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Política & Economia NA REAL n° 237

terça-feira, 19 de março de 2013

Atualizado em 18 de março de 2013 10:34

A lembrança do México

No início dos anos 90, quando se iniciou o ciclo de enorme valorização das ações ao redor do globo, o país mais "charmoso" para a comunidade financeira internacional era o México. País pobre, comandado por uma "elite bem formada", era lembrado por ser país vizinho da maior economia mundial e por estar construindo um acordo de livre comércio poderoso, o que veio a ser chamado de ALCA - Acordo de Livre Comércio das Américas (1994). O país da revolução de 1910, liderada por Emiliano Zapata, tornava-se aos olhos do "mercado" o país com o futuro mais promissor dentre os pobres que se tornavam emergentes. Além disso, contava-se com as imensas reservas petrolíferas que possibilitaram que o país se tornasse o sexto maior produtor mundial. Depois veio uma crise de dívida que foi superada com o apoio norte-americano (1995). De lá para cá, a despeito dos imensos ajustes macroeconômicos, o país apresentou um crescimento de pouco menos de 4% , mesmo que com riscos baixos - tem uma relação dívida/PIB ao redor de 30% e inflação controlada, por exemplo.

A lembrança do México - II

Todavia, atualmente o México está longe de ser o destaque dentre os emergentes. Ao contrário, as profecias tropeçaram no crescimento da China, país autoritário politicamente, o qual desprezou (e ainda despreza) muitas das "regras" prezadas pelo mercado (controla o câmbio e os juros, bem como regula um pouco o transparente mercado financeiro, para citar apenas dois aspectos). Além disso, faz a maior inclusão social de todos os tempos no globo, enquanto o México persiste em uma das rendas mais desiguais do planeta e um subdesenvolvimento social gritante. O México é rico em matérias-primas, mas frágil em adicionar tecnologia à sua produção doméstica e às exportações. Com efeito, as previsões dos analistas de então sinalizaram um futuro mexicano inconsistente com os seus reais fundamentos, sobretudo em relação à classe política daquele país. De outro lado, quando "descobriram" a China, o país já conquistava o mundo com sua agressividade. O México foi apenas um ícone, distante do mundo real. A China é uma realidade concreta, um risco considerável e um líder do mundo emergente. A bola de cristal estava errada.

E o Brasil ?

Seria o Brasil a profecia de hoje, equivalente a do México dos anos 1990 ? Muito se fala no mercado, a sua já famosa "bola de cristal", sobre as perspectivas brasileiras nos próximos anos. O que se vê, contudo, é um país limitado nas reformas estruturais, mergulhado na baixa política, com um discurso social e econômico anacrônico, mesmo que com os tais "fundamentos" de curto prazo sem maiores riscos. Vê-se um país com educação sofrível, sem competitividade industrial, com impostos elevadíssimos, juros estratosféricos e uma democracia corrompida por um sistema partidário parasitário ao poder central e com base social irrefletida nas instâncias superiores. Não se deseja um sistema chinês por estes cantos, é certo. Mas, qual seria o "estado da arte" de nossa própria criação política, social e econômica ? Se for o estado atual, estamos caminhando para a permanência de uma desigualdade imensa perante o mundo, na linha do que é o México : um país bem comportado e que não supera a sua própria impossibilidade histórica, criada dentro do país, de ser muito diferente do que é.

Sai governabilidade entra "eleitorabilidade"

Não é segredo para ninguém, pois tem sido apregoado com orgulho por todos os envolvidos em palanques de 2014, visíveis e invisíveis, que a reforma ministerial, ora em curso, visa única e exclusivamente acomodar aliados descontentes - e ameaçadores - no curral governista. A lógica é : cargos e influência em troca de votos populares que poucos têm e de tempo na televisão - que todos têm, nem que sejam alguns preciosos segundos para que os "marqueteiros" possam brincar de fazer propaganda política do mesmo modo que vendem sabonetes e iogurtes em tempos não eleitorais. O Brasil político já cultiva um vocábulo esdrúxulo - "governabilidade", em nome do qual, ou seja, de garantir ao governo uma certa paz no Congresso Nacional, praticam-se coisas que até Deus duvida.

Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" - II

Agora, entrou em campo outra novidade no léxico político nacional - a "eleitorabilidade", em nome da qual, como se pôde ver pelas primeiras amostras da reforma ministerial que Dilma iniciou sexta-feira, praticam-se coisas que até o diabo dúvida. É em nome dessa eleitorabilidade que Dilma trouxe de volta ao centro do poder a turma do Carlos Lupi, do PDT, na figura do inexpressivo deputado Manoel Martins, sobre cujas credenciais para o Ministério do Trabalho ainda são desconhecidas. Foi por isso também que a presidente afagou o sempre insaciável PMDB, entregando a Moreira Franco, cuja intimidade com a aviação civil não passa de um passageiro comum ; e ao mineiro Antonio Andrade no Ministério da Agricultura, no caso um fazendeiro, mas que ganhou o posto não por seus méritos, mas para evitar que as ovelhas peemedebistas mineiras, famintas, se desgarrassem para a possível candidatura de Aécio Neves. Da mesma forma, o PR, escorraçado do Ministério dos Transportes, quando Dilma ainda vestia o uniforme de faxineira, por suspeita de estripulias no DNIT, na Valec e adjacências, será gloriosamente reabilitado quando a presidente voltar de Roma, onde hoje assiste a entronização de Francisco no trono de Roma.

Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" - III

O risco é a busca excessiva de eleitorabilidade prejudicar, definitivamente, a verdadeira governabilidade que se exige de um governo : ação e competência. Para que se faça a "superação histórica" que o país necessita. Governabilidade, no Congresso, é uma espécie de gazua para os partidos se apossarem de nacos da administração pública. Dura realidade.

Não dava para esperar

A turma estava com tanta pressa que se abriu um espaço na agenda da presidente no sábado, dia no qual raramente ela dá expediente quando está no Brasil, para a posse dos três novos ministros. Deve ter sido para todos poderem assinar como ministros sua presença na missa de domingo.

Tudo tem limites

Dilma, respondendo a críticas da oposição e antevendo outras mais, dado o caráter visivelmente fisiológico das mudanças que fez e ainda vai fazer na sua equipe, fez enfática defesa da "coalizão" governista. De fato, alianças para governar em países de sistema multipartidário são naturais. Mas há coalizões e coalizões, alianças e alianças, critérios e critérios. Os aqui adotados, na atualidade, não são dos mais santos.

Sério ?

Da presidente Dilma Rousseff na posse, sábado, dos novos três integrantes da sua troupe ministerial : "Nós já iniciamos o processo, estou na metade do governo, e precisamos conduzir a bom termo esse processo, que se pauta em transformar os ministérios do nosso país em ministérios profissionais e meritocráticos". Pelo menos os três empossados e seus familiares parece que acreditaram.

Não é apenas o número

O empresário Jorge Gerdau, amigo de Dilma e conselheiro (não remunerado) com cargo formal no governo, abriu fogo contra o tamanho do Ministério da presidente. Para ele, ter 39 ministros é "uma burrice". Não deixa de ser, não dá nem para a presidente despachar numa periodicidade razoável com todos eles. Há ministros que praticamente só se encontraram com a presidente em solenidades públicas - passam meses sem falar com ela pessoalmente. Não têm muito o que fazer e dizer e a presidente nada deve ter para dizer a eles. O que mostra a falta de importância de boa parte dos ministérios e das secretarias com status ministerial. Só serve para alguma coisa : acomodar aliados. Porém, o problema maior não é o número - é a qualidade. Aquilo que a presidente, num arroubo, chamou de "meritocracia" sábado. Há uma jornalista brasiliense que define bem o deserto de homens e ideias da equipe de Dilma : "O ministério de Dilma é de segundo escalão".

Aprendiz de feiticeira

Em matéria de política dos políticos, Dilma parece não ter mais nada a aprender com Lula. Ela já havia passado recentemente no teste dos palanques, ao citar diabos e cervejinhas em seus discursos, no melhor estilo do mestre. Agora, supera-se na arte da escalar ministros errados para lugares errados. Em tempo : antigamente, quando alguma criança fazia uma estripulia, dizia-se que ele tinha feito arte, era um arteiro. Não é o caso da presidente.

Em estado alfa

Justiça se faça : o vice-presidente e poeta Michel Temer saiu-se muito bem no início da reforma ministerial. Conseguiu uma promoção para Moreira Franco, o gato angorá da burguesia carioca como dizia Leonel Brizola, da inútil secretaria de Assuntos Estratégicos para a abonada Secretaria da Aviação Civil (orçamento de R$ 2,7 bi) e com a responsabilidade de tocar as privatizações (ou concessões, como aconselham os preconceitos petistas) dos aeroportos de BH e do RJ. Emplacou também o mineiro Antonio Andrade no Ministério da Agricultura, área que era de sua influência direta e foi perdida quando o paulista Wagner Rossi, por suspeitas de irregularidades, foi substituído por Mendes Ribeiro, um peemedebista gaúcho de confiança de Dilma e fora da órbita do vice.

Em estado alfa - II

A vitória de Temer só não foi completa por duas razões : (1) Não conseguiu ainda um ministério "de furar poço", expressão cunhada pelo inefável Severino Cavalcanti para definir a poderosa diretoria de Exploração da Petrobras, mas que serve bem ao desejo do PMDB de ter um ministério mais "eleitoral", tipo Transportes, Cidades, Integração Nacional, saúde. (2) Não se arranjou um ministério para o pupilo predileto dele em SP, o deputado Gabriel Chalita, candidato derrotado à prefeitura de SP com inestimáveis serviços prestados ao candidato (o agora prefeito) petista Fernando Haddad. Chalita esteve com os pés no Ministério da Ciência e Tecnologia, porém foi esquecido depois das denúncias de um ex-assessor seu sobre supostas irregularidades quando ele foi secretário estadual de Educação. Uma queda muito comemorada pela comunidade científica brasileira.

Desenvolto como o diabo

Em conversa com um grupo de 60 empresários em SP, com grande desenvoltura, como o registrado pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o mais que candidato à presidência da República, Eduardo Campos, deu o mote de sua campanha. "Nós podemos fazer melhor". Nessas tertúlias com os empresários, cada vez mais constantes na agenda do governador de PE, ele tem elevado o tom de suas críticas à condução da política econômica de Dilma, mesmo com os elogios que faz a ela. Elogios que estende também aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Com Campos à vontade, os tucanos também estão subindo aos poucos os decibéis de seus ataques ao governo.

Um tango argentino

Pelo que vem sendo revelado depois de sua escolha, o agora papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, tem todas as qualidades para ter sido ungido Bispo de Roma. Além delas, segundo muitos vaticanistas (um tanto na berlinda, é verdade, depois que erraram feio em suas especulações) pesou também a capacidade de conciliação de Francisco, num momento em que a cúpula da Igreja Romana estava perigosamente dividida. Observando a saída do conclave, uma analista política nacional pergunta : quem será o "argentino" dos tucanos ? Na medida em que Dilma empurra seu trio elétrico eleitoral por onde pisa e Eduardo Campos já não disfarça seus desejos, os tucanos ainda estão se bicando - e muito. A continuar desse jeito, restará ao tucanato, como naquele conselho de um médico ao poeta Manuel Bandeira quando constatou que a lesão que ele possuía era muito grave e Bandeira queria saber o que poderia fazer : "Tocar um tango argentino".

Esperteza

A manchete do "Diário do Comércio" de SP diz tudo do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, depois que ele admitiu, candidamente, que seu partido não quer ministérios, porém seus filiados podem aceitar algum convite de Dilma : "Kassab sai do governo, mas fica no governo".

Só para iniciados

O BC tem sido confuso e contraditório em suas comunicações, o que está deixando um tanto quanto desarvorados não apenas a turma do mercado financeiro como também empresários de vários quilates. Junte-se a isto as trombadas com os fatos das autoridades econômicas e está formado o ambiente para as desconfianças sobre os rumos que o governo quer dar mesmo à política econômica. No limite, isto está levando a uma pisada no freio dos investimentos. No fim do mês sai o Boletim Trimestral de Inflação, aguardadíssimo para ver se a comunicação do BC fica mais clara. Semana passada a jornalista Thais Herédia, ex-assessora de imprensa do BC, publicou em seu blog no portal G1 um divertido e útil manual de ajuda aos interessados em decifrar a autoridade monetária : "Como entender o BC em poucas lições". Vale a pena ler - clique aqui.

Agora Chipre sacode o mundo

Descobriu-se, depois de algum sacrifício físico e mental, que Chipre, 167º em tamanho no mundo e PIB de US$ 25 bi (Campinas tem quase US$ 30 bi) está no euro. Depois se descobriu o que todos sabiam : o belo país mediterrâneo está quebrado. Não bastasse esta percepção aguda do mercado, notou-se que o país não tem saída para solucionar a crise : ou dá um calote nos credores e ajusta o nível de endividamento às possibilidades do país, ou, alternativamente (e simultaneamente), dá um calote interno para se sustentar numa perigosa corda bamba. Os cipriotas optaram, com a anuência dos alemães, a pegar 10% das contas bancárias dos distintos cidadãos para pagar os empréstimos prometidos da União Europeia. Foi o que bastou para os investidores dizerem que "foi criado um perigoso precedente" para a Europa. Como se os investidores nada soubessem sobre calotes e colapsos financeiros. A surpresa talvez seja o fato de os alemães, sempre alertas, estarem por trás de tudo isso. Merkel, como se sabe, é bem heterodoxa, quando lhe interessa. A nossa recomendação é simples : desprezem o assunto e continuem investindo em ações norte-americanas, o atual porto seguro do mercado.

Radar NA REAL

15/3/13 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável estável/alta
- Pós-Fixados NA estável estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,2966 estável baixa
- REAL 1,9874 estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 56.804,76 estável queda estável
- S&P 500 1.560,16 estável/alta estável/alta
- NASDAQ 3.248,23 estável/alta estável/alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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