Fundação Palmares

5/12/2019
Milton Oliveira

"Penso que com a tese defendida nos exatos conceitos pregados pelos presidentes anteriores, de referida instituição, a situação do negro 'comum do povo' em nada evoluiu, a não ser na verborragia acerca do reconhecimento de seus direitos (Migalhas 4.745 – 5/12/19 - Fundação Palmares). Que direitos? Ah, sim, os mesmos reconhecidos aos brancos pobres. É, a cor da pele pode até camuflar o desprezo que se tem por qualquer pessoa 'comum do povo', não obstante a discriminação contra o negro receba mais o holofote. Contudo, vivendo neste Brasil de tribos, acredito que é muito melhor ser um negro com uma conta bancária endinheirada a ser um branco assalariado! Quer saber se acredito na existência de racismo no Brasil? Sim, acredito. Contudo, acredito que deveria ser combatido o gênero da 'discriminação', vencido este, aí sim passaria-se a combater a espécie 'discriminação': discriminação contra o negro; discriminação contra o índico; discriminação contra o pobre; discriminação contra a mulher; discriminação contra o idoso; discriminação contra a criança; discriminação contra o taxista; discriminação contra o motorista de ônibus; discriminação contra o motorista de aplicativos; discriminação contra os motoristas domingueiros; discriminação contra a motorista mulher; discriminação contra o político; discriminação contra o juiz; discriminação contra o promotor público; discriminação contra o advogado (visto genericamente como ladrão; advogado de porta de cadeia); discriminação contra membros deste ou daquele partido político; discriminação contra o estrangeiro; e, aqui, aproveito para abrir um parêntese para consignar que, ao meu ver, a discriminação brasileira não tem cor, mas sim muito 'rancor', e assim vale relembrar um epsódio ocorrido nos anos 80, quando o cantor inglês Ritchie, que ficou famoso, na época, com a música 'Menina Veneno', foi referenciado pela cantora brasileira, frise-se, negra, Alcione, que ao ser indagada, em uma entrevista, respondeu, em um tom, por mim, considerado discriminatório, dizendo mais ou menos assim: 'o Ritchie? é só um estrangeiro!'. Quero apenas exemplificar, com esse fato, que a discriminação brasileira é genérica e imposta ao outro, ou seja, àquele que não pertence ao miscigenado grupo do discriminador/racista. Acredito que no Brasil fora construída uma perspectiva separatista de tribos. Sim, criou-se inúmeras comunidades de todo tipo de gênero e espécies preocupadas apenas com os interesses de sua própria 'tribo', assim, nesse espectro, discriminar o negro, o índio, o pobre, o estrangeiro, etc., sempre será possível e inofensivo, desde que, é claro, não se trata de discriminação voltada contra membros da 'minha', da 'sua', da 'nossa', tribo! Sendo assim, talvez devêssemos entrar com uma ação pedindo a suspensão da nomeação do presidente dessa ou daquela instituição, pois ao certo, a seu modo de pensar é que será dirigido os rumos da instituição pertinente e, pode acreditar, tem um mundo de gente contra a manifestação de seu pensamento que, no final, nada de efetivo melhora, a não ser para quem se assenta no trono do poder. E pra você que acredita que tudo isso dito aqui é detalhe insignificante, considere que talvez você esteja pensando na perspectiva de tribo. Então, lembre-se: a degeneração inicia-se sempre por um ou outro órgão, como se dá com o câncer, até tomar todo o corpo. No caso da discriminação, é o corpo social que sofre com a perda da paz!"

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