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"Crimes da Mala" em São Paulo

Em todos estes crimes permanece a incógnita do porquê dos corpos terem sido retalhados. Refiro-me às razões reais e não a aparente, ligada ao transporte e desaparecimento do corpo.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Atualizado em 26 de julho de 2017 08:53

Em atenção ao honroso convite do advogado e operoso promotor de cultura Pierre Moreau, para escrever no livro, por si coordenado, sobre "Grandes Crimes", escolhi crimes que apresentavam uma marca comum: o esquartejamento dos corpos das vítimas, após o assassinato e a posterior colocação das partes que o compunham dentro de uma mala.

Instiga-me a razão que levou os agentes dos crimes a retalhar as vítimas. Poder-se-á dizer que o escopo era esconder os corpos, e repartidos seria mais fácil o seu transporte. Parece ser o motivo óbvio. Sim, mas há outros pelo menos em relação a alguns dos casos.

Ademais, em alguns dos homicídios, seria possível, pelo menos em tese, que a autoria permanecesse desconhecida, em face da carência de testemunhas oculares e de indícios ou de vestígios que pudessem conduzir ao verdadeiro autor. Bastaria se afastar do local e acompanhar as investigações, contando com a possibilidade de jamais ser descoberto.

Em verdade, vejo neste ato de retalhar um complemento do homicídio. Este parece ter sido um sofrimento insuficiente para a vítima, merecedora, na visão do seu algoz, de um martírio maior. Estranho sofrimento para quem por estar morto não o sente, pelo menos segundo a nossa percepção, que não ultrapassa o além-túmulo. É o extravasamento de um ódio acumulado e insaciável, que supera os limites da vida.

Os dois primeiros casos de mala como abrigo de corpos estraçalhados ocorreram em São Paulo no início do século passado. Seus autores foram Michael Trade, libanês, que matou um outro libanês, Elias Farah, e o italiano Guisseppe Pistone, autor do assassinato de sua mulher Maria Fea. Um terceiro ocorreu há poucos anos, portanto no nosso século, tendo Marcos Kitano Matsunaga sido morto por sua mulher Elize Araújo Kitano Matsunaga, também tendo uma mala como instrumento para esconder-se o corpo.

Embora eu tenha me referido a estes três crimes, ative-me a narrar com mais detalhes um homicídio seguido de esquartejamento praticado em 2003, do médico Farah Jorge Farah, que vitimou Maria do Carmo Alves, uma sua ex-paciente. Chamou-me a atenção o fato de Farah ser um homem intelectualmente bem-dotado, portador de vasta cultura e de possuir educação esmerada. Procuro mostrar na crônica publicada no livro, como a conduta da vítima foi decisiva para a ocorrência do evento. Não fosse a sua influência o não teria ocorrido.

Enfim, em todos estes crimes permanece a incógnita do porquê dos corpos terem sido retalhados. Refiro-me às razões reais e não a aparente, ligada ao transporte e desaparecimento do corpo.

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*Antônio Claudio Mariz de Oliveira é advogado da Advocacia Mariz de Oliveira.

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