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Adeus, menina

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Atualizado às 07:34

Desde criança ela apresentava deficiência respiratória, que os médicos diagnosticaram e batizaram de um nome complicado, com uma advertência à família: doença incurável. Prognóstico: poucos anos de vida. Quantos ? Só Deus sabe, não fosse a mãe a mulher de fé adulta que sempre foi.

Entre crises de tosse e sorriso angelical no rosto, lá foi ela vivendo a vida disponível, até graduar-se. Foi cuidar de crianças. Quem não a conhecesse suporia ser uma criança brincando com crianças menores do que ela. E sempre sorrindo, incapaz de comentar suas dificuldades respiratórias.

Levando vida normal, tanto quanto possível, conheceu um jovem médico, com quem veio a casar-se, produzindo o casal um belo filho, absolutamente saudável, como assegurara o pai ser possível, ante os compreensíveis temores da jovem esposa.

Para quem não chegaria aos 20, aquela jovem mãe viu seu filho completar seus 8 anos. É claro que agora seu estado de saúde piorava sensivelmente, a ponto de incluir-se ela numa fila de transplante de pulmões, coisa difícil de obter, pois, embora adulta, tinha ela compleição física inferior àquela própria de sua idade.

O avanço da doença agora era num ritmo assustador, exigindo reiteradas internações hospitalares, que prenunciavam o pior. O depauperamento tornara-se tal que, quando apareceram os esperados pulmões correspondentes a seu tipo físico, o médico recusou-se a tentar o implante. Ela não tinha condições de suportar uma cirurgia de 18 horas. Seria um sacrifício inútil a ser imposto a ela e um óbvio desperdício do material que poderia salvar a vida de outra pessoa.

O marido, agindo mais como o esposo amoroso que sempre foi do que como o médico sereno que todos nele reconheciam, desmandou-se e interpelou em termos ácidos seu colega. Sabia, porém, que nada mais havia a fazer, como veio finalmente a reconhecer. "Mas, que é a morte senão o portal que nos leva a uma vida mais plena?" há de ter-lhe indagado a cristianíssima sogra, que ele carinhosamente chamava de mãe.

Assim partiu a Paulinha, anjo de asas douradas, que a levaram para junto dos seus, de onde viera por tão breve tempo apenas para ensinar-nos o que é a vontade de viver.

Uma flor a menos no carente jardim deste mundo.