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Porandubas nº 8

quarta-feira, 15 de junho de 2005

Atualizado às 08:42



GARGANTA PROFUNDA 1

O deputado Roberto Jefferson acaba de confirmar sua identidade de "Garganta Profunda". Diferente do "Garganta Profunda" norte-americano, Jefferson age abertamente. Saiu dos bastidores. Confirmou, em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, tudo que disse à Folha de S. Paulo. Mas colocou pimenta no caldo. Adicionou detalhes que tornaram sua fala mais convincente. Expressou o nome de interlocutores. Falou com José Dirceu e José Genoino 6 vezes. Mostrou onde teve uma reunião com Genoino, o tesoureiro do PTB, Delúbio e Marcelo Sereno: o prédio da Varig. Apontou as notas de R$ 50 e R$ 100 dentro de duas imensas malas. Falou do mensalão para Lula, que chorou. Defendeu de maneira contundente o presidente, um homem isolado e traído. Agindo como um "garganta profundo" destemido, Jefferson fez um discurso convincente. Só que não apresentou provas. Mesmo assim, não dá para descartar suas denúncias.


GARGANTA PROFUNDA 2

Viu-se um advogado criminalista com o dom da palavra e dos simbolismos que emocionam platéias. O pano de fundo sentimental foi bem desenhado, com as citações à mulher, a filha e netos, aos apóstolos de Cristo, ao retirante nordestino Lula que passou fome, à educação que recebeu do pai, aos tempos em que foi execrado, passando, ainda, pelo linchamento dos deputados Ibsen Pinheiro e Roberto Cardoso Alves, pela revista Veja. Jefferson, ao se defender, atirou para todos os lados.


GARGANTA PROFUNDA 3

No depoimento, foram alvo de ataques, entre outros, os seguintes personagens e entidades: Delúbio, Dirceu, Genoino, Marcos Valério (o homem da mala), Silvinho, Pedro Correa, Correios, IRB, Skymaster, Veja, um juiz de primeira instância do Distrito Federal, TV Globo, Revista Época, os arapongas da ABIN, a maioria parlamentar que não tem coragem, o deputado Luiz Phiaulino. O conjunto é bem representativo. A teia começa a se confirmar, a partir das primeiras declarações de deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) e da secretária do publicitário mineiro, que revelou ter ajudado a guardar o dinheiro na mala. O primeiro depoimento de Jefferson é uma prévia do debate mais aceso que ocorrerá na CPI.


GARGANTA PROFUNDA 4

Ao fazer ressalva sobre a inocência do presidente Lula, Jefferson procura sensibilizar parcela da base governista, a partir da defesa feita do mandatário-mor. A maneira carinhosa com que se referiu a Lula teve alguns tons acima do esperado, revelando a tática de cooptação de simpatia. Viu-se ai o advogado advogando de maneira exuberante.


GARGANTA PROFUNDA 5

Esperava-se um ataque duro entre Valdemar da Costa Filho, presidente do PL, ao presidente do PTB. Mas Jefferson soube responder com poucas sílabas à indignação do autor da representação contra ele no Conselho de Ética. Será difícil, muito difícil, cassar o mandato de Jefferson. Mas ele abriu um imenso flanco: disse que a maioria parlamentar é covarde. Essa covardia poderá tirar seu boné.


GARGANTA PROFUNDA 6

No momento de maior contundência, Jefferson deixou uma questão no ar: se Dirceu não sair logo do governo, vai sobrar para Lula. O que isso quer significar? Algo como o fio do novelo desdobrado, que vai parar no colo presidencial. Foi um xeque no tabuleiro de xadrez de Dirceu. Dirceu já estaria limpando as gavetas.Há quem diga que o governador Jorge Viana, do Acre, estaria sendo convidado para administrar a Casa Civil e a crise.


GARGANTA PROFUNDA 7

Com tantos detalhes e ambientação, os nomes envolvidos terão de rebolar para sair do rolo de denúncias. Quem pode dizer, por exemplo, se não estava presente numa reunião, quando havia mais de dois interlocutores?


GARGANTA PROFUNDA 8

As notas do dinheiro - R$ 4 milhões - que o PTB recebeu do PT ainda não apareceram. Ou seja, o Caixa 2 foi denunciado. Só isso bastaria para apertar os dois partidos.


GARGANTA PROFUNDA 9

Por diversas vezes, Jefferson defendeu a bancada do PT. Mas fez a ressalva: recebeu a oferta de Genoino e Delúbio para receber o mensalão. Genoino sai mal. O ataque vai acabar influindo na eleição para a presidência do PT, no segundo semestre. E mais: ao repetir que os deputados Pedro Correa, presidente do PP, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, tinham conhecimento e distribuíam o mensalão, jogou muita lenha na fogueira. Sabiam, ainda, o deputado Sandro Mabel e o bispo Rodrigues.


GARGANTA PROFUNDA 10

O episódio Jefferson puxará a agenda negativa do governo para as margens próximas às eleições. A conferir.
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