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Em entrevista, Márcio Thomaz Bastos diz que reservou missão especial para a Polícia Federal nas eleições. "Vamos investigar fortemente o caixa dois"

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Da Redação

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Atualizado às 07:16

 

Entrevista

 

Márcio Thomaz Bastos diz que reservou missão especial para a Polícia Federal nas eleições. "Vamos investigar fortemente o caixa dois"

 

Em entrevista ao GLOBO em seu gabinete, Bastos volta a associar o caixa dois à corrupção, defende o aperto da fiscalização sobre os partidos e diz que os envolvidos no valerioduto serão punidos, independentemente da coloração partidária de cada um.

 

Também critica a partidarização das investigações das CPIs e diz que, mesmo com todos esses problemas, o presidente Lula será reeleito com impulso dos resultados na economia e os indicadores de melhoria na distribuição de renda.

 

Lula vai ser candidato à reeleição, vai ser reeleito?

 

MÁRCIO THOMAZ BASTOS: Ele vai ser candidato à reeleição e vai ser reeleito. O governo está fazendo o que um governo de esquerda tem que fazer: distribuir renda com responsabilidade e tratar as coisas com competência. Esse negócio do FMI tem um significado especial. Passamos a vida inteira gritando "fora FMI". O Juscelino, o Sarney romperam com o FMI. E agora não, foi pago, foi tirado o FMI. Acho até que foi mal divulgado. Tinha que ter feito uma reunião ministerial e mostrado o cheque (do pagamento dos US$ 15 bilhões), se é que teve cheque.

 

 

Que obras e programas justificariam a reeleição de Lula?

 

THOMAZ BASTOS: É mostrar os números de tudo o que está fazendo. São brilhantes. Pegamos o país com R$ 13 bilhões de reserva. Hoje tem R$ 60 bilhões. Pagou o FMI. A inflação está absolutamente sob controle. Isso é uma coisa que distribui renda. O governo tem muitos índices positivos.

 

 

São suficientes para enfrentar a oposição, que ataca o PT por ter usado caixa dois?

 

THOMAZ BASTOS: Temos que recuperar a bandeira da ética e recuperar a classe média, muito susceptível a esse tipo de pregação. Sofremos um massacre. São oito meses de massacre muito forte.

 

 

Mas o partido do presidente fez caixa dois e ele vai se candidatar pelo mesmo partido.

 

THOMAZ BASTOS: O partido dele fez e você tem que combater isso fazendo uma coisa que ninguém fez, criando uma cultura de combate à lavagem de dinheiro. Se você não construir essa cultura, não combate a lavagem, sempre vai ter caixa dois e não pode ter caixa dois.

 

 

Mas se chegar nas eleições e mostrar só o afastamento do Delúbio Soares não é pouco?

 

THOMAZ BASTOS: Vai depender de como as coisas se colocarem na campanha. Mas o que o governo tem para mostrar em termos de realização é muito.

 

 

Com as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, conclui que o dinheiro do valerioduto veio de onde ?

 

THOMAZ BASTOS: Quando concluírem as investigações, a gente vai ver. A Polícia Federal vai apresentar resultados consistentes em todas as questões que está investigando, tudo que foi denunciado ela abriu inquérito. O trabalho que a PF faz é muito sério. Está desmontando várias redes criminosas no Brasil inteiro. Gente que nunca pensava que pudesse passar perto de uma cadeia foi presa.

 

 

Existe trabalho de inteligência da PF para coibir o caixa dois nas próximas eleições?

 

THOMAZ BASTOS: Existe, com certeza. Na última Encla (encontro de organismos para combater lavagem de dinheiro) foi debatida uma questão que diz respeito a isso, a caracterização das PEPs, pessoas politicamente expostas. É um conceito mundial. Os candidatos, as campanhas merecem mais foco. Tem a lei da investigação geral, o processo e a lei penal. Vamos trabalhar e investigar fortemente. A Polícia Federal está atenta a isso. A Justiça Eleitoral está olhando com muita atenção.

 

 

Não vai parecer que a PF estará vigiando a oposição?

 

THOMAZ BASTOS: Se você olhar o que a PF fez nos últimos três anos, verá que ela tem um crédito de confiança na imparcialidade dela. Quem pegou essas coisas contra o PT foi a Polícia Federal. Aquele negócio do Ceará, a lista do Banco Rural.

 

 

Digamos que se descubram coisas dos candidatos. A lei eleitoral tem muitos limites que não permitem punições.

 

THOMAZ BASTOS: Mas o sujeito que usa dinheiro ilegal, de bandido, para usar essa expressão que ficou aí, pode ser punido durante a campanha.

 

 

O presidente Lula vai ter um caixa de campanha. O senhor conversou com ele sobre isso?

 

THOMAZ BASTOS: Ele precisa montar o comitê de campanha. Se a gente tirar dessa crise ética lições para a eleição, é um ganho importante. Primeiro porque as instituições funcionaram: PF, CPIs. Virou disputa política? Na minha opinião virou. Chegou um momento em que as CPIs entraram em 2006, começaram a fazer campanha. Se a gente conseguir que, com isso, as campanhas de 2006, 2008, sejam pautadas por maior rigor.. .O caixa dois é um mal. Mas é mal maior porque suscita outras práticas criminosas. O caixa dois é irmão da corrupção, da comissão.

 

 

No caso que está aí, vai ter punição só pro tesoureiro?

 

THOMAZ BASTOS: Você não pode punir o PT. O PT é uma pessoa jurídica e não pode ser punida criminalmente. Mas quem cometeu coisas e que tiver provado isso, vai ter que ser punido, sem olhar para quem.

 

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Fonte: O GLOBO

 

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