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Política & Economia NA REAL n° 171

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Atualizado em 26 de setembro de 2011 10:36

A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma I

Em doses homeopáticas, sem muito destaque, o governo da presidente Dilma tem dado clara indicação das diretrizes de sua política econômica, do cavalo de pau que está dando na política herdada de Lula. Esta, por sua vez, herdada por Lula de FHC. Da própria Dilma, no discurso na ONU : "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se recolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia". Para quem lê, está enunciado o princípio de que o Estado vai intervir sempre que julgar necessário, cada vez mais. O tripé de política econômica composto pelo câmbio flutuante, política fiscal disciplinada e meta de inflação hoje tem valor relativo.

A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma II

O boletim bimestral "Economia Brasileira em Perspectiva", do ministério da Fazenda, distribuído também na semana passada, informa que "uma política monetária expansionista seria uma resposta à desaceleração da economia". Na mesma linha de outro dito da presidente em NY : que não dá para sair da crise "produzindo recessão". Em Brasília, vozes mais entusiasmadas, já chamam esse arranjo de "o Plano Real" de Dilma. Dando certo, seria o passaporte para ela se livrar da sombra de Lula e projetar uma espécie de "dilmismo", para além de 2014.

A economia na real

Se, de um lado, é certo que Dilma começa a formular uma política econômica fora dos padrões dos governos anteriores, de outro os problemas econômicos atuais são efetivos. A crise externa começa a interferir diretamente sobre a economia brasileira. A face mais visível são os recentes movimentos altistas do câmbio e sua correspondente influência sobre a inflação. Todavia, não é o único efeito. Linhas de crédito em reais e moeda estrangeira estão substancialmente mais caras e escassas, os investimentos diretos estão sendo paulatinamente revistos, o consumo de bens duráveis mostra sinais de enfraquecimento e, com efeito, a atividade econômica está bem mais frágil, algo além do que podia se esperar. O Brasil vai crescer menos que a média da América Latina e cerca de 1/3 do que Índia e China vão crescer este ano. Tudo isso é muito significativo.

Inflação : o problema mais urgente

O futuro é, por definição, incerto, muito embora os economistas de plantão estejam sempre prontos a prevê-lo. Ora, quem poderia esperar que inflação superasse tão rapidamente a meta estabelecida pelo BC, a qual baliza a política monetária ? Basta verificarmos o que diziam as fontes no final do ano passado sobre o assunto. Pois bem : alguém pode duvidar que a inflação possa atingir um patamar (anual) acima dos dois dígitos ? A resposta honesta hoje é que a probabilidade de que isto aconteça é significativa e, ao mesmo tempo, crescente. As variações da taxa de câmbio pesarão sobre a inflação e é bom não esquecermos de que há mecanismos de indexação suficientes na economia brasileira (aluguéis, crédito imobiliário, salários, preços públicos, etc.) que tragam de volta o "velho" fator inercial. Não apenas o governo subestima este cenário. O próprio "mercado" também o faz.

E a política ?

Em nome da "política dos políticos" é que está havendo uma certa condescendência com a inflação. Acredita-se que mais PIB signifique mais votos no baú. Esquece-se de que não há maior buraco negro de votos do que preços altos e renda em queda. Principalmente para uma classe "C "emergente, a dita classe média do Lula.

BC : credibilidade em baixa

A taxa de juros básica no Brasil já poderia estar mais baixa há algum tempo, coisa de anos. Há uma gama de economistas que dirão o contrário, mas o certo é que não há "provas científicas" que sustentem que temos de ter uma taxa de juros real tão alta assim. Esta premissa, contudo, não afasta a constatação de que o BC escolheu a pior forma e momento para iniciar a queda dos juros. Com a inflação em alta e a taxa de câmbio supervalorizada, o BC tomou para si e, por decorrência, para o país, todos os riscos econômicos. Provavelmente, não faltou "sensibilidade" à autoridade monetária em relação ao tema, tanto é que a última decisão do COPOM foi construída com os votantes do BC divididos. Agora, a coisa ficou mais complicada, pois o esforço do BC para retomar as rédeas da inflação terá de ser muito maior. Neste caso, Tombini e sua turma poderão descobrir que estarão sozinhos nesta tarefa.

A questão dos derivativos

É direito de qualquer governo cuidar para a higidez de um segmento de mercado. Ainda mais quando se trata de câmbio. Os ingressos de recursos externos já são enormes desde a década de 90. Coisa de longo prazo e cujo destino sempre foi o lucrativo mercado de juros brasileiro. Em julho o governo, leia-se Fazenda, resolveu adotar uma medida de restrição cambial, escolheu o mercado de derivativos com o fito de evitar a tal da "arbitragem" entre juros locais e externos. Está claro que a medida adotada não foi concebida com a devida análise de suas consequências. Por duas razões : (i) os "hedgers" (aqueles que querem proteção cambial) tiveram que comprar posições no mercado à vista, pois não há mais vendedores de câmbio no mercado de derivativos. De outro lado, (ii) os detentores de dólares não vão liberá-los, pois poderão não ter liquidez no futuro. Resultado : apenas o governo pode fornecer dólares com suficiência para o mercado. É o que está a ocorrer. A Fazenda fez algo inesperado : deu um nó no BC. Que, obediente, calou-se.

A crise europeia

Não dá para ficar pessimista com o anúncio e as notícias que vieram da reunião do FMI neste último fim de semana. Isso não significa que devemos ficar eufóricos. De fato, a leitura do que saiu da autoridade multilateral mostra que, finalmente, os europeus parecem dispostos a agir, criando formas e fontes que aumentem a liquidez do sistema financeiro, bem como limitem os riscos do crédito soberano. Não será somente a pequena Grécia a ser analisada na reunião da UE na primeira semana de outubro. De fato, parece que teremos novidades e estas serão positivas. Isso não quer dizer que os mercados reverterão as expectativas. Quer dizer que talvez poderemos rever as nossas piores expectativas. Não dá para se antecipar às medidas e operar no mercado, mesmo porque caso a "nova estratégia europeia" seja um desastre, os efeitos serão terríveis. Por isto não mudamos o nosso "Radar NA REAL".

A pergunta de Canotilho

A edição, na última quinta-feira, do "Prêmio Mendes Junior" da GVLaw reuniu Delfim Netto, Ives Grandra e J.J. Canotilho para discutir os efeitos da segurança jurídica sobre o desenvolvimento econômico. Um debate recheado de erudição e vívida reflexão prática. A certa altura do debate, o português J.J. Canotilho, um dos maiores constitucionalistas vivos do mundo, acusou : "as parcerias público-privadas eram vistas até pouco tempo atrás como a 'salvação' da economia portuguesa na sua tarefa de se desenvolver. Hoje, depois da deflagração da crise europeia, estas PPPs são vistas como 'as maiores produtoras de déficit público' de Portugal pela União Europeia. Como isto é possível ?". Segundo o jurista, "a questão fundamental hoje não é como o Estado cumpre a sua função fiscalizadora, mas se o faz de maneira inteligente". Eis uma excelente reflexão nestes tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas neste nosso país...

Radar NA REAL

23/9/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA queda estável
- Pós-Fixados NA queda estável
Câmbio ²
- EURO 1,3448 estável alta
- REAL 1,8498 queda estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 57.210,11 baixa baixa
- S&P 500 1.136,43 baixa baixa
- NASDAQ 2.483,23 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Queridinho do mercado

Roger Agnelli, ex-Vale, acaba de ganhar o prêmio da prestigiada "Revista RI" como "Melhor Desempenho em RI (Relações com Investidores) por um CEO". Das sete edições deste prêmio, Agnelli foi indicado todas as vezes e ganhou quatro prêmios. Um desempenho e tanto. Resta saber se alguma autoridade da Fazenda prestigiará a entrega do prêmio, depois de tirar a coroa de Agnelli na Vale.

Reforma política de fachada

Até os mais ingênuos parceiros já notaram : as mudanças eleitorais que Lula abraçou são principalmente muito boas para o PT. E para ele, Lula. O voto em lista é uma aberração. Mais dinheiro público em campanha, sem democracia partidária e sem controle rígido e punição rigorosa para "caixa dois", outra. Dinheiro de estatais na campanha, crime. O PMDB não fica atrás, distritão é regressão. Não há reforma para valer. Não interessa a ninguém, nem situacionistas nem oposicionistas. Nada de mudar de fato o que está aí, correr o risco de pôr novos atores na cena política e dar mais voz e poder de escolha ao eleitor. Daí opção por novos velhos com Fernando Haddad, Gabriel Chalita, Bruno Covas, etc. O lema é mudar para permanecer como está.

Constrangimentos no judiciário

O silêncio da maioria dos membros da Justiça a respeito das resistências do Executivo e do Legislativo em aprovarem o pedido de reajuste salarial para eles não é de ouro. Pode, quase discretamente, fazer muito barulho.

É apenas tática

Nem o governo nem o Congresso desistiram de ter uma nova fonte para "financiar a saúde", ou seja, ter um novo velho imposto como a CPMF, uma outra jabuticaba tributária ou um ajuste num dos velhos tributos. Eles estão esperando apenas uma ocasião mais propícia para passar o arranjo goela abaixo da sociedade. Veja-se que nunca se fez questão, na área pública, de mostrar tanto as mazelas do setor quanto agora.

O que está errado ?

Da ministra Eliana Calmon, do STJ, a respeito da anulação das provas contra negócios da família Sarney : "Ou a Polícia Federal está inteiramente errada, jogando fora o dinheiro da Nação, fazendo investigações temerárias, ou a Justiça está errada". O que o ministro da Justiça vai fazer ?

A China real e a China imaginária

Em fulgorosa viagem à China, em abril, a presidente Dilma teve a oportunidade de, segundo informações brasileiras, patrocinar o acerto de dois grandes negócios de interesse do Brasil;

- a reativação da fábrica da Embraer no país, com venda de produtos brasileiros para os chineses.

- um investimento de US$ 12 bilhões da chinesa Foxconn no Brasil para fabricação dos tablets da Apple aqui.

Cinco meses depois : a Embraer ainda está a "ver aviões" e os US$ 12 bi ainda não voaram, à espera do generoso BNDES. Negociar com os chineses é ciência que exige mais do gogó e deslumbramento.

Descobriram a pólvora

Os tucanos encomendaram uma pesquisa para descobrir o que até a torcida da Seleção Brasileira já sabia : eles perderam todas suas bandeiras, todas suas marcas para Lula e o PT. Até os louros da estabilidade da moeda e do garrote na inflação hoje são divididos com o ex-presidente. O mais grave é que ela não achou ainda o que botar no lugar, embora temas surjam no ar todos os dias. Os oposicionistas preferem desentender-se uns com os outros.

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