COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Porandubas Políticas >
  4. Porandubas nº 4

Porandubas nº 4

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Atualizado às 07:54



A CRISE AUMENTA

 

Que o governo Lula está chegando ao cume da montanha da crise, não se duvida. A desarticulação da base governista é completa. Os partidos aliados já não sabem a quem recorrer. O ministro Aldo já não tem mais condições de permanecer no assento da Coordenação Política. O PT ganha desconfiança por todos os lados. O flagrante de corrupção na sala de um funcionário dos Correios, que embolsou a quantia de R$ 3 mil, exibe mais um elo da imensa cadeia de corrupção na administração federal, que mostrou as caras desde o episódio Waldomiro Diniz, assessor do ministro José Dirceu. E este, no programa Roda Viva, na segunda feira, na TV Cultura, bate no refrão: "este governo não rouba, nem deixa roubar". Roberto Jefferson usa a tribuna para dizer que é vítima de uma farsa. O Procurador Cláudio Fonteles, guardião cívico da Nação, quer apurar denúncias de falcatruas envolvendo o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente Lula dá um voto de confiança aos dois. Espera que sejam inocentados. As oposições pedem uma CPI para apurar a corrupção nas estatais. O PT mais à esquerda concorda. O que vai acontecer?

 

LENTIDÃO E LENIÊNCIA

 

A situação está mais do que confusa. Careceria ação mais que urgente do presidente da República. Decisões que deveria ter tomado em tempo hábil: a) afastamento do ministro Romero Jucá até a apuração completa das denúncias; b) afastamento do presidente Henrique Meirelles até provar que as denúncias são infundadas; c) mudança de comando na articulação política, não necessariamente com o afastamento do ministro Aldo Rabelo, mas com seu deslocamento para outro Ministério; d) mudança no sistema de articulação política, com a proposição de um comitê de líderes de partidos que deveriam ter um link direto com o presidente Lula; e) lavagem completa de roupa suja na própria lavanderia do PT, quando todos os grupos deveriam chegar a pontos convergentes, sob pena de a guerra interna inviabilizar uma estratégia consensual em torno da candidatura Lula; f) prioridade absoluta à articulação não apenas com as forças congressuais mas com as direções partidárias, que controlam as bases. São estas que aprovarão/desaprovarão a aliança dos partidos com o PT para o projeto de reeleição de Lula; g) reforma ministerial, com inclusão de perfis que possam contribuir para agregar forças no segundo tempo da administração petista. O projeto de reeleição de Lula passa pela formação de um governo de coalizão. O que significa abrir mesmo espaço para os partidos aliados. Há um problema nisso tudo: a lentidão do presidente da República. O homem não gosta de tomar posição no meio de uma crise. O que dá a impressão de leniência do governo para o estado geral de desorganização da base governista. Em resumo: Lula erra muito e aumenta a crise com sua indefinição. Assim como aumenta a auto-definição. Ao se comparar a Getúlio Vargas e a Juscelino Kubitschek, Lula coloca-se no mais alto panteão do reconhecimento nacional. O que, convenhamos, é muito cedo. Por isso, cada vez mais se proclama: "menos, Lula, menos".

 

O FOGO DE JEFFERSON

 

Roberto Jefferson entra no rol de solidariedade de Lula, até porque seu partido está unido na defesa do presidente do PTB. Dizem que tem bala para atirar, caso seja ferido gravemente. Por enquanto, atirou em dois coronéis ligados a uma empresa de informática. (será que os dois coronéis também não têm outras balas?) Trata-se de um orador muito bom e seu discurso na Câmara pode ter causado boa impressão. Mas sua ficha de adesista de todos os momentos corrói a força do discurso.

 

ALCKMIN SENADOR

 

O governador Geraldo Alckmin quer mesmo ser candidato à presidência da República. Até pouco tempo atrás, era o candidato mais forte do PSDB. A posição, hoje, voltou para Fernando Henrique. O ex-presidente assiste, deliciado, Lula começar a descer o despenhadeiro. Se a queda for grande, topará liderar a chapa tucana, sob a alegação: "se o povo assim quis, pelo bem da Pátria..." Aécio Neves já está em plena campanha em Minas Gerais, mas tem uma pontinha do olho virada para o plano federal. Mas Alckmin, se for deslocado de seu eixo principal, toparia bater chapa com Suplicy, na única vaga para senador, em São Paulo, em 2006. Corre uma pesquisa mostrando Alckmin batendo o senador petista. Porém, o ambiente de eleição tem outros ares...

 

RENAN EM ALAGOAS

 

O presidente do Senado, Renan Calheiros, está começando a desistir de defender apoio irrestrito ao projeto de reeleição de Lula. Convidado pelo governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, a ser o candidato de uma ampla aliança partidária, começa a encarar positivamente a idéia. E já bombardeia para meio mundo o refrão de que "o PT não é confiável".

 

MARTA CRISTIANIZADA?

 

Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy está em plena pré-campanha, correndo o Interior e fazendo o que outros pré-candidatos fazem bem menos: contatos com as bases. Vai ser difícil tirá-la do páreo petista. Mas a caneta de Lula e a mão de Zé Dirceu trabalharão intensamente pela candidatura do senador Aloizio Mercadante. João Paulo Cunha não terá vez. Ganhará um cargo de compensação. Para Marta, Lula tem uma Embaixada. Mas a ex-prefeita é dura na queda. Quem a viu em um programa de TV, tirando chapéus para políticos, sentiu que irá até o fim. A briga do PT, em São Paulo, será um tiro no pé. Quem for candidato, entrará na campanha enfraquecido. Até porque, a esta altura, começam a jogar sujo contra a ex-prefeita. Se ela não for a candidata, é pouco provável que trabalhe com afinco o nome escolhido.

 

SERRA PATINANDO

 

Já se vão lá cinco meses e o prefeito José Serra não decolou. Dizer que recebeu a Prefeitura destroçada é discurso para, no máximo, dois meses. A essa altura, a administração municipal deveria ter um eixo, uma identidade, uma linguagem. Não tem. Não se sabe o que é prioridade, o que é secundário. O caminho mais largo não foi aberto. Sanear finanças não pode ser programa principal. Isso é meio, não é fim. A identidade de uma gestão abriga algo como um guarda-chuva social, um sólido programa de investimentos na periferia, a recuperação da saúde etc. Se Serra não decolar nos próximos dois meses, estará enfraquecendo todo o projeto tucano para 2006, aí incluindo o projeto presidencial. Se decolar na beirada da eleição de 2006, poucos perceberão. Não dará tempo - como não deu tempo a Marta - que algum candidato tucano consiga votação massiva em São Paulo.

 

RIGOTTO EM AÇÃO

 

Começa a ganhar corpo a candidatura de Germano Rigotto, pelo PMDB, à presidência da República. Esbanja charme e densa expressão em matéria econômica. Jovem, sério, fluência na expressão, boa aparência. Não é muito conhecido, o que, nesse momento, de tanta massificação de perfis saturados, é algo positivo. Passa a impressão de assepsia. Garotinho, por sua vez, vive cercado de crises. E duas coisas limitam seu perfil: Rio de Janeiro e a religiosidade evangélica. Ou seja, trabalha em campos muitos limitados. A igreja evangélica tolhe seus movimentos em outras direções. E Rio de Janeiro é um monumento de beleza brasileira. Mas, associado a Garotinho, fica com cara de violência e insegurança social.
_________________