Crise no sistema penitenciário

9/1/2018
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Uma proposta para a TV Justiça: Me parece um erro gritante, que não talvez não se possa admitir, o destaque que se deu à "festa com droga em presídio". Esta é a chamada principal hoje sobre a crise dos presídios. Todo mundo sabe que existe mas, sinceramente, é inacreditável dizer que este é o problema do sistema carcerário. Meu Deus, este é o menor problema, embora grave. As inúmeras mortes, a chacina, o levante, as decapitações, as fugas, nada disto foi pela festa com droga. Foi pelo estado humilhante do sistema penitenciário, pelo indecoroso excesso na população carcerária, por existir um número absurdo de presos. Por termos hoje 800 mil presos, oficialmente a terceira maior população carcerária do mundo. Mais de 50% de presos provisórios! Um escândalo. Um escárnio. Este é o resultado da política de encarceramento deste momento punitivo. O Supremo, em um movimento populista, suprimiu a presunção de inocência. Privilegiou mandar para a cadeia milhares de pessoas sem rosto, sem voz, sem defesa para dar uma satisfação a uma sociedade faminta de prisão e de repressão. Triste tempo. Tristes dias. E ainda suspendeu parte do indulto. O que seria interessante era fazer um filme de 50 minutos das desgraças das prisões brasileiras. Mostrar o real. Celas com 50 vezes mais pessoas do possível, do humano. Mostrar a comida de esgoto. O estupro, real, diário. As pessoas se revezando para dormir, em pé. A falta absoluta de dignidade. O caos. A morte. É natural que todos nós fiquemos chocados com as imagens dos levantes, mas esta é a nossa cruel realidade. Fica a proposta: o CNJ convoca a TV e por 30 dias, em horário nobre, ao invés de passar a TV Justiça, onde os ministros se mostram garbosos, vamos passar em tempo real, sem mascarar, os presídios brasileiros. No interior, nos grandes presídios. Mostrar os estupros. As agressões. A fome. As celas superlotadas. O frio. O calor extremo. A miséria humana. A degradação. A transformação em lixo do que ainda existe de homem, de humano, no preso. A falta de seriedade de cada um de nós com o enfrentamento do assunto. Vamos levar esta miséria para a TV Justiça. Ao vivo. Para o país ver a nossa realidade prisional. Vamos ver o que de humano ainda existe em nós, qual a nossa capacidade de indignação.

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