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Israel X Hamas

Quando menino, li um livro intitulado "Os mais belos contos russos". Num deles, sete guerreiros invencíveis reuniam-se para comemorar sua invencibilidade, quando, no horizonte, surgiu um cavaleiro com elmo e espada, que cavalgou em direção ao grupo para desafiá-lo. Bastou um golpe de um dos guerreiros invencíveis para dividi-lo ao meio. Do cavaleiro morto surgiram dois cavaleiros que, novamente, foram divididos em dois por dois golpes de dois guerreiros invencíveis.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Atualizado em 14 de janeiro de 2009 14:32


Israel X Hamas

Ives Gandra da Silva Martins*

Quando menino, li um livro intitulado "Os mais belos contos russos". Num deles, sete guerreiros invencíveis reuniam-se para comemorar sua invencibilidade, quando, no horizonte, surgiu um cavaleiro com elmo e espada, que cavalgou em direção ao grupo para desafiá-lo. Bastou um golpe de um dos guerreiros invencíveis para dividi-lo ao meio. Do cavaleiro morto surgiram dois cavaleiros que, novamente, foram divididos em dois por dois golpes de dois guerreiros invencíveis.

Os dois cavaleiros mortos transformaram-se em quatro e assim foram sendo multiplicados, enquanto eram derrotados. Após sete dias de combate com uma infinidade de cavaleiros, os sete guerreiros invencíveis foram vencidos pelos fracos cavaleiros que tinham o dom de se multiplicar, quando mortos.

Tão logo Bush invadiu o Iraque, escrevi artigo publicado na Folha de São Paulo ("Terrorismo Oficial de Bush") prenunciando que o Iraque seria um novo Vietnã para os americanos. É que estou convencido de que o terrorismo político, arma dos mais fracos, não pode ser combatido como se combate o narcotráfico ou a criminalidade em geral. Quem está disposto a sacrificar sua vida por uma causa, por mais errada que esteja - e os terroristas estão sempre errados, pelos métodos adotados - acredita firmemente no ideal que abraça, a ponto de sacrificar-se como "pessoa-bomba", em seus atos tresloucados.

O terrorismo político só pode ser combatido com o diálogo à exaustão, sem preconceitos, aceitando-se as diferenças culturais e nivelando-se o "status" do mais forte com o mais fraco, como Rui Barbosa sustentou em Haia, ao defender a igualdade das nações, independentemente de sua força.

O presidente Clinton obteve, em seu governo, um cessar fogo entre palestinos e israelenses, mediante diálogo permanente. É bem verdade que Arafat tinha mais sensibilidade que os radicais de Hamas, os quais, todavia, foram eleitos pelo povo.

Do ponto de vista do Direito Internacional, a resposta de Israel é justificada, pois foi o grupo Hamas que deu início às hostilidades. Mas o objetivo de destruir por completo o foco dos radicais do Hamas, adotando reação desproporcional, que matou tanto inocentes quanto terroristas, parece-me de difícil consecução, pois o número de mortos palestinos termina por aumentar o ódio islâmico contra Israel, o que poderá levar a uma luta semelhante à dos sete guerreiros invencíveis.

Ódio gera ódio. A morte de inocentes, de ambos os lados, gera o desejo de vingança, com o que o drama do Oriente Próximo nunca terá fim. Creio que a pressão crescente da comunidade internacional, enfatizando a necessidade de abertura de diálogo à exaustão entre as partes em conflito, é a única tênue esperança de que, um dia, tenhamos paz, naquela conturbada região do planeta.

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*Professor Emérito da Universidade Mackenzie. Advogado do escritório Advocacia Gandra Martins


 

 

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