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Política & Economia NA REAL n° 106

terça-feira, 22 de junho de 2010

Atualizado em 21 de junho de 2010 17:06


Fato novo e positivo

Finalmente a China fez um movimento positivo em relação à atual conjuntura mundial. O governo comunista de Pequim parece estar iniciando um movimento de valorização de sua moeda. Usamos o "parece" porque em outros momentos as autoridades chinesas indicaram que iam fazer tal alteração de política econômica, mas acabaram não permanecendo nesta estratégia. Note-se que, na prática, a taxa de câmbio da China é estabelecida pelo governo independente das pressões por uma maior liberalidade em relação a esta variável.

Por que esta alteração é importante ?

A China é estruturalmente competitiva por uma série de razões, mas duas são determinantes : (i) o custo baixo de sua mão-de-obra e (ii) a política de manter o yuan desvalorizado. Numa conjuntura de baixa atividade mundial é fundamental que países como os EUA e aqueles que estão debaixo do euro sejam mais competitivos nas operações externas, seja para ativar as suas exportações, seja para aumentar a taxa de emprego via exportações. Ora, este passo dado pela China é importantíssimo para a consecução deste ajuste global. O país comunista sabe que é parte do jogo e lhe é conveniente esta flexibilização no momento. Todavia, não tenhamos ilusões : este ajuste será estrutural e as repercussões no curto prazo desta alteração de política econômica da China é apenas um pequeno passo na direção correta. Temos de observar mais.

Efeitos nos mercados

Há certo alívio no mercado mundial em relação à crise europeia. Este alívio pode ser apenas momentâneo em função da gravidade dos problemas encontrados no Velho Continente. Porém, é fato que o momentum é favorável nos diversos segmentos do mercado mundial. O anúncio da China relativamente à flexibilização de sua taxa de câmbio é, neste contexto, positivo e deve contribuir para levar o preço dos ativos para cima. Ainda não dá para ser mais enfático sobre a continuidade deste processo, mas é bom relevar as análises mais negativas em relação ao cenário. É o que estamos fazendo no que tange às nossas análises anteriores.

Relembrando a Europa

O BCE - Banco Central Europeu, as autoridades governamentais europeias e o próprio mercado ainda não sabem a dimensão dos riscos para o setor financeiro do financiamento das dívidas privadas e governamentais da Grécia, Espanha e Portugal, países mais afetados pela restrição de liquidez no mercado. Na imprensa internacional, tem saído uma série de notícias que indicam que a exposição do setor financeiro às tais dívidas é da ordem de US$ 2 trilhões. Um número gigantesco o que torna muito difícil saber qual pode ser o nível da inadimplência do sistema financeiro. De toda a forma, a restrição de liquidez no sistema permanece muito deficiente. Sobre o euro pesa o principal efeito no curto prazo perante estas enormes dúvidas.

Radar NA REAL

Estamos ligeiramente mais positivos em relação ao cenário externo, sobretudo no que se refere ao "fato novo" : a flexibilização da taxa cambial chinesa. Assim sendo, alteramos a nossa avaliação relativamente aos mercados acionários para estável. No cenário interno não existem "fatos novos". Ao contrário, a Copa do Mundo parece paralisar o andamento da política e da gestão econômica. O cenário de curto prazo é benigno e no médio prazo é possível que existam alterações mais substantivas na política econômica, especialmente no que se refere aos gastos públicos. Por enquanto, o que está mesmo a pesar é o cenário externo que passa por bom momento no curto prazo.

18/6/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2392 baixa baixa
- REAL 1,7622 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 64.437,58 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.117,51 estável alta
- NASDAQ 2.309,80 estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

O que assusta em Dilma, o que assusta em Serra

Nenhum dos dois é capaz de provocar turbulências como as que aconteceram em 2002, mas tanto Dilma quanto Serra são vistos com alguma desconfiança por investidores e agentes econômicos do alto da pirâmide. Teme-se em Serra possíveis guinadas mais fortes na política de câmbio e de juros, inovações tributárias que ele costuma adotar para aumentar a arrecadação e sua indisposição com o que classifica como excesso de autonomia do BC. De Dilma teme-se o gosto pelo estatismo, a inexperiência política, a dependência excessiva do pantagruélico PMDB e da estrutura burocrática do PT.

O estômago do PMDB e os contrapesos do PT

Não apenas os agentes econômicos parecem preocupados com o peso que o PMDB ganhou na campanha de Dilma - protagonista, não um coadjuvante. E assusta mais ainda a influência que o partido que já foi de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves deverá ter num futuro governo Dilma, a partir de sua bancada no parlamento. O PT, regionalmente, abriu tanto espaço para o PMDB - e para outros aliados, como o PSB - que já se fazem cálculos de que os peemedebistas terão representação na Câmara e no Senado maior do que a atual, enquanto o PT corre o risco de encolher. Sem contar que o PMDB deve aumentar também o número de governadores. Por essas e outras já se fala num possível "parlamentarismo caboclo" em 2011, com Dilma no Planalto e Michel Temer informalmente comandando o Legislativo.

Pessoas-chave no PT

É por essas e outras também que o PT está reforçando o cordão sanitário em torno de sua candidata, com o reforço dos papéis dos ex-ministros Palocci, um interlocutor mais do que confiável para o mundo econômico, e José Dirceu, um excelente "guarda de quarteirão" para enquadrar petistas renitentes e dar uns chegas pra lá em aliados inconvenientes. Não é ainda por outra razão que Lula tem dado sinais cada vez mais claros de que gozará a partir de 2011 de sua sonhada aposentadoria. Como o episódio do Irã, as frestas para a projeção exterior do presidente Lula estão fechadas, pelo menos por enquanto. Lula vai ficar ativo aqui mesmo. Não vai deixar Dilma entregue às feras, caso ela vença. Caso não vença, não deixará o sucessor em paz.

O vice tucano - capítulo XXXX.....III

Tudo indica que a escolha do companheiro de chapa de Serra se dê esta semana. Bem ao modo tucano, pode ser que fique também para depois, até a data fatal do dia 30/6. Tudo é incógnita. Certo mesmo é que os aliados oposicionistas desistiram de contar com Aécio Neves nesta vaga. Quase certo, também, é que a chapa deve ser "puro sangue", com dois tucanos que se biquem. O PP está descartado, porque ficou indeciso e também porque seu nome preferencial, o senador Francisco Dornelles, passou a dormir mal depois que ajudou a atenuar o projeto dos candidatos fichas-sujas. Os aliados PTB, DEM e PPS estão fazendo figuração externa, para consumo de seus filiados, de que estão disputando o lugar. Na realidade, vão acatar a decisão de Serra. Há muitos nomes na lista, porém ao que se saiba, Serra não abriu suas preferências para ninguém que não soubesse guardar muito segredo.

Estratégia de comunicação de Serra

Houve uma mudança, ainda não consolidada, em relação ao candidato tucano. Nas últimas aparições na TV é chamado de "Zé". Uma tentativa de popularizá-lo. Todavia, este é apenas um teste de conceito, como explanam os marqueteiros. A tendência é testar, além do conceito de "Zé", a imagem de professor. Uma coisa parece mais definida : o ataque em relação à Dilma vai ser mais pessoal, apostando na antipatia da candidata de Lula.

A Justiça eleitoral e o caixa dois

O TSE, depois de um bom tempo, aliás bons anos, validando todas as bandalhas político-partidárias e eleitorais praticadas por nossas legendas, agora resolveu fazer o que todos os eleitores esperam dele e é a sua própria razão de existir : fazer com que a atividade política no país seja mais limpa e competitiva. O primeiro sinal de que as coisas não seriam mais iguais veio com a decisão do TSE, depois confirmada pelo STF, estabelecendo normas de fidelidade partidária no país.

A outra medida

Em seguida, vieram as pressões, discretas, porém nada sutis, para que o Congresso aprovasse a lei dos fichas-sujas, uma iniciativa popular. Finalmente, na semana passada, veio a interpretação extremamente rígida das normas contra a inscrição eleitoral de políticos condenados, inibindo as manobras dos deputados e senadores para tornar a lei inócua. A Justiça eleitoral só não conseguiu, até agora, encontrar formas de acabar com o caixa dois e outros caixas menos nobres no financiamento das campanhas milionárias. O que já está jorrando de dinheiro agora não é brincadeira... Qualquer cálculo oficial de gastos apresentados por partidos e candidatos pode ser, sem risco de erro, ser multiplicado no mínimo por três. Com raríssimas, mas raríssimas mesmo, exceções.

Campanhas estaduais inflacionadas

Uma campanha para os governos estaduais dos grandes estados custa entre R$ 18 e R$ 20 milhões. Um número muito elevado se levarmos em conta que este valor não inclui os gastos comuns em relação às campanhas presidenciais. Esta informação foi repassada a esta coluna por gente que conhece muito bem o assunto de financiamento de campanhas. A fonte está impressionada com a "inflação do mercado eleitoral".

Ego em baixa

Levantamento feito pelo jornalista José Roberto Toledo, para o Estadão, nos discursos de aceitação de suas candidaturas, revelou que a candidata Marina Silva utilizou 28 vezes a palavra "eu", Serra, 18 vezes, e Dilma apenas 4 vezes. Nenhuma surpresa para tanta diferença Dilma não é Dilma, mas somente um codinome dele, Lula.

Contabilidade de padaria

No ano passado, com o balanço das contas da União consolidado, constatou-se que as principais estatais (Petrobras, BB, CEF, Eletrobrás, Correios, BNDES) entregaram ao Tesouro Nacional R$ 26,6 bilhões em forma de dividendos. Em tese, nada demais. Afinal, o governo é dono ou sócio majoritário de todas, e nada demais que usufrua de seus lucros, como qualquer acionista. Na realidade, porém, não é bem assim. O governo tem obrigado essas empresas a aumentar a transferência de seus ganhos para o Tesouro para poder mostrar que está cumprindo as metas fiscais, atenuadas no ano passado, de superávit primário. Parece que o governo obedece ao estabelecido na base de disciplina fiscal, com economia de gastos, porém não é tanto assim. No período de 1997 a 2006, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, a contribuição dos dividendos das estatais para o superávit Federal foi em média de 11%. No ano passado, subiu para nada menos que do 67,8%, mais de dois terços. Além do mais, cria-se um problema mais sério. Para capitalizar o BNDES, por exemplo, o governo toma dinheiro emprestado ao mercado, pagando a taxa Selic. Ou seja, o BNDES dá dinheiro que ele tem de graça - seu lucro - para o Tesouro e depois o Tesouro paga juros para ajudar o BNDES. Indiretamente é o que faz também a Petrobras. Paga dividendos ao Tesouro Nacional e, em seguida, vai tomar empréstimos no BNDES e nos bancos para garantir seus investimentos. Não é nem como a contabilidade das velhas padarias.