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Suicidar-se

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Atualizado em 11 de outubro de 2022 09:48

A leitora Simone Souza Scoralick envia-nos a seguinte mensagem:

"Professor José Maria, poderia esclarecer uma dúvida? Sempre achei errado quando alguém diz: 'Fulano se suicidou...'. Acho que quem suicida, só pode suicidar a si próprio. Então, não vejo a necessidade de se usar o 'se'. O senhor pode tirar essa minha dúvida, se estou certa ou errada, no meu modo de pensar? Aguardo e agradeço."

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1) Atente-se à circunstância de que se perdeu, no fluir dos tempos, a idéia de que, no vocábulo analisado, o sui inicial quer dizer de si, razão pela qual, na atualidade, o correto e necessário é conjugar o verbo acompanhado do pronome se. Exs.:

a) "Ante a evidência das provas de acusação, o réu suicidou-se na prisão". (correto);

b) "Ante a evidência das provas de acusação, o réu suicidou na prisão" (errado).

2) Respondendo a um consulente que lhe indagava se tal verbo, "pela sua construção, não dispensa o pronome se", afirmava taxativamente Cândido de Figueiredo: "Não, senhor. Morfologicamente, em suicidar já consideramos de fato uma ação reflexa; mas como esse verbo, sem o pronome se, nunca existiu em português, pouco importam as nossas filosofias, e temos de aceitar os fatos incontestáveis da linguagem. Suicidar-se é fato corrente e constante nos vários períodos da nossa língua, e não temos que corrigi-lo. Aquela suposta redundância não é coisa insulada na história da língua".1

3) Reafirmando que, contrariamente à etimologia, o correto é suicidar-se, Domingos Paschoal Cegalla lembra que "a língua nem sempre se submete ao jugo da lógica".2

4) Francisco Fernandes, de igual modo, também o vê apenas com a possibilidade de construção pronominal:

a) "Só poderia resistir suicidando-me". (Camilo Castelo Branco);

b) "Suicidou-se levado pela ambição".3

________

1Cf. FIGUEIREDO, Cândido de. Falar e Escrever. 4. ed. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1941. vol. II, p. 197-198.
2Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 383.
3Cf. FERNANDES, Francisco. Dicionário de Verbos e Regimes. 4. ed., 16. reimpressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1971. p. 558.