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A persistência do conservadorismo na política e na sociedade mundial

Em pleno 2016, ainda temos pesquisas recentes que revelam que uma em cada 3 pessoas no Brasil ainda acha que a vítima é culpada por sofrer estupro.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Atualizado em 21 de novembro de 2016 09:43

Acordamos recentemente com a notícia (no mínimo estranha, para ser o mais imparcial possível nos adjetivos) da eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. E a notícia gerou tanta polêmica quanto toda a campanha presidencial, e o que se pode dizer agora é que não se sabe como serão os próximos anos.

Trump é empresário, investidor e personalidade da mídia norte-americana. Americano, filho de mãe escocesa, neto de imigrantes alemães e casado uma vez com uma modelo tcheca e atualmente com uma modelo eslovena, sua grande marca é a xenofobia.

Em junho de 2015 anunciou sua candidatura para a presidência estadunidense, e desde então vem colecionando frases e posturas que não se imaginariam ser possíveis em pleno 2016.

Afirmou, em tom irônico e diversas vezes, que milhares de americanos de origem árabe "celebraram" os ataques de 11 de setembro (não houve nenhum registro que comprovasse tais afirmações). Ainda neste sentido, acredita que os muçulmanos devem ser rastreados e que as mesquitas devem ser vigiadas.

Suas posições a respeito das mulheres chegam a ser repugnantes. Durante a corrida presidencial, um vídeo (datado de 2005) voltou à mídia, com um Donald Trump tecendo uma série de comentários obscenos e misóginos. Uma série de alegações de assédio sexual surgiram a partir daí e, em um comício, ele alegou que uma das mulheres que o acusou não era "atraente o suficiente para ser assediada". Declarou, ainda, em uma entrevista para a CNN, que a partir dos 35 anos, as mulheres devem "sair de cena".

Já defendeu o uso de métodos como afogamento na luta contra o terrorismo, e que Saddam Hussein era "muito melhor" na luta contra os terroristas. É totalmente contra o asilo aos imigrantes sírios, e afirma que vai inclusive deportar os que já se encontram em território americano.

Talvez o posicionamento mais absurdo seja a ideia de construir um muro enorme separando México dos Estados Unidos (e os mexicanos deveriam pagar por esta construção, estimada em aproximadamente 5 bilhões de dólares).

E os absurdos não acabam por aí. Mas, por falar em absurdo, é bom que se lembre que bem aqui algumas ideias não passam muito longe do conceito de absurdo também.

Em 2013, um projeto de lei determinava que todo aquele que auxiliasse ou induzisse uma mulher ao aborto fosse considerado criminoso, e que toda vítima de estupro deveria ser levada a uma delegacia antes mesmo de receber o tratamento médico. E mais: mesmo em casos de estupros, médicos poderiam fazer apenas procedimentos não abortivos nas vítimas (ainda que exista, hoje, autorização legal para aborto nos casos de estupro).

A PEC 99/11 dava poder às igrejas para contestar o STF, órgão máximo da justiça brasileira. Sobre este tema, importante repetir uma ótima frase publicada pela Revista Superinteressante, em novembro de 2015: "Em um Estado laico, é um mistério por que as Igrejas deveriam entrar nessa seleta lista."

Mas um PL no mínimo estranho é o 7.382/10, que criminaliza a heterofobia. O autor do projeto acredita que as pessoas sofrem preconceito ou violência por sentirem atração por alguém do sexo oposto. Vale lembrar que no Brasil a homofobia não é crime, apesar de existirem registros de que a cada 28 horas uma pessoa morre em razão desta prática.

Relembremos também o famoso Estatuto das Famílias, cujo texto afirmava que uniões de casais homossexuais, ou pais e mães solteiras, ou crianças criadas por avós, não formam uma família.

Há mais: Congresso demarcando terras indígenas, redução da maioridade penal, ocultação do símbolo de transgênico. E todos esses projetos foram propostos por uma única figura política no cenário nacional: Eduardo Cunha. Ele ainda defendia o financiamento empresarial de campanhas políticas, o fim do fator previdenciário, a criação do dia do orgulho heterossexual, dentre outros assuntos polêmicos.

De se ver que os temas polêmicos (ou absurdos, a depender do ponto de vista) não são exclusividade de políticos norte-americanos. Aqui também temos o nosso "representante" machista, conservador, com ideias totalmente retrógradas e autoritárias, mas que, como o representante de lá, chegou a um altíssimo cargo político. Isso demonstra que ambos, de alguma forma, receberam apoio da população, ou seja, muita gente viu neles o reflexo daquilo que pensam e em que acreditam.

Em pleno 2016, ainda temos pesquisas recentes que revelam que uma em cada 3 pessoas no Brasil ainda acha que a vítima é culpada por sofrer estupro, e que 49% da população é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. Este é o tipo de pensamento que faz com que cheguem ao poder pessoas como Eduardo Cunha e Donald Trump.

Por horas, estamos "livres" de Eduardo Cunha. Mas é certo que as decisões nos Estados Unidos afetam o mundo todo. Resta aguardar.

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*Luciana Pimenta é coordenadora pedagógica no IOB Concursos, advogada e revisora textual.

IBTP - INSTITUTO BRASILEIRO DE TREINAMENTO PROGRAMADO S.A.

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