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Política & Economia NA REAL n° 109

terça-feira, 13 de julho de 2010

Atualizado em 12 de julho de 2010 12:00

A "dupla recessão" I

Depois da reunião dos países do chamado G-20, ficou evidente a divisão entre os países europeus e os EUA no tratamento da atual crise econômica. Há duas posições nítidas : os europeus estão investindo esforços políticos para viabilizar a disciplina econômica e reduzir os déficits fiscais nos países da eurolândia. Tudo isso em meio à recessão na maioria dos membros da UE. O desemprego está elevadíssimo e a atividade econômica, já carente de consumo, é mais capenga ainda de investimento. Já os EUA permanecem numa posição menos hesitante : estão dispostos a pagar o preço dos déficits elevados e tentar recuperar o emprego e o consumo que se perderam após o final de 2008. Há limites políticos para tanto, mas estes ainda não foram preenchidos.

A "dupla recessão" II

O cenário entre os países desenvolvidos se completa com as perspectivas mais positivas dos países emergentes, sobretudo a China. Todavia, há algumas dúvidas no front que inspiram cuidados : a China persiste crescendo ao redor de 10% ao ano, com a inflação e as contas públicas apresentando sinais negativos. É possível que em 2011 o governo comunista de Pequim resolva estabilizar o crescimento num patamar mais baixo, digamos, 6% ou 7%. Isso no momento em que a demanda mundial está fraca. Não se trata de algo promissor. O mesmo pode acontecer na Índia e Brasil. A Rússia depende muito das variações dos preços do petróleo. Estes aspectos não causam impacto no curto prazo, mas devem afetar o cenário no médio prazo.

A "dupla recessão" III

O problema das variáveis acima relacionadas é que os setores mais dinâmicos da economia, sobretudo o mercado de capitais, estão se tornando paulatinamente avessos a investir. Temem que a falta de impulsos concretos à demanda possa alimentar um longo período de fraqueza econômica e, até mesmo, uma outra recessão. Os preços dos ativos (ações, títulos de renda fixa, etc.) refletem um cenário de recuperação gradual, mas a discussão em torno de uma nova recessão deve alimentar uma nova rodada de especulação. A volatilidade voltou a subir nas últimas semanas, muito embora houvesse uma recuperação dos mercados. Não tenhamos ilusões : todo mundo está "com as barbas de molho".

A discussão eleitoral no Brasil

A campanha política deste ano será marcada por forte proselitismo em torno do crescimento. Todavia, é muito improvável que os eleitores tenham, da parte de Serra e Dilma, evidências mais concretas de como as barreiras fiscais, tributárias, sociais e de infra-estrutura - que impedem que o crescimento seja mais robusto - serão removidas. Assim, tudo não passará de uma discussão sobre quem é o "melhor gerente" do país. Todavia, a possibilidade concreta de um cenário externo frágil por longo tempo imporá mais critério na gestão fiscal e monetária a partir da inauguração do novo governo. Infelizmente, este aspecto não será tocado pelos candidatos e nem percebido pelos eleitores.

(veja as duas notas abaixo)

Caça aos eleitores

Desde que as modernas técnicas de marketing político e eleitoral desembarcaram no Brasil, os ditos marqueteiros têm-se se esmerado em dar na comunicação dos candidatos aquilo que as pesquisas indicam ser a agenda, as reivindicações, as preocupações da população. As pesquisas determinam a pauta, as promessas, recheiam os discursos e alimentam os programas de governo, mesmo que o futuro governante tenha outras ideias. Acredita-se que a boa abordagem dos temas que a sociedade deseja ver resolvidos ajuda a angariar votos. No Brasil, antes do Plano Real e do atual processo de distribuição de renda e crescimento da economia, o topo desta lista era ocupado por inflação, emprego e salário, não necessariamente nesta ordem, dependendo da conjuntura. Agora, nessas eleições, a situação é outra.

A saúde no topo

Em primeiro lugar na lista das preocupações dos brasileiros neste ano da graça de 2010 está a saúde, curiosamente a área menos bem avaliada do governo Lula em diversas pesquisas. Em seguida, pela ordem, ficam : segurança pública (com a questão das drogas), desemprego, educação/fome e pobreza. Na opinião dos eleitores pesquisados, o candidato José Serra é o mais bem preparado para resolver os primeiros (saúde e violência urbana), Dilma o terceiro e o último (desemprego/fome e pobreza) e em educação os dois teriam as mesmas condições. Será fascinante acompanhar os ditos do tucano e da petista a respeito desses assuntos.

A política externa

Lula alterou substancialmente a rota da política externa do Brasil. Tornou-a multipolar e com alianças pontuais e dependentes do interesse temático. Não há alinhamentos automáticos, nem mesmo na América do Sul. O episódio do acordo com o Irã é talvez o mais emblemático. Resta saber o que pensam os candidatos sobre este tema que não atrai muitas preocupações dos eleitores, mas que será vital para os negócios do país. Sobretudo, quando a expansão dos investimentos estrangeiros no país está aumentando em velocidade e relevância.

Dias de alívio passaram

A semana promete pelo menos uma nova pesquisa eleitoral. Vai-se o sono da oposição e do governo, depois que as mais recentes sondagens convergiram para um empate entre Dilma e Serra. Um estudo do ex-prefeito César Maia, sobre a média dos levantamentos dos principais institutos, com base apenas nos votos válidos, aponta os dois, no fim de junho, com 44% cada na intenção de votos. A expectativa da oposição é que as novas pesquisas validem suas teses de que se esgotou a capacidade de transferência de votos de Lula para a pupila dele e que ela agora terá de andar sem as muletas presidenciais. A situação espera confirmar sua análise de que a recuperação de Serra é fruto da grande exposição que ele teve no rádio e na televisão por conta das aparições em programas dos partidos que o apóiam. Para os especialistas, o início oficial - quanta hipocrisia ! - da campanha não vai alterar o retrato do fim do mês passado. Agora, o grande eleitor vai ser a televisão. A não ser que aconteça algo de muito inusitado.

BNDES no foco

Dois grupos estão com suas atenções voltadas para o gigante do fomento. O primeiro, feliz, pois de lá está rolando dinheiro farto e barato. O outro, preocupado, pois a generosidade da instituição pode virar uma perversidade para as contas públicas e a economia nacional. Já causa apreensão ao BC, ciúmes no BB e é mais procurado do que o Ministério da Fazenda. É quase um superministério da Economia.

Promiscuidade estatal

Alerta de quem entende : está ficando perigosa a relação dos cofres do Tesouro Nacional com os de algumas empresas estatais. Já se fala em "orçamento paralelo", em "nova conta movimento" que nos tempos do regime militar funcionava como fonte para os projetos estatais via BB e outras bruxarias que custaram muito caro para a sociedade.

E o Congresso ?

Os parlamentos surgiram como um elemento de fiscalização e controle do erário. Fosse na era absolutista ou após as revoluções pós-1789, os políticos exerceram um papel fundamental para que o Estado não avançasse mais do que deveria sobre a sociedade. No Brasil, país de forte preponderância do Executivo, chega a ser impressionante o papel passivo do Legislativo na fiscalização dos gastos do governo. Os avanços do setor estatal são enormes, tanto quanto o acanhamento do Legislativo. Trata-se de uma questão vital para a sociedade, mesmo que esta também esteja passiva perante tudo que está aí.

Para o veto de Lula

Quando o Congresso estava para aprovar o aumento de 7,7% para as aposentadorias do INSS acima do salário mínimo, contra os 6 e poucos por cento propostos pelo Planalto, o governo ameaçou com o veto de Lula, caso deputados e senadores insistissem numa medida que, segundo o diagnóstico dos ministros Guido Mantega, seria um desastre para as contas públicas. Com os ventos eleitorais soprando cada vez mais fortes na sua nuca, o presidente fez com que os dois ministros encontrassem os cerca de R$ 1,6 bilhão que é o que custará a "bondade" do Congresso este ano e para todo o sempre, pois é uma despesa continuada. Semana passada, os congressistas, no bojo da LDO, com os aplausos das centrais sindicais, hoje totalmente engajadas na campanha presidencial patrocinada por Lula, deram curso a outra generosidade : determinaram que todas as aposentadorias e pensões do INSS devem ter um aumento idêntico ao que for dado ao salário. Pelos cálculos iniciais, tem um poder detonador de um "desastre" pelo menos dez vezes superior ao dos 7,7% que ele não vetou. Vetará agora em nome da apregoado responsabilidade fiscal de seus ministros econômicos ?

Um segundo veto ?

Na mesma LDO o governo deveria observar com atenção algumas "liberdades poéticas" concedidas pelos parlamentares a ministérios e órgãos públicos com potencial para produzir gastos excessivos e escândalos de bom tamanho. É o caso da exclusão das obras oficiais para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016 da lupa do TCU. E de normas que também dificultam o olhar o TCU sobre a Petrobras e a Eletrobrás ? Vetará Lula tais liberalidades, ele que nunca morreu de amores pelo TCU e seu rigor nos últimos anos ?

Qual o jogo da Anatel ?

Quem entende do riscado está alarmado com a decisão da Anatel, por medida cautelar, de tornar mais flexível o processo de concessão de TVs a cabo no Brasil. Em princípio, a liberalização é bem-vinda, pois ampliará a competição numa área ainda muito concentrada e de grande importância para a economia. Porém, do modo como está o setor e como ficaram as normas, apenas uma empresa poderá se beneficiar com as mudanças, ganhando vantagens no mercado mais cobiçado do momento e o considerado o negócio do futuro nas telecomunicações - o de banda larga. O mesmo no qual o governo está entrando, com mais volúpia do que admite publicamente, com a reinauguração da Telebrás. Segundo um estudo da IBM, conhecido na semana passada, em 2015 haverá no mundo 800 milhões de assinantes de banda larga fixa e 1 bilhão de banda larga móvel.

E seria ilegal

Juristas asseguram que, além de tudo, a decisão da Anatel é ilegal. Ela não pode, cautelarmente, suspender, como de fato o fez, normas da lei de TV a cabo. É função do Congresso, não de uma agência reguladora. Ainda mais uma agência cada vez mais submissa aos desejos do Executivo.

Radar NA REAL

Conforme dissemos nas notas que abrem esta coluna, a volatilidade dos mercados mundiais tem aumentado em função dos riscos de que haja uma nova rodada de desaquecimento da demanda global. Isto depende de muitas variáveis, é claro. Todavia, os riscos estão aí presentes e devem colocar um teto à crença de que há consistência na recuperação econômica. Assim, os diversos segmentos do mercado financeiro internacional estão nervosos com as perspectivas relativas à economia mundial. Nas próximas semanas, teremos a divulgação dos resultados trimestrais das principais empresas no mercado norte-americano. Estes resultados devem dar indicações sobre a saúde da recuperação mundial. Sobretudo, no caso das empresas transnacionais, os analistas irão se deparar sobre a origem destes resultados. Por enquanto, os resultados obtidos nas principais economias mundiais são sofríveis, exceção a uns poucos segmentos da área de tecnologia. Não estamos alterando o nosso radar que persiste negativo na maioria dos segmentos. Nas próximas semanas, teremos um aceso debate sobre a política monetária. Os indicadores brasileiros de consumo, investimento e inflação mostram sinal de estabilização. Nesse contexto, o quanto pode subir ainda a taxa de juros ? Esta pergunta ainda não tem resposta.

9/7/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2576 baixa baixa
- REAL 1,7626 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 63.476,32 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.077,96 estável alta
- NASDAQ 2.196,45 estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável