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Sobre as virtudes

Pode ser difícil conceituar o que são virtudes, mas, de certa forma, qualquer pessoa é capaz de reconhecê-las.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Atualizado em 15 de agosto de 2013 12:13

Pode ser difícil conceituar o que são virtudes, mas, de certa forma, qualquer pessoa é capaz de reconhecê-las. E, em geral, as pessoas não apenas as reconhecem, mas as desejam ter como atributos seus.

Quem não gosta de se reconhecer como determinado? Autoconfiante? Sincero, coerente, disciplinado? Conheço gente que até se acha tímido ou retraído, mas não esconde que gostaria de ser mais comunicativo, influente, quem sabe até divertido.

Não, não é difícil reconhecer as virtudes, principalmente quando as vemos em nós mesmos.

Difícil é saber quando a gente deixou de ser determinado e passou a ser teimoso. É perceber que exagerou na sinceridade e se tornou grosseiro. É aceitar que o que pensávamos ser autoconfiança há muito descambou para a arrogância ou a soberba, às vezes nos levando a subestimar obstáculos e adversários.

E, alguém que se crê uma pessoa comunicativa, perceberá que se tornou um tagarela? O influente reconhecerá quando estiver sendo manipulador? O divertido notará que fez graça na hora errada, ou pelo motivo errado, e acabou sendo inconveniente?

Você, leitor, é uma pessoa disciplinada? Ou é um bitolado, que não questiona as normas em vigor, logo, não ajuda a mudar as coisas? É coerente com as ideias que defende? Ou essa suposta coerência é na verdade uma intransigência crônica, que não lhe permite ser convencido a mudar de ideia?

A partir de qual ponto ou limite uma pessoa deixa de ser precavida e se torna desconfiada, incapaz de dar crédito a outra?

Não tenho resposta para nenhuma dessas perguntas. Mas, ao refletir sobre tudo isso, vem à minha mente um pensamento sobre a honestidade. É uma virtude para a qual não achei exagero correspondente. O que pode haver de mal em ser honesto ao extremo? Acredito que nada.

Mesmo assim, penso que, por mais que alguém se ache honesto, é preciso evitar pelo menos duas tentações.

A primeira é acreditar ser o único ser dotado de tal virtude, pondo sob suspeita todos os que discordam de seu ponto de vista.

A segunda é o indivíduo se crer tão honesto que estaria autorizado a desrespeitar princípios éticos em nome de um bem maior para a coletividade.

Esse me parece um caminho dos mais perigosos, porque é apenas uma variação da velha máxima segundo a qual os fins justificam os meios. E, se hoje se justifica a quebra de um princípio ético em nome de um fim nobre, amanhã outros princípios éticos poderão ser quebrados em nome de outros fins não tão nobres assim.

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* Marcos Mairton é escritor, compositor e juiz Federal.

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