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Verdades e mentiras

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Atualizado às 07:24

 

À Dilma, sem o menor entusiasmo.

Não sei se já dei esse título a outra crônica, pois sou não só vidrado no tema como suficientemente preguiçoso para ir conferir isso nos meus arquivos. Verdade ou mentira?

Eu já falei dele e sua precocidade (clique aqui), assunto que mereceria não outra crônica, mas um livro. Pois com menos de três anos de idade, o Felipe se mostra um intransigente inimigo da mentira. A avó, en passant, dissera à mãe dele que, na terça-feira próxima, iria visitá-los. Ninguém sabe como ele soube disso. Na terça-feira, ele salta do berço cantando que "Hoje a vovó vem aqui, vem aqui, vem aqui". Quem disse a ele que estávamos na terça-feira? Mistério! Quando voltou da escola, colocou sua melhor roupa (ele é que escolhe as roupas que vai usar no seu dia a dia, inda mais agora que aboliu a fralda, coisa de nenê, segundo seu elevado parecer) e ficou vendo, impaciente, o desenho do Pocoyo para driblar a ansiedade, com um olho na tela da TV e outro na porta de entrada. A mãe, preocupada, resolveu telefonar à avó, dando conta do fato, e lá fomos nós cumprir a promessa, para sermos recebidos com um "Eu não disse?"

Festa de aniversário da mesma avó, que distribui às crianças belas mixigas (pronúncia dele) em forma de estrelas. Um dos garotos deixa escapar sua bexiga, que rapidamente ganha os céus. O Felipe vem procurar-nos aflitíssimo, pois alguém ali, gaiatamente, afirmara que a bexiga iria colidir com um avião e haveria explosão e fogo no céu. Queria que fizéssemos algo para impedir o desastre.

Isso me fez lembrar de uma passagem na vida de Santo Tomás de Aquino. Diz a lenda que, ainda seminarista, ele já se destacava entre os colegas, que não perdiam oportunidade para pregar-lhe alguma peça (tempos depois Freud explicaria o que está por trás dos chistes). Certo dia um deles pôs-se a gritar no pátio do seminário: "Vejam, um burro voando! Olhem o burro! Um burro voando!" Tomás desceu as escadas correndo e pôs-se a vasculhar o céu, em vão, provocando a gargalhada dos colegas. "Então já viste um burro voar, homem?" Ao que ele teria respondido: "Sempre achei mais fácil um burro voar do que um homem mentir."

Ainda o Felipe: o pai deixara o celular, desses que trazem até canivete e palito de dente feito de marfim, sobre a pia do banheiro e lá foi buscá-lo. O menino alcança o telefone antes e ameaça: "Olha que eu jogo ele dentro da privada." O pai apenas sorri e estende a mão direita, sem êxito. "Duvida que eu jogo?" O pai aumenta o sorriso e mantém a mão estendida, em silêncio. Nada de o garoto entregar o telefone (não vou entrar em psicologismos, tentando explicar o que está por trás disso). O pai então abaixa o braço e gira o corpo para sair do banheiro. É quando se ouve um som inconfundível: "Ploc!" E uma afirmação: "Eu não disse?"

Luis Fernando Veríssimo tem uma página notável (como se as demais não o fossem) na qual discorre sobre os seios de silicone, que, para muitas pobretonas despeitadas (passe o inevitável trocadilho) são seios falsos. Ele discorda. Falso é aquilo que quer parecer verdadeiro, mas, segundo ele, nem é preciso apalpar para saber que aquele é um verdadeiro seio de silicone. Falsos eram os seios cobertos de soutiens acolchoados, fonte de inúmeras decepções aos coevos de nossos pais e avôs. "Cadê o resto?" devem ter indagado muitos deles em determinadas circunstâncias. Vejam-se os seios da Dóris Day, por exemplo, com aquelas pontas mais agressivas do que convidativas. Naquele filme em que ela estufa o peito, para berrar o "que será, será", a fim de que seu filho, presumivelmente preso no andar de cima, soubesse que ela ali está para salvá-lo, temos um autêntico suspense Hitchcockiano: temos a quase certeza de que aquelas agulhas perfurarão a blusa de seda que ela usa quando a Dóris aumentar o som da música.

Para o Veríssimo, nada há na mulher mais verdadeiro do que o seio de silicone.

Vou prestar mais atenção no tema, com o elevado propósito de escrever outra crônica a respeito.

Aliás, parece que algumas siliconam também as nádegas.