COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Política, Direito & Economia NA REAL >
  4. Política e Economia NA REAL n° 270

Política e Economia NA REAL n° 270

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Atualizado em 11 de novembro de 2013 11:24

EUA : Alto desempenho e alguns riscos - 1

Para quem duvida da recuperação da maior economia do mundo a divulgação do PIB do terceiro trimestre do ano (= 2,8% em termos anualizados) foi um banho de água fria. Para os que creem na recuperação o dado não foi apenas um alívio em relação ao passado recente, mas uma sólida esperança no médio prazo. A economia dos EUA está a crescer de forma consistente, com aumentos sucessivos na taxa de consumo e crescentes indicadores de investimento. O mundo agradece, pois a elevação da demanda norte-americana tira, por ora, os maiores temores em relação à redução da atividade econômica chinesa. Não à toa o mercado de ações dos EUA apresentou elevação de 28%, medido pelo índice S&P 500. Trata-se do terceiro melhor desempenho durante um segundo mandato presidencial desde os anos 1930. O conservador Obama faz companhia a seus antecessores Clinton e Reagan. Este espetacular desempenho não indica a existência de uma "bolha especulativa", mas um saudável desempenho conforme indicamos. Ou seja, a política de estímulos monetários e fiscais preconizada desde o governo Bush faz sentido e coloca os republicanos do "Tea Party" sob tiroteio da opinião pública.

EUA : Alto desempenho e alguns riscos - 2

Para o Brasil a recuperação norte-americana é, de um lado, uma boa notícia. Isso porque a economia mundial precisa de alentos de demanda o que ajuda as nossas commodities. De outro lado, aumentos de demanda implica em preocupações com (i) a sustentação da política de estímulos fiscais dos EUA e (ii) a elevação da taxa de juros básica. Logo, a equação econômica que combina alta da demanda com elevação dos juros e menos déficit público irá irremediavelmente aumentar o valor do dólar norte-americano. Serão as moedas dos chamados "emergentes" as maiores prejudicadas com a alta do dólar. O real é uma delas e tem a sua situação agravada pela política fiscal frouxa adotada pelo governo, bem como pela ausência de crescimento econômico, sobretudo devido ao baixo nível de investimento. Cabe-nos prestar a atenção para a nova dinâmica da economia brasileira pela qual uma maior pressão cambial gera mais inflação e debilita mais a confiança e eleva os juros. Uma delicada administração econômica que cabe ao ministro Mantega e sua equipe acostumada a ventos mais favoráveis.

PIB do terceiro trimestre e gastos de Natal

Já não se acredita que da cartola do ministro Guido Mantega saia alguma visão estratégica consumada em política pública que alavanque o crescimento do PIB. Falta a equipe governamental, do Planalto até o Ministério da Pesca, a adoção de políticas públicas que tenham objetivos consistentes no longo prazo. Estamos na era do arranjo eleitoral, da imagem retocada do PAC tal qual a maquiagem da presidente Dilma nos eventos públicos dos quais participa cada vez mais. Pois bem : a divulgação do PIB do terceiro trimestre deste ano mostrará um crescimento próximo de zero e consolidará a ideia de que o país não passa de 2,5% de crescimento este ano. Triste foi a sina da previsão de crescimento de 4% de Mantega para este ano. Os indicadores antecedentes do BC já mostram a permanência de uma economia atolada neste e no próximo ano. Ademais, 61% dos brasileiros, segundo a ANEFAC, devem reduzir dívidas ao invés de gastar o 13º salário em presentes. Um comportamento prudente e necessário enquanto o emprego é elevado.

A utilidade (duvidosa) do discurso contra a imprensa - 1

Depois de algum tempo em recesso, o influentíssimo (ainda?) secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, reapareceu com toda a força à luz do dia para, numa ação orquestrada com os ministros Guido Mantega e Gleisi Hoffmann, explicar para a plebe ignara que o déficit primário de setembro não foi bem déficit primário e que as contas fiscais vão bem obrigado. Num mesmo dia da semana passada, os três apareceram em três dos principais diários brasileiros exorcizando esse "terrorismo". Augustin, com grande imaginação, bem ao estilo dos cultores das teorias conspiratórias da história, encontrou um "ataque especulativo" ao déficit público. A teoria fez tanto sucesso que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, dias depois, também vislumbrou o mesmo tiroteio assestado para sua entidade.

A utilidade (duvidosa) do discurso contra a imprensa - 2

Lula, nos últimos tempos uma espécie de "ombudsman-mor" da imprensa brasileira, está fazendo escola. Na especulação "augustinina", a conspiração envolveria os meios de divulgação por divulgarem os dados das contas oficiais com destaque, jornalistas que esmiúçam os números e analistas (economistas de preferência) que chamam a atenção para o problema. Nesta lista (que a presidente Dilma Rousseff classificaria provavelmente de pessimistas), nas últimas semanas poderia até ser incluído o ex-ministro Delfim Neto, conselheiro informal do Palácio do Planalto, que em artigos e em entrevistas tem feito alertas bem explícitos a Brasília. O objetivo dessas ofensivas é claro - tentar desviar a atenção do foco da questão e das cobranças. Na mesma linha pode-se enquadrar a declaração do ministro Mantega de que a inflação de outubro, de 0,57% foi um "bom resultado".

A utilidade (duvidosa) do discurso contra a imprensa - 3

Este "ataque especulativo" ao "ataque especulativo" é perda de tempo. As pessoas que sabem a importância de um política fiscal equilibrada para o bom andamento da economia não precisam necessariamente das informações da mídia para saber se as contas públicas vão bem ou mal das pernas. Quem é atacado pela inflação não precisa ler nos jornais matérias sobre os preços para saber quanto isto lhe dói no bolso. O mesmo vale para notícias sobre possíveis ameaças ao emprego ou outros "terrorismos" que os jornalistas registram. As pessoas sabem e sentem. Basta ver o que registra a última pesquisa do Instituto MDA para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) no quesito em que se levantava o grau de preocupação dos entrevistados com relação a alguns problemas do seu dia a dia. Vejamos.

Questão : você está muito preocupado ou nada preocupado...

1. Com a Inflação : muito preocupado 53,7% x nada preocupado 15,5%.

2. Com o crescimento econômico: muito preocupado 44,1% x nada preocupado 16,9%.

3. Perda de emprego : muito preocupado 59,6% x nada preocupado 18%.

4. Com as dívidas : muito preocupado 63,4% x nada preocupado 16,5%.

5. Com o custo de vida : muito preocupado 73,4% x nada preocupado.

6. Com a violência : muito preocupado 91,5% x nada preocupado 1,4%.

7. Com a corrupção : muito preocupado 83% x nada preocupado 4,5%.

8. Com o transporte urbano : muito preocupado 54% x nada preocupado 14,4%.

9. Em cidades de mais de 100 mil habitantes. Você enfrenta congestionamentos em sua cidade ? Sim 76,1% x Não 23,9%.

(Resumo feito pelo vereador e economista carioca César Maia)

Prendam o fiscal !

A presidente Dilma Rousseff atacou o TCU por ter sugerido ao Congresso Nacional a paralisação, por diversas irregularidades, de sete obras Federais, entre elas um trecho da transposição do Rio São Francisco e outro da ferrovia Norte Sul. Segundo a presidente, isto não deveria ocorrer porque traz mais atrasos e prejuízos. Não seria melhor corrigir os defeitos apontados pelo Tribunal e daqui para frente fazer projetos mais detalhados ? Para os ministros do TCU os problemas surgem quase sempre por falta de projetos executivos bem feitos - trabalha-se em cima de esboços. Daí, faz-se aditivos e correções financeiras ao longo da execução do projeto. Mas o ataque ao TCU pode ser útil na campanha eleitoral : quando a oposição, como já vem ensaiando, falar em atraso de obras, o culpado já está à mão.

Respeito às instituições

Sobre as queixas de Dilma, trecho de um artigo escrito pelo jurista Carlos Ari Sundfeld para o jornal O Estado de S. Paulo : "(...) Existem normas jurídicas e instituições bem organizadas para proteger o interesse público. A presidente da República, ao invés de colocá-la em dúvida quando estão funcionando normalmente, devia respeitá-las e valorizá-las".

Eleição no PT, fraqueza na oposição

Ninguém pode acusar o PT de não ter uma razoável dinâmica interna no partido que combina a consulta aos seus membros e o debate de diferentes correntes regionais (especialmente no RS) e ideológicas. Sendo o partido do governo, a corrente majoritária liderada por Lula da Silva pode ajustar posições no Executivo que geram fidelidade aos desígnios de seu maior e único grande líder. Obviamente há acusações de uso da máquina de governo para fins pouco republicanos, mas quase todo partido que aquinhoa o poder faz a mesmíssima coisa. A oposição de outro lado, sobretudo o PSDB, continua com as suas disputas que combinam egos complicados e ausência de projetos e discursos. Ou alguém pode identificar com clareza o que separa, na essência, Aécio Neves de José Serra ? Claramente, a oposição perde pontos junto ao eleitorado, sobretudo à classe média constrangida em termos de renda, impostos, acessos ao investimento público, etc. Lula, com seu faro afiado e competente sabe disso. A oposição percebe esta realidade, nada faz para mudá-la.

Lula e Padilha

Fernando Haddad, o alcaide paulistano, encontrou um discurso a partir da divulgação dos descalabros da corrupção entre os fiscais do Erário municipal. O prefeito pode até perder o apoio do partido do ex-prefeito Gilberto Kassab, para quem sopram ventos acusatórios (e ainda sem confirmação efetiva), mas ganhou pontos junto à população da capital paulista. Sua gestão é um lodo de falta de mudanças imediatas e uma torrente de aumento de impostos, mas os efeitos destes virão mais intensamente quando a população receber os boletos dos impostos no ano que vem. Haddad é uma aposta de Lula que agora, refrescado pela ausência de uma oposição bem posicionada, vai lançar o Ministro da Saúde Alexandre Padilha ao Bandeirantes. Geraldo Alckmin parece ter se preparado nos corredores dos acordos partidários, mas ainda não se sabe se combinou com o distinto eleitor que o vê como um governador desgastado pelo tempo e pela ausência de inovação. Será uma eleição disputada, mas a última fronteira da oposição do país pode ser quebrada com consequências ainda inéditas na era Lula.

A maldição da campanha das eleições

Não se sabe se o ex-presidente Lula - pelo menos não publicamente - está arrependido de ter antecipado o debate da sucessão presidencial. É bom lembrar, embora alguns tentem reescrever os fatos, que foi Lula que deflagrou o processo, no início do ano, quando em SP, depois de uma de suas conversas com a presidente Dilma Rousseff disse que ela era a sua candidata. A manifestação de Lula veio depois de um discurso de Dilma na televisão, seu primeiro discurso eleitoral nesta fase na qual, a partir de então, toda aparição pública da presidente tem cheiro de urnas. O discurso de Dilma, então, foi visto como uma reação dela aos primeiros movimentos do "volta Lula" que vai e vem ocupam os políticos e empresários saudosistas. Agora está de novo se aquecendo. Se Lula não se arrependeu, deveria estar arrependido. Desde então, na política, seja no governo seja na oposição, nenhum passo é dado sem que a miragem das urnas esteja no horizonte. Um indício de dias piores ainda virão, especialmente em 2015 de anos seguintes. Nada como esta discussão fora do tempo para ilustrar o divórcio entre o Brasil da política e o Brasil que trabalha.

A ilusão da "nova" classe média

Dados do irrepreensível IBGE, no estudo "Aglomerados Subnormais - Informações Territoriais" - indicam que há ainda no Brasil 11.425.644 brasileiros (cerca de 4 milhões de famílias) vivendo em construções precárias e que não obedecem às regras de planejamento urbano. Ficarão ainda, por muito tempo, fora do alcance das políticas habitacionais oficiais. Em tempo : como diz o jornalista José Simão, o IBGE "tucanou" a favelas. "Aglomerados subnormais" nada mais são, sem fantasias linguísticas, que favelas, mocambos e assemelhados. Apesar desta realidade ainda se fala numa "nova" classe média. O Brasil continua com desigualdades humilhantes. A política faz política.

Falta de curiosidade generalizada

Descobre-se agora que empresas de Eike Batista receberam injeções de recursos do FI-FGTS. Sabe-se que o BNDES e CEF também tem ativos nas combalidas empresas de Batista. Dinheiro público e recursos advindos dos trabalhadores foram dispensados ao capitalismo de Eike. Incrível que não se vê nenhuma iniciativa organizada para se investigar se as instituições governamentais tiveram o correm o risco de ter prejuízos com os planos do ex-milionário mundial. Há alguma coisa que impede os políticos de verem, os fiscais de fiscalizarem e os envolvidos de se manifestarem a respeito. Ou tudo deve estar dentro da normalidade...

O Congresso e suas ameaças

Algumas pessoas no Brasil dizem que uma dádiva dos céus é o hábito dos deputados e senadores dedicarem com excesso de parcimônia ao trabalho diário. Quanto menos eles trabalham, menos o Brasil corre riscos de retrocessos políticos e econômicos. O recesso parlamentar seria uma dádiva, portanto. Agora mesmo há pelo menos três ameaças no ar :

1. O Orçamento impositivo apenas para as emendas parlamentares e sem nenhuma mudança nos procedimentos de preparação de votação do Orçamento Geral da União. É mais uma estaca cravada no controle das despesas públicas.

2. O fim do voto secreto para toda e qualquer decisão do Congresso Nacional. A transparência necessária em vários casos, a começar pela cassação de parlamentares, de maneira absoluta pode transformar os parlamentares em reféns de determinados lobbies e, principalmente, sujeitos à pressão do Poder Executivo. Nunca mais, por exemplo, um veto presidencial será rejeitado com o governo tendo nas mão suas duas mais importantes armas de gestão : a caneta e o Diário Oficial.

3. O novo esboço de reforma eleitoral (erroneamente chamada de reforma política), muito mais voltada para a conveniência dos políticos e seus partidos que para o interesse da sociedade e da democracia brasileira.

Cuidado, portanto, ao se lamentar que o Congresso no Brasil não é muito ativo.

Mobilidade urbana. Mobilidade ?

Cálculo do arquiteto e urbanista Frederico Rangel : com 600 veículos sendo emplacados diariamente no município de SP, a cidade precisaria de criar mensalmente 18,5 quilômetros de vias trafegáveis somente para acomodá-las. Se todos os veículos registrados na cidade resolvessem sair às ruas ao mesmo, as vias existentes precisariam de ter pelo menos três andares para acomodá-los, uns atrás dos outros, imóveis.

Radar NA REAL

8/11/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3407 baixa baixa
- REAL 2,3303 estável/baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 52.248,86 estável/baixa baixa
- S&P 500 1.770,61 estável/baixa alta
- NASDAQ 3.919,23 estável/baixa alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável