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O momento é delicado, exige lucidez e, acima de tudo, calma

Brasil está em um processo de deterioração político-econômico-institucional como há muito não se via.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Atualizado em 7 de abril de 2016 15:44

O momento é delicado, exige lucidez e, acima de tudo, calma. Nas duas últimas semanas o Brasil ingressou em um processo de deterioração político-econômico-institucional como há muito não se via. Os índices econômicos mostram que as contas públicas estão à deriva. Os indicadores sociais reforçam a percepção de que a pressão começa a atingir níveis insuportáveis na base da pirâmide. No front político, a debandada (ao menos formal) do PMDB da base governista no plano federal demonstra que a intensidade da brutalidade no jogo político tende a se ampliar. Neste último quesito, aliás, o próprio processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff capitaneado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, desnuda o que se vê nas coxias: um governo acuado e incapaz de reagir, portanto, é natural neste cenário que sua legitimidade seja colocada em xeque.

Mas, apesar de muitos elementos indicarem o contrário, as instituições que servem de pilar para nossa jovem democracia não estão sob o risco de retrocesso. Isso vale especialmente para o Poder Judiciário que há algum tempo se firmou como uma espécie de árbitro (e aqui usamos o sentido lato da palavra) de algumas questões importantes para os cidadãos. Os exemplos são eloquentes e incluem a definição do rito que está orientando a condução do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. O Senado Federal também deverá se "aconselhar" com o Supremo Tribunal Federal (STF) caso o referido processo avance até lá.

Isto posto, não nos cabe aqui defender que vivemos num estado de normalidade, tampouco, de crise institucional. Os problemas existem em diversos níveis e, ao que tudo indica, os eventuais excessos têm sido contidos nas mais variadas esferas. Mas é evidente que o momento exige cautela, reflexão e calma. A tomada de decisões em ambientes adversos, por si só, não é fácil. No entanto, existem diversos mecanismos capazes de, por meio da elaboração de cenários, indicar as melhores apostas.

O problema é que a situação brasileira atual é ímpar. A economia é bastante diversa da que tínhamos no começo da década de 1960, quando o país se mostrou igualmente tão polarizado no campo político. O país não é mais uma ilha. Hoje, o Brasil está conectado ao mundo e seus líderes dialogam em diversos níveis e são respeitados nos fóruns de debates internacionais.

Dentro de nossas fronteiras deve seguir firme o embate entre aqueles que identificam na saída (constitucional) da presidente Dilma a panaceia para nossos males econômicos e os opositores ao impeachment. Aliás, este movimento deve, até mesmo, descambar para a disputa física, com escaramuças entre os grupos antagonistas nas ruas das grandes cidades.

Por conta disso, o momento exige cautela redobrada. Para quem investe e igualmente para aqueles que estão prestes a tomar decisões de cunho patrimonial ou societário. Afinal, num ambiente no qual é difícil prever o que vai acontecer no dia seguinte, fica difícil fazer planos de médio ou de longo prazos.

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*Ronaldo Corrêa Martins é Founder & CEO do escritório Ronaldo Martins & Advogados.


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