Indulto

28/12/2018
José Pedro Brito da Costa

"Em relação ao comentário referente ao indulto natalino, explicitando a possível não extensão do benefício aos condenados por crime de corrupção e um possível descontrole do sistema de freios e contrapesos, creio que há uma questão a ser esclarecida. Certa vez o jornalista e escritor Reinaldo Azevedo disse que a periculosidade de um corrupto não se compara a de um assassino ou latrocida. Para exemplificar sua fala, asseverou: " se você encontrar um corrupto num beco à noite ele não te fará mal, o mesmo não pode ser dito do latrocida ou do assassino" (palavras aproximadas).  Pois bem. De fato, do ponto de vista da periculosidade física, não há dúvida de que um "Eduardo Cunha", "Cabral" (que já foram condenados) não são tão agressivos do que um "Pedrinho matador", que agora é comentador de crimes (vai entender). Isso confirma a afirmação de Reinaldo Azevedo. Por outro lado, a premissa está equivocada. Um corrupto não é nem latrocida e nem assassino, ele simplesmente é um genocida, movido pelo individualismo radicalizado (no sentido negativo do termo), desconsiderando as consequências do seu ato. Em outras palavras, não tem respeito pelo outro, já que respeito é a capacidade de consideração do outro quando decide sobre sua própria vida. Ele é um genocida porque as consequências mais gravosas da corrupção têm endereço certo. Estão nas filas dos hospitais públicos, nos municípios sem médicos, na ineficiência das políticas públicas e das ações estatais. Estão alocadas nos presídios, na marginalização da pobreza. Esses são seus locus. Não é alta classe que mais sofre com a corrupção, é classe média e classe baixa. Esses são os destinatários da ação genocida dos corruptos do país. Não me refiro aqui a um possível desvio de função do Poder Judiciário em relação aos demais poderes. Apenas me insurjo com a comparação do corrupto com o assassino ou com o latrocida, como se esses últimos fossem mais culpados e que tivessem cometido conduta socialmente mais reprovável. Ledo engano. Pedrinho matador, considerado o maior serial killer do país, matou em média 120 pessoas. Quantas pessoas morreram na administração corrupta de Sérgio Cabral e companhia? Quantas pessoas morreram na fila do hospital sem atendimento médico? Quantas crianças sem aula? Quanto policiais e moradores das comunidades morreram na chamada "guerra às drogas" ou "guerra às facções criminosas"? Quantas pessoas morreram por falta de remédio? Afinal, quem seria o bandido mais perigoso para a sociedade? O corrupto ou o assassino e o latrocida? Feliz ano novo."


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