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O príncipe dos advogados criminais

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Atualizado em 20 de julho de 2012 11:23

Um exame da carreira dos grandes advogados criminais nos mostra o despontar da vocação para a advocacia penal logo nos primórdios da carreira, mesmo já durante a Faculdade ou até antes de nela ingressar.

Nenhuma outra motivação, nenhum outro fator, nenhuma circunstância externa impeliu esse bacharéis a abraçar o Direito Penal e a optar pelo árduo caminho da defesa, íngreme, por vezes tortuoso, mas sempre iluminado pela busca da liberdade e da dignidade pessoal.

Razões, as mais diversas, conduzem os recém-formados a optar por alguns dos ramos da advocacia. Influência de algum advogado mais antigo, oportunidade para trabalhar em um escritório especializado em algum setor, trabalho interno em pessoa jurídica. Enfim, todas razões externas, na maioria dos casos, alheias à vontade do bacharel, que nem sequer fizera a sua escolha.

Já na área penal, prepondera a vocação, a chamada interior para o exercício da defesa daqueles levados às barras dos tribunais criminais.

No caso de Dante Delmanto foi exatamente esse insuperável chamamento que o levou a trabalhar com um grande expoente da advocacia criminal da época, primoroso orador, que foi Adriano Marrey.

Na verdade, sua inata inclinação pela defesa, aflorou quando assistiu a um júri em Botucatu, sua cidade natal, no qual trabalharam Antonio Augusto Covelo e Alfredo Pujol, dois expoentes do Tribunal Popular da época. Nem sequer era estudante de Direito.

Sua vocação levou-o à recusar a carreira diplomática. Uma bolsa patrocinada pela Fundação Carnegie, para estudar na Holanda, especificamente em Haia, depois de concluída, outorgou-lhe o direito de ingressar no Itamaraty como 3º secretário. Preferiu advogar.

Trabalhou durante nove anos no escritório do notável criminalista Adriano Marrey, um dos grandes da época, onde adquiriu valiosa experiência que aliada ao seu estilo próprio, com marcas e aspectos peculiares, que foram se aprimorando e sedimentando com o correr dos anos, tornou-se um dos maiores advogados criminais de todos os tempos.

O fato marcante da conduta profissional de Dante Delmanto foi o cuidado, o esmero, a dedicação religiosa a cada caso. Sua entrega ao minucioso estudo dos processos era absoluta e tornou-se notória e lendária.

Tal como um refinado artesão, a matéria prima de seu trabalho, o processo, era examinado, esmiuçado, prospectado até estar sob o seu domínio absoluto, para em seguida e a partir daí serem construídas as teses de defesa, elaboradas as primorosas razões, todas elas emolduradas por pertinentes citações doutrinárias que davam supedâneo a alegações e argumentos irrespondíveis, calcados nos elementos probatórios constantes dos autos.

Conhecedor de cada folha, certidão ou carimbo do processo, Dante jamais cometeu um engano, uma falha, uma omissão no exame das provas, pois expunha com precisão todas e delas extraía argumentos valiosos para a defesa. Aliás, também foi e ainda é considerado o mais temível e eficiente argumentador dos que pontificaram na advocacia criminal.

Não se pense que Delmanto tivesse os seus interesses, a sua cultura e a sua inteligência exclusivamente voltados para a advocacia. Não, era um homem do mundo e talvez a sua permanente sintonia com os fatos da vida tenha constituído um dos fatores de sua proeminência na advocacia criminal.

Dotado de extraordinária sensibilidade para entender o homem e os fatores humanos, não tinha uma visão maniqueísta da vida, pois como todo advogado vocacionado, possuía plena consciência das inevitáveis contradições que nos marcam e sabia aceitá-las com olhar compreensível, complacente e solidário.

Em sua trajetória de vida, da advocacia à política, passando pelo futebol, Dante Delmanto deixou marcas indeléveis, de caráter, competência e dedicação plena.

Lutou em 1932, na Epopeia Paulista, já formado em Direito. Aficcionado pelo Palmeiras, com vinte e cinco anos, foi eleito seu presidente. Nesse período, o então Palestra Itália, obteve notáveis feitos.

Na política, cerrou fileiras em torno do partido Constitucionalista, tendo sido eleito, em 1935, deputado estadual constituinte, como o candidato mais votado.

No curso de sua vida profissional, Delmanto demonstrou de forma permanente e significativa o seu respeito e acatamento pela dignidade e pelos direitos alheios, fossem adversários da tribuna, réus ou vítimas.

Certa feita recusou-se a utilizar documentos que comprometiam um ex-prefeito, pai de uma moça morta por um seu cliente. A justificativa para não valer-se dos documentos, foi plena do sentido ético que sempre norteou sua vida profissional e pessoal: não seria moral e ético infligir mais dores a quem já as tinha de sobejo pela perda da filha.

Assim se conduzia Dante Delmanto, o "Príncipe dos Advogados Criminais", exemplo para todos nós, velhos e jovens advogados criminais.