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Porandubas nº 10

quarta-feira, 29 de junho de 2005

Atualizado às 09:02



PMDB, SEMPRE DIVIDIDO

Que o PMDB é uma conglomeração de partidos regionais, disso ninguém duvida. Nos últimos tempos, o presidente do partido, Michel Temer, estava conseguindo chegar a um ponto de equilíbrio entre as duas bandas, a governista e a oposicionista. De repente, tudo parece voltar ao ponto zero. O convite de Lula para o partido aumentar o espaço no governo acirrou a divisão. A questão é : o que está por trás disso ? Os interesses em jogo de cada lado.

OS FATOS 1

Vamos aos fatos: 1. os senadores terão menos a perder que os deputados, porque a eleição do próximo ano contemplará apenas a eleição de um senador por Estado; 2. Renan Calheiros, presidente do Senado, exerce o domínio da bancada, exatamente porque abre espaços para muitos senadores na administração federal; 3. Renan convidou os senadores para uma reunião em seu gabinete, oportunidade em que deles solicitou apoio à governabilidade. E saiu uma nota, preparada pelo líder Ney Suassuna e o próprio Renan, apoiando a governabilidade. O senador Ramez Tebet, do PMDB de Mato Grosso do Sul, diz que não assinou a nota. Ao ler os jornais de terça-feira, ficou surpreso com a análise da imprensa de que 20 senadores estavam querendo aumentar o espaço no governo. Não foi isso o que se decidiu, garante Tebet. Até porque o Diretório de Mato Grosso do Sul é contra o ingresso no governo. Se a questão se refere ao apoio à governabilidade, esse apoio também é endossado pela banda oposicionista. Portanto, está havendo fumaça nessa história.

OS FATOS 2

4. Os governadores e a maioria dos Diretórios estaduais do PMDB se mostram contrários à participação mais forte na administração federal por motivos óbvios: querem preservar as candidaturas à reeleição, sabendo que o PT jamais irá apoiar os cerca de 20 candidatos peemedebistas com possibilidades de ganhar a o pleito, a partir de Germano Rigotto, no RS, e Luiz Henrique, em Santa Catarina; 5. os deputados estão divididos, mas, ao final do jogo, poderão se sensibilizar com os ventos da opinião pública e a pressão dos governadores, que acabarão dando as cartas; 6. se o PMDB decidir não aceitar o convite de Lula, isso não significará falta de apoio no Congresso. Já é sabido que apoio à governabilidade não faltará. Ocorre que há muitos congressistas que só pensam em fatia de poder.

CONVENÇÃO, CONSELHO POLÍTICO OU PARLAMENTO?


Se a decisão for tomada em Convenção Nacional - pouco provável em função do tempo - o PMDB rejeitará o convite de Lula. Se a questão ficar na esfera do Conselho Político, um grupo de 60 pessoas, a divisão das duas alas poderá se aprofundar. A decisão de limitar a decisão ao âmbito parlamentar satisfaz a vontade de Renan Calheiros e José Sarney, que só tem olhos para o plano imediato. Nesse caso, Lula poderá ganhar a parada. E o PMDB aprofundaria o campo da desmoralização. A essa altura, a única coisa que resta ao PMDB será a alternativa de convocação de uma Convenção, para derrubar ou ratificar a decisão da Convenção anterior, de dezembro passado, quando a maioria decidiu pela saída do governo. Esta é, aliás, a posição do presidente do partido, Michel Temer.

LEITURA ERRADA

É impressionante como alguns jornais e revistas continuam apostando errado, ou seja, mostrando - e até querendo comprovar com massa de recursos - que o PMDB entrará firme no governo. Nos últimos dias, um jornal que vem se caracterizando em produzir manchetes opinativas, mais parecendo jornal-laboratório de Escola de jornalismo, tem se especializado em demonstrar o tamanho da ambição peemedebista, sem considerar a equação eleitoral de 2006. Ora, é óbvia a conclusão de que o leit-motiv peemedebista é o quadro eleitoral do próximo ano, a perspectiva de eleger um elevado número de governadores e as maiores bancadas de deputados. Mas o jornal carioca decidiu marcar posição, colocando o PMDB no sacolão dos recursos. Que esse interesse existe, não há dúvida. Mas há outras razões. Sinal de que a cobertura é feita por amadores e analistas que se deleitam em enxergar o próprio umbigo, ou seja, enfeitiçando-se com a "maravilha" do próprio texto.

CPIS, RECESSO E LDO

Há uma grande interrogação no ar. Haverá ou não recesso parlamentar em julho? O recesso cairia como uma espécie de água fria sobre a fogueira que queima a imagem do governo e do PT. Mas há quem defenda suas operações durante o recesso. Mesmo assim, o clima estaria mais arrefecido. A resposta vai depender da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Não haverá recesso, enquanto não for votada. A votação da LDO condiciona o recesso parlamentar. Diz-se que até dia 10 de julho estaria votada. Esse é mais um motivo para a queda de braço entre governistas e oposicionistas.

A IMAGEM BORRADA DO PT

Seja qual for a conclusão a que chegarem as CPIs, o PT já está com a imagem intensamente borrada. Perdeu o discurso da ética. Desfraldou a bandeira do fisiologismo e, mais que isso, da propinagem do mensalão. A contratação de advogados, entre eles o ex-procurador geral Aristides Junqueria - que defenderá Delúbio Soares - terá efeitos no campo jurídico, não na esfera da imagem pública. Ou seja, podemos até ver os quadros petistas absolvidos de todas as acusações, mas sobrará a pesada sombra construída pela bateria violenta de críticas, denúncias e acusações de todos os tipos, que, a cada dia, se tornam mais convincentes. Junqueira, para quem não se lembra, foi o mesmo que ofereceu denúncia contra o então presidente Collor, no início dos anos 90.

FHC ANIMADÍSSIMO

Quem esteve mais recentemente com Fernando Henrique Cardoso confirma a impressão, que se generaliza, que o ex-presidente voltou a ter um olhar eleitoral. Dá corda a Aécio Neves, dá uma tapinha nas costas de Geraldo Alckmin, mas pisca, de soslaio, para o interlocutor à sua frente, matreiro como nunca esteve. E, acreditem, está pedindo para os correligionários não aumentarem a fogueira que incendeia o Planalto. Gosta mesmo é de fogo brando, desses que vão amaciando a carne, até o ponto exato de digestão. Em resumo, matar não. Sangrar até morrer, sim.

OS MILHÕES DO MARCOS VALÉRIO

Uma questão-chave a ser equacionada nos próximos dias: os mais de R$ 20 milhões sacados na boca do caixa do Banco Rural, a mando de Marcos Valério, o publicitário mineiro, estão sendo mapeados. Se não houver um rebanho de umas 30 mil cabeças de gado e mais um bom rebanho de cavalos, o Valério será apeado da montaria. Nesse caso, o mensalão terá uma cara mais concreta. Será a abertura mais escancarada da cerca. E ai os obas africanos poderão gritar a pleno pulmão: "enduro lêmin lenam aiê", que, na língua yarubá, é algo parecido com "abram as portas que vou arrasar com tudo".
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