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Política & Economia NA REAL n° 50

terça-feira, 5 de maio de 2009

Atualizado às 08:10


No Brasil, juros mais baixos e investimento estrangeiro em alta

Sempre é difícil ser categórico sobre previsões, embora os analistas do mercado financeiro e de capital adorem exercer o papel de divindade. De toda a forma, acreditamos que há grande chance de que o processo de recuperação da atividade econômica e do emprego possa ter se iniciado aqui no Brasil. Generalizam-se os sinais de que isto esteja a acontecer : melhores indicadores de consumo, inflação em queda, câmbio se valorizando e juros em queda. O Real está subindo, fruto da forte entrada de recursos dos investidores estrangeiros que estão injetando recursos, sobretudo nas ações brasileiras. Este fluxo deve continuar nos próximos meses, embora as incertezas no mercado internacional ainda sejam empecilho de que este processo de generalize ainda mais. Do lado dos juros, o principal movimento é do BC. Os juros básicos foram reduzidos na semana passada em mais 1%, movimento este altamente esperado pelo mercado e analistas. O grande problema é que é cada vez menos provável que os movimentos na taxa básica de juros influenciem, de forma mais efetiva, os juros dos títulos de médio e longo prazo. Ou seja, os juros podem cair no curto prazo, mas não cairão muito no longo prazo (12 meses à frente). Isto reflete a expectativa de que haja recuperação econômica suficiente para que o foco do BC volte a ser a inflação e não a atividade econômica. Além disso, há uma preocupante elevação das despesas públicas cujos reflexos na inflação e no déficit serão sentidos a partir do ano que vem - um ano eleitoral.

Já saímos do fundo do poço ?

É esta a sensação mais generalizada, como registrado na nota acima. No entanto, para que o Brasil possa sair mais forte da crise como tem apregoado o presidente Lula e não cansam de repetir seus seguidores e alguns bonecos de ventríloquo do mercado, o governo terá de fazer bem mais - e um pouco diferente do que tem feito - até agora. Não dá para pensar que passado o pior da crise aqui e lá fora, voltaremos a surfar nos bons ventos econômicos que nos ajudaram a subir nos últimos anos. Em matéria de economia, o mundo nunca será como antes - pelo menos não por muitos anos. A crise, com a queda abrupta da atividade econômica, evitou que alguns gargalos sérios na infra-estrutura começassem a dar as suas caras. A deterioração do setor, porém, continuou. E o PAC, ambicioso demais na sua extensão (quem tem mais de duas mil prioridades de fato não tem nenhuma) e sofrendo crônica deficiência de gestão federal, não é e não será a solução. E não dá para ficar dependendo apenas dos cofres da Petrobras. Até porque os problemas de curto, médio e longo prazo estão nos portos, nas estradas, na energia elétrica (algumas termoelétricas foram acionadas na semana passada) e nem tudo atrai investimentos privados. O segredo é recuperar a capacidades de investimento do Estado. Portanto, é preciso que o governo gaste menos no seu próprio custeio e com mais qualidade naquilo que ajuda a melhorar as condições econômicas. O desafio é enfrentar a clientela política com o olho na sucessão presidencial.

China cresce. Mais um sinal positivo

A expansão da atividade industrial chinesa cresceu em abril 13,1% em comparação a março e foi a maior surpresa dentre os países emergentes nestes últimos tempos. Havia oito meses que a atividade industrial caía seguidamente na China. O maior consumo doméstico alimentou a alta. Se isto é um sinal consistente ainda não é possível afirmar, mas este melhor desempenho da maior economia emergente faz parte de um conjunto favorável de dados que indicam que a crise começa a ceder nos países mais importantes no mundo emergente. O Brasil e a Índia apresentam os melhores desempenhos entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). A China começa a melhorar e a Rússia, país muito dependente do petróleo, é o patinho feio desta estória.

A gripe suína se espalha

Eis o principal fator a preocupar os mercados no momento. Não bastassem as incertezas da crise agora estamos literalmente tentando adivinhar os efeitos desta gripe sobre os diversos segmentos do mercado financeiro internacional. É certo que não bastam as projeções da OMS ou os dados dos governos. Afinal, trata-se de uma doença viral cuja expansão e efeitos são muito difíceis de serem projetados. Assim sendo, se não é para ficar alertado, não há motivos para se ficar relaxado. O assunto requer atenção e moderação em relação às conclusões sobre os efeitos que podem produzir. Não dá para fazer aposta sobre o tema.

Nos EUA, bancos e emprego são os dados mais importantes

Nas próximas semanas, os dados de emprego e a verificação do estado de saúde do sistema financeiro serão determinantes para o maior ou menor pessimismo dos investidores. As autoridades reguladoras do sistema financeiro vão divulgar nesta semana os resultados do "teste de stress" aplicado às instituições. Basicamente estes testes têm o objetivo de verificar o comportamento dos sistemas de risco e os informes financeiros dos bancos diante de cenários alternativos de volatilidade e inadimplência. Existem dúvidas se alguns dos principais bancos possam mostrar insuficiência de capital próprio para suportar estes testes. Num sistema financeiro combalido, este tipo de dúvida provoca inquietação de duas formas : (i) o sentimento de que o sistema não é seguro e (ii) em havendo novas captações de recursos via ações, os investidores podem ver diluídas as suas participações acionárias. Na área de emprego o que se espera é simples e objetivo : sinais de que o pior já passou, mesmo que os números ainda sejam sofríveis. Estamos num terreno perigoso de vez que é essencial que sejam revertidas as expectativas negativas instaladas há mais de ano e meio no mercado internacional - de forma mais aguda, desde setembro do ano passado.

Radar "NA REAL"

Os dados internacionais nos recomendam ainda muita cautela. Todavia, com base no nosso acompanhamento da conjuntura e dos mercados o cenário nos parece mais promissor. A melhor combinação do momento é prudência (nos volumes aplicados) com aumento de risco (em mercado de ações e títulos de renda fixa de menos qualidade).

5/5/9

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo (0 a 6 meses)

Médio Prazo (6 a 12 meses)

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

estável

estável

- Pós-Fixados

NA

queda

estável

Câmbio ²

- EURO

1,33

alta

alta

- REAL

2,15

alta

alta

Mercado Acionário

- Ibovespa

47.290

alta

alta

- S&P 500

877,52

estável

estável

- NASDAQ

1719,20

alta

alta

(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Mercado de tecnologia em alta

As maiores empresas tecnológicas do mundo começam a dar sinais mais consistentes de recuperação da demanda. Depois de quase seis semestres de declínio nas vendas, empresas como Intel, Microsoft, IBM, TSM (Taiwan), Texas, etc. estão registrando alta nas vendas. O cenário ainda é muito incerto, mas os dados objetivos apontam para crescentes pedidos nos próximos meses. Esta recuperação deve ser analisada com muita atenção, pois normalmente a elevação das vendas neste setor indica que os segmentos mais ligados ao consumo estão se tornando mais otimistas. Assim sendo, começam a aumentar a produtividade (via aplicação de mais tecnologia) e a adquirir insumos (tais quais os chips) para a maior produção futura. O processo de ajuste de estoques depois da "freada" pós-quebra do Lehman Brothers está se esgotando. Mais um sinal favorável em meio à crise.

O BNDES e o seu papel

Ninguém vai se interessar no âmbito do Legislativo ou mesmo do Judiciário em conhecer as atividades do BNDES, especialmente durante a crise atual ? Será que a instituição está utilizando todos os seus recursos de forma absolutamente transparente, profissional e ética ? O BNDES é atualmente o principal provedor de recursos de longo prazo para as empresas tendo recebido bilhões de recursos do Tesouro Nacional. Não mereceria maior atenção dos fiscalizadores ?

Lula e o pré-sal

O presidente parece que ficou frustrado com o fato de não ter lançado no dia do trabalho um vasto programa de investimento para a exploração petrolífera da camada do pré-sal. "Quando descobre petróleo na camada pré-sal, o Brasil tem chance de transformar-se em um país com potencial extraordinário e aí a gente pode resolver parte dos nossos problemas econômicos", afirmou o presidente. Resta uma pergunta : mesmo sendo razoável que continuemos a investigar o potencial das áreas da camada do pré-sal, não seria razoável que o presidente deixasse claro para o país o quanto empenhará neste projeto, bem como a estrutura de financiamento ? Antes de produzir petróleo, a "camada" pode produzir muitas dúvidas inclusive algumas envolvendo a Petrobras. Ainda há uma dúvida adicional : quando o Governo se empenhará para promover investimentos em consumo e produção "de energia limpa" ? Os biocombustíveis são apenas uma parte deste processo.

E o novo marco do petróleo ?

Alguém se lembra que, logo que surgiram as primeiras revelações sobre as "minas de ouro" do pré-sal, foi criada uma comissão de "alto nível" para rever as regras de exploração de petróleo no país. Anunciou até a criação da Petrosal, para cuidar apenas dessas riquezas. A proposta ficaria pronta até dezembro passado. Estamos em maio, e nada. Lula cobrou pressa da proposta na sexta-feira, primeiro de maio. Em tempo : a Petrobras sempre viu com maus olhares o nascimento de um concorrente numa área em que ela faz e desfaz, sem contestações.

A anistia fiscal

Enquanto o país não muda a sua matriz energética, o governo e o Congresso premiam os maus pagadores de impostos com mais uma anistia, a terceira em cinco anos. O setor de álcool ganhou o seu enorme quinhão. Uma moleza sempre é boa ! Assim caminha o erário no exato momento em que mais de 25 milhões de pessoas físicas acabaram de entregar suas declarações para se sujeitarem às durezas do fisco.

Calote vergonhoso e cínico

O prefeito de SP, Gilberto Kassab, escreveu, com certa elegância vernacular, um artigo no jornal "O Estado de S. Paulo" da semana passada para tentar defender as novas regras para pagamento dos precatórios. Outros gestores públicos também têm ocupado espaços na mídia para explicar a proposta. Curiosamente, parece uma ação orquestrada, tal a similaridade dos argumentos e a "parecença" dos textos. Não convencem, porém, não há justificativa política (nem legal, segundo nossos melhores juristas) para tal barbaridade. O precatório, aliás, em si só já é uma excrescência. O governo deve ao cidadão, não tem mais como recorrer e simplesmente não paga, entrega a ele um "dólar furado" que, se puder não resgata nunca. É caso de polícia. O dia em que tivermos algum tribunal disposto a aplicar nos governantes as leis desse país e mandar alguns deles para a cadeia, a situação vai mudar. O Estado no Brasil trabalha para o interesse do Estado, não pelos cidadãos.

Fora do tom

Desde sexta-feira - e isso ficou evidente nas cerimônias do pré-sal - o presidente Lula e seus homens deixaram de se referir, pelo menos publicamente, em eventos "administrativos-eleitorais" aos problemas de saúde da ministra Dilma Roussef. Não se sabe se por uma recaída no bom senso ou porque as pesquisas de opinião que o Palácio do Planalto realiza quase que diariamente indicaram alguma "estranheza" da sociedade com possíveis explorações eleitorais do drama da candidata presidencial. A verdade é que alguns, como o presidente Lula no Amazonas, o ministro José Múcio, o senador Romero Jucá e o assessor Marco Aurélio Garcia, saíram um pouco do tom nessa história. Dilma não.

O silêncio teria sido menor

Lula também saiu do tom também quando resolveu justificar o uso das passagens pelo parlamentares para viagem de parentes, amigos e outros e outras tais.

Mais forte do que nunca

Engana-se quem dá o PMDB como em baixa apenas porque dois de seus expoentes, os presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, estão às voltas com os escândalos que despontam a cada dia nas instituições que eles dirigem. O partido está com uma lista de reivindicações na ante-sala do presidente Lula e vai levar parte do que pede. Além do chamado "apoio a Dilma" pretendido por Lula, o PMDB está apresentando duas novas armas na mesa de litigância : uma CPI do DNIT e outra da Petrobras. Se alguém vai ter de pular miudinho é o PT.

O dom da mediunidade

Um leitor assíduo e atento desta coluna cobrou as escassas referências neste espaço "às oposições", para o bem e para o mal - ou seja, com críticas ou elogios. De fato, PSDB, DEM e PPS passam pouco por aqui. Mas há uma explicação : como falar do que não existe, pelo menos do ponto de vista da discussão das grandes questões nacionais e da apresentação de soluções alternativas objetivas, concretas às políticas do governo. Os autores da coluna ainda não adquiriram o dom da mediunidade.

Poupança : vamos deixar de tergiversações ?

A propósito das alterações na remuneração da caderneta de poupança, anunciada pelo presidente Lula há quase dois meses e que segundo o ministro da Comunicação, Franklin Martins, acontecerá até junho, seria aconselhável que o governo dissesse as coisas como elas são, sem subterfúgios :

1. As alterações não virão para proteger o pequeno poupador. Na melhor das hipóteses, ele não terá o rendimento atual, contratado quando ele fez o depósito, diminuído.

2. O maior beneficiário de uma diminuição dos juros e da correção que alcançam os investimentos nas tradicionais cadernetas será o próprio governo. Primeiro, porque evitará o risco de ver uma fuga significativa de investidores em títulos públicos, comprometendo a rolagem de sua dívida. Segundo, porque se a solução para o imbróglio for taxar as aplicações de valores mais altos, como alguns defendem, ainda vai pingar um dinheirinho nas burras do Tesouro Nacional.

3. Os bancos, públicos e privados, também, ganharão com as mudanças. Mas ganharão também sem elas. Não lhes falta "tecnologia" para ganhar dinheiro com juros baixos ou com juros altos. O maior encrencado é mesmo o governo.

Asseguram os especialistas que há fortes justificativas técnicas para que se altere, de fato, a forma de remunerar os depósitos em caderneta de poupança. Mas o governo se contorce de pavor de tomar qualquer medida que possa minimamente assustar sua clientela eleitoral. A decisão será político-eleitoreira, o que pode dar no pior.