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Política & Economia NA REAL n° 185

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Atualizado em 30 de janeiro de 2012 11:18

Estados Unidos : a política em crise

A eleição nos EUA está revestida de substancial simbolismo, não apenas para o Império, mas para todo o mundo civilizado e democrático. Do lado republicano, os dois candidatos têm situação notoriamente inquietante. Newt Gingrich faz um discurso que beira o reacionarismo. Isso para não falar de sua vida privada, recheada de histórias de adultérios e sinais de mau-caratismo. Mitt Romney, por seu turno, faz apologia do livre mercado, o que parece lhe favorecer de forma espetacular : o candidato milionário com seus investimentos no mercado financeiro americano e em paraísos fiscais paga 1/3 dos impostos que o trabalhador médio paga. Do lado democrata, a sustentação de Obama se dará entre os latinos, negros e os mais ricos que crêem em reformas sociais. Todos estas classes são aquelas que o próprio presidente não assistiu em sua primeira administração em função da ausência de coragem para enfrentar Wall Street. O Império tropeça não apenas na economia, mas especialmente na política.

Sarkozy e a sua salvação

O lançamento do plano de estabilização da economia francesa neste fim de semana foi revestido por uma apatia particular. Os franceses viram no plano um político emparedado pelas eleições de poucas semanas à frente. Além disso, o eleitorado está acomodado num padrão de vida no qual o empregado de uma casa não está dando à mínima para o desempregado da casa ao lado. Políticas verdadeiramente republicanas são difíceis de serem implementadas num contexto em que os políticos têm de convencer os súditos sobre perdas e quase nenhum ganho no curto prazo. A aliança com os alemães põe em evidência a crescente fragilidade francesa perante seus pares europeus. Os eleitores não se encantam com nada que veem à direita e esquerda. Querem mesmo é o que se vê no retrovisor. Isso eles não haverão de ter nos próximos longos anos.

Europa : crise amainada e longa

Na Europa, a despeito dos problemas de rolagem da dívida grega, há indicações concretas de que o risco de crédito do sistema financeiro pode ser paulatinamente afastado. O tratamento fiscalista, recomendado pela chanceler alemã Angela Merkel, há de estabilizar as piores expectativas, mesmo que imponha ao Velho Continente uma recuperação da demanda muito lenta e gradual. Ou seja, a estabilização está a ocorrer num patamar elevadíssimo de desemprego e de desesperança social para as classes mais pobres. Os traços de "estadista" da líder alemã estão associados a este deplorável contexto. Uma situação bem diversa de Margaret Thatcher nos anos 1980, quando a "Dama de Ferro" fez um ajuste modernizante em termos de produtividade num contexto de desemprego conjuntural e não estrutural. As feições de enfermeira da Primeira Guerra Mundial de Angela Merkel combinam com o cenário letárgico e sofrido da Europa.

Brasil, coalizão estável ?

É "chover no molhado" dizer que vivemos uma situação de estabilidade. De fato, nada parece incomodar a sociedade brasileira de forma dramática neste momento. Todavia, o que importa mesmo e é pouco comentado é o fato de que as políticas públicas emanadas do governo estão calcadas numa coalizão de partidos que instalam célere e profundamente seus interesses particulares dentro do Estado. A corrupção e o desempenho frágil dos resultados em termos de modernização e reformas são os sinais exteriores deste cenário desalentador. Se houve maior mobilidade da renda nos últimos anos, aspecto inegável, de outro lado não existem transformações estruturais e permanentes, tais como na educação, saúde, infraestrutura, tecnologia, etc. A excepcional popularidade da presidente Dilma, que coleta índices de aprovação absoluta ao redor de 50% da população, deve ser analisada sob a perspectiva de que os interesses estão acomodados e estabilizados, mesmo que não exista progresso evidente. Os conflitos mediados pela política engendram o progresso econômico e social. No Brasil de hoje há estagnação nas reformas e, sem pressões sociais organizadas, o cenário de negociatas políticas se espalha.

Abrem-se a cortinas do ano político-eleitoral

O ano político-partidário brasileiro começa para valer a partir desta semana com a reabertura, depois de amanhã, dos trabalhos do Congresso. Registre-se que, do ponto de vista legislativo, será um ano mais curto e menos "produtivo" que 2011, por tratar-se de um ano eleitoral. Os anos eleitorais já são naturalmente capengas no Legislativo e, até mesmo, em parte do Executivo, mas este 2012 deverá ser um pouco mais pois está marcado como prévia decisiva para 2014, tanto pelo governismo quanto pelo oposicionismo. Cada passo terá os dois olhos nas urnas antes de qualquer coisa.

Dilma e os aliados

Para a presidente o ano começa com os aliados insatisfeitos, como sempre com as ameaças de cortes de verbas e com a distribuição de cargos. A mini reforma ministerial em curso e as trocas anunciadas e especuladas no segundo escalão desagradaram gregos, troianos e baianos de um modo geral. E podem desagradar mais ainda os parceiros presidenciais. Especialmente a dupla do barulho PT/PMDB, dois adversários nada cordiais. Mas Dilma, montada em alta avaliação popular, nem tem nada a temer nesses primeiros momentos. O PT arrulha, chora pelos cantos, mas não morde. Aprendeu a ser obediente, até porque sabe que aconteça o que acontecer, ele ainda será o primeiro. Se não por nada, porque tem Lula. Já o PMDB estrebucha, faz ameaças, insinua chantagens, mas é um balofo sem muitas prendas. Não tem para onde correr a não ser para o poder Federal. Dilma, não tem nenhum projeto inadiável no Congresso este ano para ser submetida ao "toma lá dá cá" que marcam essas votações. Para a administração do dia a dia, o Congresso é desnecessário para o Planalto.

Com quem ele está ?

De um peemedebista independente, nem governista nem oposicionista, pouco chegado também ao fisiologismo de sua legenda : "A quem realmente serve Temer : ao governo do qual é vice ou ao partido do qual é presidente licenciado ? Não dá para tentar ter dois patrões o tempo inteiro, uma hora o telhado desmonta".

Férias prolongadas

A política volta à ativa. Mas a oposição tudo indica vai prolongar suas férias. De preferência no Exterior. No Brasil, só para brigar entre si.

Dilma, gerência e eficiência

Como saída do nada, começou a pipocar nos meios de comunicação, a partir da primeira reunião ministerial de Dilma, informações sobre as cobranças que a presidente está fazendo a seus auxiliares, as exigências de mais eficiência, reforçando a imagem de "gerentona intransigente" com que sempre foi apresentada aos brasileiros, intolerante com erros, desvios e malfeitos. De fato, há que pôr os auxiliares na linha, uma vez que na prática a imagem de que Dilma é de mandar e não aceitar falhas está ficando comprometida pelo mundo real. Algumas dessas falhas registradas nas últimas semanas :

1. Mais uma vez, no ano passado os investimentos em saneamento básico previstos não foram integralmente cumpridos.

2. O projeto mais vistoso do ex-presidente Lula, a transposição do Rio São Francisco, está tão atrasado a ponto de talvez não ser concluído nem até o fim deste mandado de Dilma, sem contar que vários trechos dados como concluídos precisam ser refeitos.

3. Para cumprir a promessa de inundar o país de creches até 2014 o governo precisará a partir de agora inaugurar cinco creches por dia nas cidades brasileiras.

4. Uma das "meninas dos olhos de Lula e Dilma", a parte de construção de moradias populares no programa Minha Casa, Minha Vida, sete em cada dez contratos não saem do papel como constatou reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo".

Aposte se quiser

Os dados ainda não estão contabilizados, mas o governo Federal investiu no ano passado cerca de R$ 43 bi. Este ano está prevendo gastar em investimentos quase o dobro - R$ 80 bi. E ainda fazer um superávit fiscal robusto, sem subterfúgios e sem prejudicar a política social.

Copa e Olimpíada : sinais exteriores de deterioração

É preciso que prédios tombem no centro da Cidade Maravilhosa para que apareçam, com certa discrição, análises que questionem os caminhos que estão sendo tomados relativamente à Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Falta liderança competente e honesta para tocar tantas obras e a supervisão política de onde estão indo os recursos públicos é, para dizer o mínimo, frouxa. Os problemas de infraestrutura são gigantescos nas principais sedes da Copa do Mundo e as soluções não parecem atacar problemas básicos de mobilidade urbana, rede hoteleira, disponibilidade de mão de obra educada, assistência médica e assim vai. Basta verificarmos como está a situação de aeroportos e o deslocamento destes para os centros das principais cidades. No Estado, em qualquer nível, são poucas as informações disponíveis e os interesses comerciais ao redor dos eventos contribuem para que não exista debate sobre o tema.

Rio+20 ilustra os problemas

A Conferência da ONU sobre sustentabilidade que ocorrerá no Rio de Janeiro em meados do ano trará um impacto significativo para a cidade, mas bastante inferior à Olimpíada e à Copa do Mundo. Pois bem : as autoridades estão com enormes problemas apenas para acomodar os participantes deste evento, inclusos aí os mais de 150 chefes de Estados que virão. Será que podemos ter tanta convicção que em poucos anos tudo irá mudar ?

Câmbio, turismo, Copa e Olimpíada

Bem fez o presidente da Embratur, Flávio Dino, em levantar a questão do câmbio em entrevista à Folha de S.Paulo publicada ontem. O turismo é setor estratégico para o Brasil, mas falta organicidade às políticas públicas voltadas para o setor. Ademais, o fluxo turístico no Brasil está na direção do exterior : no ano passado os gastos de estrangeiros no país foram da ordem de US$ 7 bi e os brasileiros gastaram cerca de US$ 22 bi lá fora. O déficit de turismo de US$ 15 bi equivale às exportações do setor de soja. Dados do BC e do ministério do Desenvolvimento. Eis um evidente sinal de que temos um problema cambial a resolver. Se a situação permanecer como está é bem provável que os gigantescos investimentos em eventos esportivos não sejam remunerados. Alguém vai pagar a conta, não é mesmo ?

O plano de voo da economia

Os leitores desta coluna não devem ter ficado surpreendidos com as revelações da última ata do Copom do BC que confirmam tudo que se negou oficialmente durante o ano passado inteiro : a meta principal do governo, com o amplo beneplácito do BC, é o crescimento do PIB (para Dilma, repita-se, ao ritmo de 5% no fim do ano) mesmo que ao custo de mais inflação. Dilma tem o ano para firmar sua própria popularidade, ainda dependente dos fluidos da boa economia do passado e tem pela frente o ano eleitoral que vai determinar os passos decisivos das sucessões estaduais e Federal de 2014. Esses planos não combinam com qualquer fato econômico negativo, especialmente na seara do emprego. O futuro ? Ora, o futuro é outra coisa. Como ensina o conselheiro Acácio, hilariante personagem de Eça de Queiroz, o problema é que as consequências vêm sempre depois. E nos cálculos políticos, o depois nunca é medido. Depois, arranja-se.

O BC de Dilma

Apesar de certos analistas estarem boquiabertos com o fato de que Alexandre Tombini está alinhado com a política econômica da presidente Dilma, na realidade não há surpresas. Tombini faz o que promete o governo. A independência da política monetária nunca foi verdadeira no Brasil. No passado recente, na era FHC, o BC serviu juros elevados para bancar a política de câmbio fixo do governo e ajustar o balanço de pagamentos nas temporadas de crise. Agora, serve às ambições "desenvolvimentistas" do governo. O problema disso tudo é que se nas safras boas o BC contribui para o sucesso, nos momentos ruins o BC não é anteparo para que se chegue ao pior cenário. O tema sobre a independência da autoridade monetária está em pauta no mundo inteiro. Veja-se o caso do BC dos EUA e da Europa, ambos sob fogo cerrado de investidores e "formadores de opinião". O problema adicional que o Brasil tem é que a supervisão política sob o BC é absolutamente irrelevante. Quando o chefão do BC é forte, per se isto parece ao "mercado" uma "garantia". Quando é fraco como Tombini, o tal do "mercado" fica com a pulga atrás da orelha.

Juros de um dígito

É legítimo o debate, dentro e fora do governo, sobre a necessidade de juros básicos mais baixos. O erário não deve pagar juros altos e injustificados para os investidores em títulos públicos. Todavia, há limites para que isto ocorra. O principal é a inflação. No caso do Brasil, a inflação está ainda elevada e se a demanda mais forte vier é provável que ela não caia muito abaixo do nível de 6%. Este patamar impõe uma deterioração no poder de compra da moeda inaceitável no médio prazo. Portanto, o momento de transição atual, possivelmente de uma demanda cadente para algo mais elevado, é muito sensível para a política monetária. Se o governo forçar a mão, a inflação pode não cair e, até mesmo, subir. Outro ponto sensível : a taxa de câmbio da moeda brasileira é incompatível com exportações mais elevadas e com a atração de investimentos externos. Se a taxa de câmbio for desvalorizada a inflação vai sofrer dupla pressão de demanda e custos. Neste momento saberemos os custos da intervenção do governo sobre a autoridade do BC.

O lado "bom da inflação"

Cálculos publicados segunda-feira pelo "Valor Econômico", da lavra da própria Receita Federal, indicam que o fato da inflação no ano passado ter sido de 6,5% cravados, um pouco mais de 0,5% acima da de 2010, propiciou um aumento de R$ 50 bi na arrecadação de impostos da União em 2011. O que também pode explicar uma parte da "boa vontade" de certas autoridades com alguns pontinhos mais de inflação.

Para consumo dos mais crédulos

Jacta-se o ministério da Fazenda de ter alcançado com folga de R$ 1,7 bi a sua parcela do superávit primário em 2011, isto sobre a meta corrigida, que havia sido aumentada em mais R$ 10 bi em meados do segundo semestre do ano passado. A economia para pagar juros, de parte da União, teria sido de cerca de R$ 12 bi, uma garantia de que o compromisso de guardar R$ 139,8 bi em 2012 irá ser cumprido. Sucesso total da política de austeridade fiscal do ministro Guido Mantega, avalia-se oficialmente. Mas será mesmo ? Vamos aos fatos : além de parte da sobra ter sido garantida por um aumento de arrecadação de mais de 10% em 2011 na comparação com 2010 e com uma diminuição nos investimentos de também cerca de 10%, foram deixados R$ 24 bi de obras concluídas no ano passado e serviços já prestados para serem quitados este ano - os famosos restos a pagar. Ou seja, se o governo pagasse seus compromissos em dia, a promessa de superávit teria sido descumprida inteiramente.

Radar NA REAL

27/1/12 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA baixa baixa
- Pós-Fixados NA baixa baixa
Câmbio ²
- EURO 1,3114 baixa baixa
- REAL 1,7419 estável/baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 62.904,20 estável/alta estável
- S&P 500 1.316,33 alta alta
- NASDAQ 2.816,55 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Vai pra casa, Padilha !

Em Brasília, o ministro da Saúde é apresentado como um dos mais bem avaliados pelo dito exigentíssimo termômetro da "gerentona" Dilma. E não há mesmo semana em que Alexandre Padilha na apareça nos meios de comunicação anunciando algum programa e um providência de sua pasta ou de avental branco como um médico em plena ação visitando hospitais, unidades de saúde, postos de vacinação, a Cracolândia em São Paulo, locais onde, naturalmente por mera coincidência, encontrará a postos máquinas fotográficas, câmeras de televisão e microfones à espreita. No entanto, tal azáfama ainda não chegou ao grande público usuário dos serviços que Padilha comanda. O dever de casa do ministro parece não ter surtido efeito real. Recente pesquisa do DataFolha mostra que, apesar de ter encerrado o primeiro ano de governo com aprovação recorde de 59%, Dilma obteve um resultado negativo na pesquisa : aumentou em 11% o número de brasileiros que consideram a saúde como o principal problema do país. A comparação é entre o último ano da gestão Lula para o primeiro da governança Dilma.

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