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Policial: super-herói ou escudo?

Até o dia 21/7/17, registrou-se o número de 92 policiais assassinados pelos bandidos no Rio de Janeiro, quando estavam de folga, em serviço ou aposentados.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Atualizado em 9 de agosto de 2017 18:30

Os policiais são caçados pelo crime, para 65% da população, enquanto 63% asseguram que os PMs não têm boas condições de trabalho, segundo dados da "Segurança Pública em Números, 2016".

Até o dia 21/7/17, registrou-se o número de 92 policiais assassinados pelos bandidos no Rio de Janeiro, quando estavam de folga, em serviço ou aposentados; para se ter ideia dessa verdadeira guerra, que se trava no Rio de Janeiro, basta dizer que durante todo o ano de 2016 foi registrado menor número de policiais assassinados do que o anotado na metade deste ano de 2017.

O último policial morto foi o sargento Márcio Thomé Ribeiro, baleado na sexta feira, 4/8, em Realengo, oeste do Rio de Janeiro. O corpo do policial foi encontrado no interior de seu Toyota. Também morreu, atingindo pelos tiros, um jovem, que estava no banco do carona.

Os mortos são retirados do convívio de suas famílias, prematuramente, pela fúria animalesca e sem peias dos bandidos e traficantes. Os homens da Segurança Pública tombam na batalha ingrata e desigual que travam no dia a dia contra os criminosos, buscando sempre proteger a comunidade, deixando, por vezes, os familiares sem nenhum agasalho.

O despreparo com o qual os policiais são jogados na selva, é mostrado pelos números: "A polícia brasileira tem uma produtividade das mais baixas do mundo; a polícia americana resolve 22% dos crimes; a inglesa, 35%, a canadense, 45% e a japonesa, 58%. No caso do Brasil, a taxa de solução é de apenas 2,5%".

Segundo estatísticas do Instituto de Segurança Pública foram registradas 5.010 mortes violentas no estado, em 2015, aumentado para 6.248, em 2016; nos três primeiros meses deste ano, morreram, no Rio, 1.867 pessoas por homicídio, roubo, agressões em operações policiais contra facções criminosas; na Síria, país em guerra há seis anos, neste mesmo período, foram mortos 2.188 civis em ataques e confrontos. No primeiro semestre de 2017, foram mortas 3.457 pessoas, tornando o período mais sangrento do Rio, desde o ano de 2009, quando catalogou-se 3.893 assassinatos. O roubo de carros também assusta: em 2015 o total de 31.043 veículos, mas em 2016 esse número aumentou para 41.704.

O crescimento da criminalidade no Rio deve-se também à crise financeira pela qual passa o Estado, com atrasos de salários e a resistência para chamar aprovados em concurso público para a PM.

O ex-comandante-geral da Polícia Militar no Rio de Janeiro, coronel reformado Ibis Silva Pereira, entende que as drogas constituem o problema mais grave da segurança no país. O coronel diz que, a polícia que mata muito, morre muito também, ainda que esteja de folga. Assegura que, essa guerra não acaba, quando o policial tira a farda, pois há o ódio entre os bandidos.

A gravidade do cenário, no Rio de Janeiro é tamanha que o governo federal autorizou, no final de julho, o uso das Forças Armadas no combate à criminalidade no estado; a previsão é de que a tropa ficará até o final deste ano, podendo prosseguir em 2018.

"Esta situação de guerra na qual vivemos não se apresenta, fundamentalmente, em face de incompetência de nossos policiais, mas por ausência de investimentos e absoluta falta de estrutura nos ambientes de trabalho", disse o coronel reformado Ibis Silva Pereira.

É exigida do policial militar dedicação exclusiva à profissão, exposição de sua própria vida, na batalha do dia a dia; ao sair de casa, é incerta sua volta, porque atuará em defesa da sociedade. O militar deve possuir requisitos, que outras profissões não reclamam, a exemplo da força física, do significativo controle emocional, dos conhecimentos jurídicos, do preparo psicológico e intelectual para solucionar rapidamente situações difíceis que se lhe apresentam.

Não se prioriza o homem e não se tem tecnologia adequada para o combate aos criminosos. Na verdade, a polícia brasileira é muito cobrada, porque se reclama seriedade, mas nega-lhe uma vida digna; exige-se criatividade nas incertezas do trabalho, porém não lhe oferece meios; imagina-se no policial a figura de um super-herói, mas lhe nega remuneração digna, condizente com a natureza do risco, armamento à altura de enfrentar os marginais, capacitação, aposentadoria especial.

Enfim, os policiais tornam-se super-heróis para uns, mas, na realidade, foram transformados em escudos para proteção da comunidade.

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*Antonio Pessoa Cardoso é desembargador aposentado e advogado do escritório Pessoa Cardoso Advogados.

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