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Serenidade e Cólera

Se a pessoa não consegue dominar seus ímpetos negativos, sua raiva, sua cólera, seu pessimismo, seu azedume, pode parar o que pensa que está fazendo e sair em busca de tratamento psiquiátrico porque está muito doente.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Atualizado em 11 de janeiro de 2008 14:08


Serenidade e Cólera

Edson Vidigal*

Se a pessoa não consegue dominar seus ímpetos negativos, sua raiva, sua cólera, seu pessimismo, seu azedume, pode parar o que pensa que está fazendo e sair em busca de tratamento psiquiátrico porque está muito doente.

E nada pior para um Povo do que um líder desequilibrado. A historia é pródiga em lições sobre os males que os doentes mentais, ora seduzindo, ora intimidando pessoas simples, muitas idealistas, causaram à democracia.

Toda doença, se não tratada a tempo, vai se agravando com o tempo.

É o caso da neurastenia, que primeiro deprime, causando inatividade ou fadiga extrema. Depois excita, submete sua vitima a irrefreáveis devaneios, que se estancam, mas só por algum tempo, à custa de muitas asneiras, algumas escritas, outras em voz alta.

O festival de asneiras decorre muitas vezes de uma intensa fadiga intelectual, cobranças familiares, complicações com filhos, isso tudo se associando a um quadro de hipocondria e histeria. É mais grave entre os septuagenários.

Quem viu aquele filme, "A Queda", sobre os últimos dias de Hitler, pode entender melhor o que se passa com um líder decadente, seus últimos áulicos em derredor fingindo acreditarem em suas verdades e falseando no cumprimento de suas ocas ordens, muitos alcançando em tempo a lucidez e admitindo, em silencio, mas não escondendo em atitudes, quanto se deixaram iludir por tantas décadas por aquele doente mental.

O mundo lá fora restabelecendo a ordem democrática, seus valores imprescindíveis à convivência humana com decência, respeito, honra e dignidade, e o maluco, mal disfarçando o treme-treme nas pontas dos dedos, encafuado em seu bunker, em Berlim, gritando, dando ordens, mandando enforcar ex aliados, achando que ainda tinha algum poder.

Seu único poder não ia além da vida de sua cadela e de sua própria vida. A cadela ele a envenenou com uma cápsula de cianureto. Sua vida ele a extinguiu com uma bala no céu da boca. Sua ultima ordem, foi a de que lhe incendiasse o cadáver. A doença tem dessas variantes, o orgulho e a soberba, ficam até o fim.

A historia nos tem ensinado tanto e muitos povos, já bem escabreados, se mostram mais atentos aos déspotas em potencial. Nacionais, estaduais ou municipais, eles sempre existiram e existirão nas diversas modalidades, nas dimensões de suas geografias e ingenuidade, ignorância ou boa fé das pessoas influentes, ou não.

Político não deve ser empresário. Nem os seus mais próximos consangüíneos. Os interesses privados de quem têm acesso privilegiado aos meandros do poder prejudicam a livre concorrência, um dos pilares da atividade econômica. Sem liberdade na economia quem perde é a democracia, o Estado social, o povo em geral.

Quando o líder começa a delirar, distanciando-se da realidade, a perder a compostura, a esbravejar, a querer impor suas versões esquizofrênicas, achando-se dono das verdades, quem não é comigo não presta, só os meus consangüíneos e os meus áulicos é quem prestam, - quando chega a esse ponto, amiga, amigo, só chamando aquele doutor de touca branca e avental branco e mandar internar.

Não é uma questão de decrepitude. Estar velho não significa necessariamente estar decrépito. É uma questão de grave doença mental, mesmo. Na Roma antiga, o Regimento Interno do Senado impedia o senador de discursar e de votar se ele perdesse a serenidade. Valia como prova de que havia perdido a razão.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA







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