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Os homens de bem pedem socorro

José Fernandes Motta

Recentemente, através de programa radiofônico, recebo duas notícias de comover o mais insensível dos cidadãos. Numa delas o pai de uma menor, de 15 anos, assassinada e abandonado o seu corpo em plena via pública, ao ser entrevistado diz que não mais tem lágrimas para prantear aquela quase menina.

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Atualizado em 1 de junho de 2005 09:38

Os homens de bem pedem socorro


José Fernandes Motta

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Recentemente, através de programa radiofônico, recebo duas notícias de comover o mais insensível dos cidadãos. Numa delas o pai de uma menor, de 15 anos, assassinada e abandonado o seu corpo em plena via pública, ao ser entrevistado diz que não mais tem lágrimas para prantear aquela quase menina. Já sofrera bastante, quando a vira, por diversas vezes, algemada e escoltada por policiais militares.

A outra, instruída com "folder", relatada por um Delegado de Polícia, noticiava a prostituição em um vizinho Estado, sendo exibidas fotografias de menores, de 13 anos, completamente nuas, cuja distribuição se destinava aos viajantes, oferendo-as para programas sexuais.

Viajo no meu passado. Tínhamos aulas de religião. Cantávamos o hino nacional, perfilados no pátio interno. Respeitávamos as professoras, uma delas Maria Antonieta Passos, meu primeiro amor da infância; conhecíamos poesia, decorávamos vários autores.

Acima de tudo, os nossos pais sempre apoiavam as decisões das mestras de então, jamais procuravam a diretoria para criticá-las, hoje fato tão comum, quando, por força política, as substituem, transferem, perseguem, ao menor levantar da voz na direção de meninos rebeldes.

Foi uma época em que escotismo ensinava o amor pela pátria, incentivava-nos à prática de uma boa ação diária.

Escoteiros, lobinhos, bandeirantes tinham a mente fortalecida pelos ensinamentos de homens de bem, não se podendo ignorar o inestimável apoio do Poder Público, que fornecia gratuitamente os uniformes e outros apetrechos. Quanta saudade!

Naquela época tínhamos, às vezes, apenas um caderno e um livro. Escrevíamos com a utilização de lápis, na extremidade de uma borracha. Superávamos as dificuldades diuturnas, às vezes caminhando descalço em demanda da Escola, muita vez sem merenda, na certeza de que o Estado nos forneceria sopa ou mingau em dias alternados. Éramos felizes!

O mundo continuou os seus giros. As crianças de hoje têm computadores, calculadoras, internet, material pronto para pesquisas, às vezes nem mesmo lidas. Trabalho em grupos nas Faculdades levam assinaturas de uma dezena de alunos. Nem respeito pelo Mestre que, inclusive, quando se mostra rigoroso e cumpre seu dever, é chamado pelo diretor e aconselhado a não reprovar e nem registrar as ausências dos alunos.

Daí, como conseqüência, um grande número de detentores de diplomas de 3º grau, sem competência para o exercício da profissão que presumidamente escolheram, uma grande maioria reprovada em exames posteriores.

Vem à memória, ainda, os belos tempos vividos em Rio Pomba e Ipuiuna, cidades do nosso interior, onde ainda perdura uma vida de respeito e solidariedade, "cantões" que conservam a dignidade e o amor. Sem mais divagar pelo saudosismo, volto o pensamento àquele pai sem lágrimas, cuja filha, ao invés de seu primeiro baile, vê-se sepultada num miserável caixão e tendo a cobri-la a mesma terra que a viu nascer. E ficará o seu nome registrado numa triste estatística de crimes de autorias desconhecidas, porque quase tudo se debita ao crime ligado ao tráfico de drogas entorpecentes.

Pobres meninas às vezes "negociadas" pelos próprios pais e que vão se submeter aos caprichos desse animal racional que se denomina "homem", na verdade "monstro" à procura de prazeres fáceis nas beiras das estradas desse país continente. Triste país em que se fala na "fome zero", mas na verdade "zero" é a avaliação que se deve dar ao Governo Federal, que não combate tais crimes. Como seu dever, numa afronta a toda sociedade.

Defendo, por esta e outras razões, a pena de morte para certos criminosos, prisão perpétua em grau mínimo, a fim de que, nós, cidadãos de bem, possamos deixar as nossas casas e voltarmos às vias públicas, se os grandes bandidos, inclusive os que ocupam lugares de destaque em nossa sociedade, forem combatidos por quem de direito, antes que a sociedade retome as armas que entregaram, enganosamente, adquirindo outras que autorizem o enfrentamento dos malfeitores, tão bem alicerçados pelas Comissões de Direitos Humanos. Que seja breve!
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*Artigo publicado no jornal O Tempo - edição de 12 de abril de 2005.
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*Advogado Criminalista e 1º Vice Presidente do IAMG - Instituto dos Advogados de Minas Gerais







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