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A televisão digital no Brasil

Arnaldo Xavier Silva e Marcelo Fabrício dos Santos

Onde estamos? Estamos no meio de uma revolução! A revolução que transformará a transmissão, do sinal aberto de televisão, de analógico para digital. O detalhamento dessa transformação acontece neste exato momento.

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Atualizado em 1 de novembro de 2004 14:59

A televisão digital no Brasil


Arnaldo Xavier Silva*

Marcelo Fabrício dos Santos**

Onde estamos? Estamos no meio de uma revolução! A revolução que transformará a transmissão, do sinal aberto de televisão, de analógico para digital. O detalhamento dessa transformação acontece neste exato momento. Tanto o governo, como entidades do meio televisivo; emissoras, fornecedores de equipamentos, produtores de conteúdo, e até a comunidade científica estão ansiosos pela definição do padrão a ser utilizado em transmissões digitais de televisão aberta no Brasil.

O aumento das possibilidades de novas concessões de canais de televisão amplia o espaço político do governo, que necessita criar novas regras para um setor de extrema importância cultural, educacional, social e política do país. Quantas vezes na história foi possível alterar as regras no meio do jogo com tanta facilidade? Para o governo este é um momento ímpar e deve permitir ganhos políticos, econômicos e sociais incomparáveis.

As empresas do setor, acostumadas a navegar em um mercado de tranqüilidade, do ponto de vista das grandes mudanças, estão diante de um turbulento mar de oportunidades, envolvendo quase todos os seus profissionais na adaptação tecnológica e principalmente cultural dos novos processos. Os editores de fitas, profissionais de edição de imagens, são hoje grandes usuários de software de edição; visto que essa mudança exige investimentos para um aprendizado contínuo. Os fornecedores de equipamentos e serviços estão de olho no aumento da demanda, tanto nas empresas com suas inúmeras torres de transmissão, quanto nas dezenas de milhares de lares, que poderão adquirir televisores Wide-Screen, antenas e conversores de sinal digital para analógico.

Os produtores de conteúdo televisivo, games, ou de informações, estão ou deveriam estar atentos a um novo filão, formado a partir do momento em que se torna possível a existência de vários canais em um mesmo sinal de transmissão. Já se percebe um flerte entre os produtores de conteúdo para Internet e a oportunidade surgida com estes novos canais.

Num país onde pouco ou quase nada se investe em pesquisa e desenvolvimento, o governo Lula prestigia a comunidade científica com um aporte de R$ 65,00 milhões destinados às pesquisas técnicas para se definir um sistema digital a ser utilizado, ou quais soluções de cada sistema existente poderão integrar um sistema tipicamente brasileiro. Testes de transmissão e recepção já estão acontecendo em universidades e centros de pesquisa, agregando conhecimento à inteligência nacional, fortalecendo a tomada de decisões políticas em negociações externas relativas ao assunto. Esta discussão deverá continuar até março de 2005, prazo que o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) se definirá.

A pressão dos americanos, europeus e japoneses, cada qual com seu modelo de sistema, para que adotemos a sua tecnologia de transmissão pode ser vista como um grande negócio, que além de royalties, terá influência técnica e cultural por décadas sobre nosso parque industrial tecnológico e sobre o capital intelectual brasileiro.

O que estamos aprendendo com a realidade dos que já passaram por este processo em outros países? Algumas empresas de televisão já se adaptaram à captação digital, mas estão perdendo a oportunidade de testarem todas as possibilidades para produzirem conteúdo local a fim de suprir uma demanda futura. Seja através de entidades representativas ou lobbys, poucos estão participando da discussão técnica, política e cultural que esta mudança proporciona. Alguns canais locais que retransmitem o sinal das grandes redes de televisão sequer possuem recursos técnicos, financeiros ou humanos para ocupar o espaço que lhes é de direito na grade de programação diária, e quando o fazem, abusam de longas entrevistas em estúdio ou painéis de discussão sobre temas que não acrescentam nada.

A situação pode piorar se as emissoras tiverem que obedecer as diretrizes do Projeto de Lei nº 256 que regulamenta o Artigo 221 da Constituição de 1988, referente à regionalização da programação cultural, artística e jornalística das emissoras de rádio e TV. Então será importante aprimorar o desenvolvimento de projetos com o terceiro setor, estreitando uma parceria que tem sido benéfica a ambos ao longo destes anos. Anunciantes terão que encontrar novas e criativas maneiras de expor seus produtos, já que o tradicional intervalo poderá deixar de existir, pelo menos da maneira que o conhecemos, com a aplicação de softwares de restrição.

O merchandising permitirá o refinamento de parceiras com autores, atores e diretores. Nesse contexto, qual será o papel das agências de publicidade? Estamos há anos sendo domesticados através de programas que pregam a interatividade via Internet, telefone, carta ou celular como: "Você decide", "No limite", "Casa dos Artistas", "BBB" ou "Fama". A interatividade aplicada ao uso do t-commerce (nova forma de compra de produtos e/ou serviços com o uso do aparelho de televisão) acrescentará novos relacionamentos com lojas, sites e comunidades virtuais. Com certeza uma nova ordem surgirá proveniente dessas mudanças. A televisão ao lado do computador farão com que a sociedade da informação consolide-se como sociedade do aprendizado. Podemos pensar que tudo isso é um sonho, e que se implantada, será destinada apenas a grandes centros urbanos, mas ao analisarmos outras alterações de padronização que já ocorreram no passado, imediatamente sentiremos saudades dos que as desprezaram. Esta quebra de paradigma deve levar em consideração as adaptações necessárias para uma efetiva consolidação nas próximas décadas.

Para milhões de cidadãos brasileiros a TV é a única fonte de lazer, cultura, informação, entretenimento e até como modelo de formação político-educacional. Para estes milhões de telespectadores as opções em um domingo à tarde, após uma semana cansativa de trabalho, são os programas de auditório. Com múltiplos canais eles poderão realmente escolher programas diferenciados de outros gêneros. Acreditamos que esta deva ser a maior das discussões. A inclusão digital pela televisão ainda é um sonho distante de se encontrar soluções técnicas viáveis. As pessoas adoram novidades. Quem as está preparando?
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* Graduado em Administração de Empresas e pós-graduando em Tecnologia da Informação

** Graduado em Análise de Sistemas e pós-graduando em Tecnologia da Informação





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