, sem compromisso com nenhum interesse particular, nenhum partido ou corrente ideológica.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Atualizado em 16 de agosto de 2010 11:10


O quinto poder

Gilberto de Mello Kujawski*

A imprensa é chamada o quarto poder. Além e acima dos poderes executivo, legislativo e judiciário, paira o poder da imprensa, crítico dos três, absolutamente independente, intocável, sem compromisso com nenhum interesse particular, nenhum partido ou corrente ideológica.

Ora, de algum tempo para cá essa auto-imagem da imprensa perdeu totalmente sua razão de ser. Levantou-se outro poder, acima da imprensa, que a subjugou e desmente sua independência em face desta nova força social irresistível. Força implacável, que move o mundo, e sem a qual a outrora soberba e insubornável autoridade da imprensa não poderia subsistir materialmente. Trata-se da publicidade, esse ogro ou bicho-papão que engoliu a imprensa e se erige hoje no planeta inteiro como o quinto poder, acima do qual não há outro. A imprensa foi castigada no seu orgulho e na sua hipocrisia. Hoje os grandes jornais, principalmente em fim de semana, não aparecem sem aquela chamada "capa promocional", um anúncio de página inteira que envolve o matutino, escondendo as manchetes, e que precisa ser removido pelo leitor para ele saber o que se passa na sua cidade, em seu país e no mundo. A força econômica humilhou e esmagou o poder espiritual da imprensa em sua missão histórica de apontar o caminho da liberdade, da ética, da cultura e do bem comum. A publicidade faz barba e cabelo da orgulhosa e outrora intimidadora soberania da imprensa.

Será que o conteúdo do jornal poderá ser elaborado livre do compromisso com as "Casas Bahia", as montadoras de veículos, os Bancos generosos em financiamento, a Petrobrás, as grandes construtoras, as empresas fornecedoras dos anúncios mais caros, as emissoras de televisão? Será que o temor dos jornais pelo seu futuro e a concorrência com a imprensa eletrônica não engessaram a antiga liberdade dos jornais na defesa de sua integridade moral, intelectual e econômica? Como poderemos confiar na distância crítica dos veículos de opinião, se estão pressionados de todo lado pela própria sociedade e pelo cabresto do governo?

Subsistem na imprensa alguns poucos núcleos de resistência, nomes respeitáveis de jornalistas que ainda sabem engrandecer sua função com ética, talento e entusiasmo criador. Mas a imprensa como instituição já não é a mesma, subjugada que foi pelo quinto poder, a publicidade, para garantir a própria subsistência.

Só está livre do domínio da publicidade a imprensa eletrônica, que não depende de grandes recursos financeiros, nem de Bancos ou patrocinadores. É nela, no jornalismo veiculado na Internet, que a imprensa ainda se preserva como quarto poder, livre, autônoma, sem nada temer nem ter que dar satisfações a ninguém. Produzindo migalhas que podem não encher os olhos como um banquete, mas que são nutritivas, saborosas, e confeccionadas pela mais honesta de todas as cozinhas.

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*Ex-Promotor de Justiça. Filósofo e ensaísta





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