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Porandubas nº 283

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Atualizado em 19 de julho de 2011 12:27

Família plural

Abro a coluna com uma deliciosa historinha de Valério Mesquita, um potiguar contador de "causos", afamado pela verve.

Comício em Brejinho. Terra do folclórico ex-prefeito Avelino Matias, vulgo "Meu Pai", figura conhecida no Agreste do Rio Grande do Norte. No palanque, Avelino discursava inflamado : "Nós vai melhorar a educação do município. Nós vai melhorar a saúde do povo de Brejinho. Nós vai trabalhar pelos mais pobres e nós vai ajeitar as estradas". A filha, prefeita do município, não aguentou tanto erro de concordância e resolveu intervir :

- Pai, empregue o plural.

Avelino, empolgado, soltou-se :

- Nós vai arranjar emprego pro plural, pro pai do plural, pra mãe do plural, pra "famia" toda !

E assim Brejinho elevou a família Plural à Galeria da História Política.

Lula vai à luta

Vocês, leitores, percebem algo errado com o título acima ? Ora, Lula sempre esteve no campo de batalha. Como presidente, parecia às vezes líder da oposição. Com um discurso alinhando abordagens de uma luta dos pobres contra os ricos, dos fracos contra os poderosos, dos carentes contra as elites. Lula chegou ao topo das elites políticas. Mas seu discurso é o do brasileiro comprimido na última camada da pirâmide social. Essa é a mágica de Luiz Inácio. Agora, solto na buraqueira - como se diz no vulgo - Lula correrá o país, abrindo palanques para fazer a maior baciada de prefeitos da história do PT.

Longo alcance 

Luiz Inácio tem consciência de que funciona como a locomotiva que puxa o trem do PT. Sem ele, os carros não correrão nos trilhos. Por isso, não quer esperar mais um tempinho. Põe lenha na caldeira com a subida aos palanques. Irá ao Nordeste nos próximos dias para mobilizar massas na Bahia e em Pernambuco. Lula quer o PT governando o país pelo menos 16 anos. Claro, defende um segundo mandato para Dilma, sabendo que caso ela tropece na primeira jornada, ele será o estepe. No banco de reservas, pronto para assumir a posição de titular. Recursos para viver uma boa vida, ele descobriu como arrumar : palestras. Cada palestra é bem cobrada : entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, dependendo do patrocinador e do lugar.

23 palestras 

Pois bem, nos próximos 2 meses, Lula tem engatadas - agendadas - 23 palestras internacionais. Convites chegam de todas as partes. Deverá recusar algumas para ter tempo e se dedicar à pré-campanha das prefeituras.

Acervo de Boal 

Brasil grande ? Que nada. Brasil medíocre. É o conceito que uso quando vejo situação perversa como essa : a viúva do grande dramaturgo, diretor de teatro e ensaísta carioca, Augusto Boal, que morreu em 2009, levará seu acervo para os Estados Unidos. Aqui, não encontra patrocinadores e apoiadores para escudar o acervo do grande brasileiro. E assim a obra do fundador do Teatro do Oprimido ficará longe da pátria. Perguntinha boba : quem é mesmo a ministra da Cultura ? Ou da Curtura ?

70% das verbas do porão 

Mais um registro do Brasil na lama : 70% das verbas desviadas no território são das áreas da Saúde e da Educação. Dinheiro para reformas de escolas e hospitais, compra de merenda escolar e de remédios, construção de quadras esportivas e procedimentos do SUS. O ralo da corrupção consome parte formidável dos recursos e das energias do país.

DEM homogêneo ?

Dizem seus dirigentes que o DEM, mais enxuto, também está mais homogêneo ? Claro, é o mínimo que se poderia exigir de um partido estiolado pela saída de muitos quadros. A regra é esta : a homogeneidade aumenta na razão direta da compressão de participantes.

Tucanos unidos ? Difícil 

Diz-se também que o tucanato toca acordes mais uníssonos. Este consultor discorda. Os tucanos são todos caciques. E caciques exibem autonomia, arrogância, independência, autocontrole. Os grupos são independentes. Há um maestro mais respeitado entre eles, Fernando Henrique, que pouco consegue juntá-los na mesma orquestra. Por isso, Aécio toca sua viola com seu grupo, Serra rege uma bandinha própria, Alckmin tem a sua bateria forte em São Paulo, Tasso brinca de apitar no Nordeste e o presidente Sérgio Guerra, tonto e confuso, acaba ouvindo melodias dissonantes.

Empresa individual 

A lei 12.441/2011, que permite a constituição de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, entra em vigor daqui a seis meses, mas já representa uma nova fase para o empreendedorismo brasileiro. O presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP), José Chapina Alcazar, entende que a lei é um incentivo à formalidade. "O cidadão que antes precisava recorrer a amigos ou parentes para iniciar um negócio, agora pode colocar seus planos em prática sem o artifício de uma sociedade que, na prática, muitas vezes não existia". Não há limite de faturamento para abrir empresa nesta modalidade; basta comprovar capital social de pelo menos 100 vezes o maior salário mínimo vigente no país, valor que hoje representa R$ 54 mil.

Os argentinos  

Mais uma sobre argentinos. Barack Obama, presidente dos EUA, e David Cameron, primeiro ministro inglês, conversam em um jantar na Casa Branca. Hillary Clinton, secretária de Estado, aproxima-se deles e pergunta:

- Qual é o assunto desta conversa tão animada ?

- Estamos fazendo planos para a terceira Guerra Mundial, diz Obama.

- Uau !, exclama Hillary. E quais são esses planos ?

- Vamos matar 14 milhões de argentinos e um dentista, responde Obama.

Hillary, tão surpresa e intrigada quanto ficou ao saber do affaire de Bill Clinton com Mônica Lewinsky num salão da Casa Branca, pergunta :

- Mas, um dentista ? Por que é que vão matar um dentista ?

Cameron dá uma palmada nas costas de Obama e exclama :

- Não te disse ? Ninguém vai perguntar pelos argentinos !

Valente e Jânio

Nelson Valente é um especialista em Jânio Quadros. Lança mais um livro sobre uma das figuras mais interessantes de nossa história política. Jânio Quadros, O Estadista, tem 467 páginas com fotos e bilhetinhos inéditos. Nelson conta : "corri bibliotecas, colhi depoimentos, li e reli centenas de revistas e jornais antigos e conversei muito com o próprio personagem. O ex-presidente sempre foi comigo muito atencioso, relatou-me fatos que hoje tenho por obrigação passar através deste livro. Para a renúncia, há mais de dezoito versões diferentes. As minhas pesquisas indicam que o ex-presidente Jânio da Silva Quadros tentou renunciar pelo menos onze vezes nos mesmos moldes e uma tentativa de deposição em toda a sua vida pública". Nos sete meses de governo, Jânio Quadros despachou cerca de quinhentos bilhetinhos, papeletas ou memorandos altamente enérgicos e exigentes.

A nova classe média  

Há uma nova classe média abrindo as portas do consumo. São 20 milhões de brasileiros que ascenderam na escala social, chegando ao habitat da classe C, vindas das margens D e E. Acorrem aos pacotes de lazer e viagem, começam a entrar nos aviões, descobrem as maravilhas dos cruzeiros marítimos, entopem as lojas dos bairros e chegam aos shopping centers. Mas ainda não se apropriaram de outros valores inerentes à classe média B, como ser polo de irradiação de influência e opinião. Ainda não se identificaram com a característica fundamental da classe média : pedra no meio do lago. Jogada no meio de um lago, a pedra forma marolas que chegam até às margens.

Caras novas 

A fornada de candidatos para as prefeituras no pleito de 2012 terá muitas caras novas. A cada dia, surgem pré-candidatos. Viva ! O município é a base do edifício político. Brasil tem 5.564 municípios. Seria muito bom um banho geral na velha cara da política.

Reforma fatiada

O governo já prometeu muito e não cumpriu. Promete mais uma vez : no segundo semestre, virão retalhos de uma reforma tributária. As fatias contemplarão situações como extinção da guerra fiscal entre Estados e fim do ICMS para importação. Vamos acompanhar. E avaliar se não haverá nova guerra fiscal a partir da geração de novas tensões e reivindicações.

Quem enxerga melhor ?

Que a desindustrialização se faz presente no país, ninguém duvida. Apenas uma autoridade não concorda com essa escancarada realidade : o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Que diz literalmente : não há desindustrialização no país. Os dados lhe são apresentados. Ele diz : não entendo assim. Ontem, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também disse literalmente : "os efeitos da desindustrialização estão bastante marcantes". Quem enxerga melhor ?

Chávez, Fidel e Lula  

Chávez decidiu tratar seu câncer de próstata em Cuba. Lula chegou a dizer a ele : venha para o Brasil que, se for preciso, cuidarei de você, ficarei na porta para não deixar nenhum intruso entrar. O Brasil dispõe de grandes médicos e o tratamento nessa área é considerado coisa de primeiro mundo. Mas Chávez decidiu pelo sigilo que o tratamento cubano lhe dispensará. Fidel lhe garantiu : aqui, você terá tranquilidade. No Brasil, muito barulho. Razoável o argumento.

Nordeste melhor

O nordeste já não exporta tantos habitantes para o sudeste Maravilha. A região, segundo o IBGE, começa a receber os nordestinos desiludidos com as intempéries encontradas no Eldorado tão sonhado. Viva o nordeste melhor.

Gilberto e DNIT

Nos últimos dias, uma nota foi recorrente na mídia : o patrocinador da continuidade de Luiz Antônio Pagot, no DNIT, seria o ministro Gilberto Carvalho. Teria sido ele o artífice da solução meio-termo encontrada : não se pode demitir um servidor público de férias. Mas a decisão parece tomada pela presidente Dilma : Pagot pagará o pato e não voltará à direção do DNIT.

Advogados

Os advogados entram em peso na militância político-partidária. Na campanha paulistana para a prefeitura, Luiz Flávio Borges D'Urso, Gabriel Chalita e Fernando Haddad são advogados. Chalita é o primeiro candidato sinalizado por um partido : o PMDB. D'Urso é o segundo, a ser lançado dia 6 de agosto pelo PTB. Haddad ainda é um sonho de Lula. Difícil de se concretizar. Marta Suplicy é, hoje, a candidata favorita do PT.

Luiza Trajano

Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, deverá ser convidada pela presidente Dilma para compor o Ministério. Para ela, estaria reservada a Pasta da Micro e Pequena Empresa. Comandante de um império, Luiza, conhecida pelo teor crítico às investidas tributárias do Governo, deverá pensar duas vezes antes de aceitar. Mas tende a fazer a experiência no governo.

Bocarra tributária 

Este ano, o brasileiro vai pagar um volume maior de impostos. O economista Amir Khair, especialista em finanças públicas, calcula que a carga tributária deve crescer 1,3 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB), passando de 33,6% em 2010 para 34,9% do PIB em 2011, impulsionada pela arrecadação de impostos e contribuições Federais. Os tributos estaduais devem perder participação em relação ao tamanho da economia e os municipais ficarão praticamente estáveis. O movimento reflete a retirada de desonerações fiscais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a recuperação do valor do Imposto de Renda das empresas, que sofreram queda em 2010, como reflexo da crise de 2009, e à dinâmica favorável da economia.

5 minutos de silêncio 

A onda de um minuto de silêncio faz parte da liturgia do poder. Surfam nessa onda políticos de todos os espectros. Vereador, então, usa a onda para capturar todos os votos da família do morto. Vejam este caso que ocorreu na Vila São José, bairro periférico de Macaíba/RN. O ex-vereador e candidato Moacir Gomes, ao usar a palavra, inicia a oração rogando aos assistentes do comício um minuto de silêncio pelo falecimento de um morador do bairro. Seu assessor e cabo eleitoral, ao lado, pensando no tamanho da família do falecido, sopra no ouvido de Moacir :

- Um minuto é pouco. Peça cinco. Tem muito voto lá !

Historinha de Valério Mesquita.

Conselho aos pré-candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao novo ministro dos Transportes. Hoje, sua atenção se volta aos pré-candidatos. O pleito municipal do próximo ano deverá ser um dos mais concorridos. A política abre o apetite de profissionais de todos os campos e espectros. São milhares de candidatos que concorrerão ao cargo de prefeito em 5.564 municípios. Nesse momento, pré-candidatos começam a mobilizar seus times e a azeitar suas estruturas. Para eles, os seguintes conselhos :

1. Procurem fazer uma análise rigorosa das condições que os abrigarão, da situação de eventuais adversários e partidos e do clima ambiental das cidades;

2. Tentem, desde já, estabelecer um cronograma de ações e decisões com vistas à conquista de apoios de entidades e lideranças;

3. Antecipem-se em algumas iniciativas, como as de comprometer o maior número possível de parceiros e aliados no jogo eleitoral.

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