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É o que temos para hoje, doutor!

Franklin Gomes

Somos, cada vez mais, cada dia mais, um produto exposto num mundo tão virtualizado que ao nos depararmos com a realidade não raramente nos chocamos.

domingo, 13 de abril de 2014

Atualizado em 11 de abril de 2014 14:43

Estamos vivendo, e não é de hoje, uma mudança cada vez mais acelerada e acentuada, no que diz respeito às relações que mantemos em nossas vidas, sejam elas profissionais ou pessoais. Não há dúvidas de que a mola propulsora de toda essa nova realidade, que insiste em mudar quase que na velocidade do som, foi a internet.

Com ela, as chamadas "redes sociais" anunciaram (e parecem provar e comprovar a promessa) uma nova forma de se relacionar e, porque não dizer, de se promover. Somos, cada vez mais, cada dia mais, um produto exposto num mundo tão virtualizado que ao nos depararmos com a realidade não raramente nos chocamos.

Compramos pela internet ou diretamente em redes sociais (algumas das nossas loja favoritas só existem nas telas de nossos tablets ou celulares - computador já está ultrapassado não é?). Temos amigos nas redes (que muitas vezes nem conhecemos pessoalmente - e quem se importa?), criamos grupos com interesses comuns. buscamos parceiros, amantes, amores.. nos promovemos, somos promovidos. somos curtidos (!!), somos seguidos..

Essa realidade mutante e que parece não ter fim nos trouxe novos conceitos, novas perspectivas, novos desafios, novos problemas (e outros não tão novos, apenas acentuados), novas soluções e, muito, mais muitos novos negócios.

Negócios que desafiam os mais experientes, desde sua concepção, passando pela sua forma de desenvolvimento, pelo alicerce em que se estabelecem (para alguns parece que não existe sequer um alicerce, pois é tudo virtual - sem sedes, sem o cafezinho nosso de cada dia - para alguns de cada hora, como eu).

São centenas, milhares de startups pipocando a cada esquina, movimentando um mercado multibilionário. Investimentos, capitação de recursos? A bola da vez é (ou já foi, não é?) o crowdfunding.

Mas e a velha e tradicional advocacia, como está se comportando?

Primeiramente "sambando" para acompanhar a velocidade com que a nova ordem gera novos negócios que exigem cada vez mais conhecimentos não jurídicos e da habilidade de transformá-los em contratos, joinventures (essa já é antiga) ou outros formatos que têm nomes complexos (tal como seu termos e condições - olha aqui outro que selecionamos quase que todos os dias nos sites em que navegamos - isso mesmo, é como um mar infinito).

Não há volta. A fusão entre negócio e direito é cada vez mais intensa e, sem dúvidas, inseparável. Estamos, precisamos e focaremos cada vez mais nessa dupla, fazendo com que o nosso "point of view" esteja cada vez mais conectado com os negócios de nossos clientes (e para alguns a vida e a liberdade também são os grandes negócios - eu concordo!).

Mas não é só. Precisamos nos relacionar com essa nova realidade, não é?

Como? Certamente não será através dos canais que de tão antigos não existem mais. Não raro falamos com os clientes através do What's Up (apelidado de Zap-Zap - brasileiros sempre criativos!), fazemos conferências pelo Hang-Out (tá mais "in" que o Skype, não é?) ou nos falamos por ai, nas páginas e conversas do Facebook (será que Google + chegará lá? Vamos aguardar!).

Esse é o relacionamento do "cliente que já é cliente". Mas e como se relacionar com nossos prospects?

Ah, já entendi, não podemos pensar em prospects porque isso seria mercantilizar a advocacia, certo? Captação? Jamais.. Usamos então nossa rede de relacionamento para tentar apresentar nossa. humm essa rede hoje é virtual, está no Face (Google Adwors, AdSense, Landing Pages, Leads..... JAMAIS!).

Bom, vamos tentar a assessoria de impressa para que possamos ser a referência em algum tema e, quem saber, virar "guru" daquele canal para temas jurídicos, certo (já existe tantos por ai.)? Escolha errada!

Por mais que nos deparemos diariamente com situações que indicam uma mudança de fato da advocacia (departamento interno de marketing e comunicação, cartões de visita "descolados" - atenção eles são proibidos - mais uma que não pegou, como muitas leis por aqui) o fato é que estamos distantes de uma maior liberdade de comunicação.

Alguns dizem que "A melhor propaganda que o advogado pode fazer está na realização do seu trabalho, contínuo e dedicado, na repercussão que suas demandas têm, não na mídia, mas, em primeiro lugar, no íntimo de seu próprio cliente, que se sentirá satisfeito e não titubeará em indicar o seu advogado para seu amigo, parente ou voltar ele próprio a procurá-lo quando nova questão jurídica o atormentar. Essa é a única forma de propaganda capaz de valorizar o advogado".1

Será mesmo? Será que você que está lendo esse texto, que é advogado, vai sobreviver no cenário atual dependendo dessa ferramenta? Será que é isso que os tubarões fazem?

Não há dúvida de que competência, qualidade, dedicação, estratégia e uma série de outros predicados são absolutamente indispensáveis. Mas o que fazer para que conheçam essas suas qualidades?

Há quem afirme que a publicidade deve ser estimulada "ao contrário de reprimida, deve ser estimulada, desde que respeitados os princípios legais e deontológicos acima referidos. Ela, neste contexto, possibilita que o advogado desenvolva mais livremente sua atividade profissional e - mais que isso - autoriza que a sociedade desfrute de informação adequada para o exercício da cidadania".2

A regra, como diria o famoso comentarista, é clara doutor. Não pode isso, não pode aquilo, nem aquilo outro. Mas todo mundo faz....

Já ouviu o ditado "onde há fumaça há fogo", acho que aqui ele não funciona, pois a perspectiva de mudança do Código de Ética da OAB, como se observa da leitura daquilo que está inclusive aberto para consultas públicas será, em muitos casos, o mais do mesmo (clique aqui e leia).

Atirar pedras é fácil, não é? Talvez por isso esse texto. Mas ele não se propõe a essa finalidade. É uma visão do dia-a-dia da advocacia que parece insistir em não se relacionar com o mundo real, se apegando àquilo que não existe, ou àquilo que ninguém respeita.

Será que o modelo americano é o ideal? Lá, há muitos anos a advocacia está autorizada a fazer "quase de tudo". Quem já foi para a terra do Tio Sam já se deparou com cartazes enormes de firmas e advogados promovendo seus serviços... Ah, temos também propaganda na TV!

Em outros países é diferente, a restrição é parecida como a nossa. Mas o que é o certo? Resposta fácil: o equilíbrio. Desafio: encontrá-lo.

A proliferação de cursos de questionável qualidade parece engrossar o coro de quem quer a limitação dessa "publicidade" (pelo jeito a maioria deles está repleta de bons clientes - e será que seguem à risca o Código?).

Enfim, certo ou errado é, como dizem por ai "é o que temos para hoje". Agora, prepare-se ou escolha o que teremos para amanhã. Ainda dá tempo!

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1 FORNACIARI JR., Clito. In: PAIVA, Mário Antônio Lobato de (Coord.). In: PAIVA, Mário Antônio Lobato de (Coord.). A importância do advogado para o direito, a justiça e a sociedade. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
2 MATEUCCI, Carlos Roberto Fontes. Advocacia, ética e competição. Revista do Advogado

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* Franklin Gomes é advogado do escritório Franklin Gomes Advogados e FG Marcas e Patentes.

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