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Porandubas nº 17

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Atualizado em 16 de agosto de 2005 19:15

 

A VINGANÇA: PERMANÊNCIA DE LULA

Lula sabia. Não sabia tudo, mas da missa conhecia algumas rezas. Trata-se, reconhecidamente, de pessoa inteligente. O próprio Duda, quando o conheceu, dele dizia: Lula é com esponja, absorve tudo rapidamente. Dirceu comandava, de fato, o PT. Delúbio comandada as operações financeiras. Por fora e por dentro, usando, como operador, Marcos Valério. Isso era do conhecimento da cúpula. E a cúpula começa com o comandante, no caso, o próprio presidente. Não interessa, porém, expelir Lula. Quanto mais durar, mais desgaste para o PT. Não tenham dúvida: o maior castigo não seria o impeachment, mas a continuidade de um processo de desgaste, OU SEJA, A PERMANÊNCIA DE LULA NO MANTO PRESIDENCIAL COR DE SANGUE. É a vingança de ver um partido arrogante definhar de maneira lenta e gradual.

LULA FORA DO PT

Navegando nas ondas do carisma, Lula resiste. A oposição sabe que tirar Lula, nesse momento, seria um golpe no próprio oposicionismo. Haveria, sim, resistência social. Água mole em pedra dura... A regra vale também para o presidente. A cada episódio, mais escândalo, mais lama, mais informações escabrosas. Resta a Lula pular fora do PT. Dentro, será impossível continuar a gritar que nada sabia. Nas entrelinhas, diz que fundou um partido que tinha aliança com Deus. E que distingue um partido que fez pacto com o demônio. Caindo fora, não iria nem para o Céu nem para o Inferno. Passaria uma temporada pagando pecados no Purgatório, em prisão temporária. Essa é a melhor opção. Mais adiante, poderia, humilde, até pedir perdão para os velhos companheiros: "Pai, perdoai-os, eles não sabiam o que faziam". Mas o perdão social não será tão fácil.

VISÃO DO AMANHÃ 1

Graças aos Céus e ao Tsunami sobre o PT, as eleições de 2006 serão menos mcdonalizadas, menos dudamendoncistas, ou ainda, menos espetacularizadas e carnavalizadas. As campanhas a la Duda Mendonça são muito bonitas: filmagens cinematográficas, cenas emocionantes, gritos cívicos, corações e mentes embalados por uma arquitetura de intensa mistificação das massas. Todas elas são muito iguais, daí a comparação com o sanduíche da casa americana. O molho é igual aqui ou na China. Mas a galera gosta. A forma suplanta o conteúdo. A versão sobre a verdade encobre a verdade. O discurso político se estraçalha sob o mosaico colorido da engenharia de encantamento das massas.

VISÃO DO AMANHÃ 2

Teremos, em 2006, uma campanha mais objetiva. Menos estapafúrdia, menos espalhafatosa, menos enganosa, mais voltada para a essência do discurso. Em resumo: a semente da racionalidade renasce nas terras enlameadas da política. Candidatos assépticos, honestos, com passado limpo e vida decente, estarão na vanguarda do processo eleitoral. A vassoura da ética vai limpar do cenário alguns nomes, não todos. Porque a erva daninha e rasteira da corrupção é como cobra de duas cabeças: mesmo se matando uma, a cobra continua a viver. Pontos de uma reforma eleitoral urgente devem ser aprovados: proibição de showmícios, cenas externas para os programas eleitorais, transparência na captação e no uso dos recursos, e, possivelmente, até uma campanha mais curta.

NOMES NO PMDB

No PMDB, cresce o nome do governador Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul. Boa fluência, passa imagem de sujeito asséptico. Nelson Jobim, o presidente do STF, poderia ser o nome peemedebista, mas cometeu o erro de pender para a banda governista do partido. É visto com desconfiança pela banda oposicionista, comandada pelo deputado Michel Temer, de quem, aliás, é amigo. Mas Temer vai cumprir rigorosamente a decisão da Convenção: candidatura própria à presidência da República, inspirando-se no sentimento das bases. A prévia partidária está marcada para 1o. de março de 2006. Poucos acreditam em Garotinho. É polêmico, a partir do viés populista-evangélico que encarna. José Sarney, ex-presidente da República, não une as duas alas. Fica melhor no figurino de conselheiro da Pátria. Renan Calheiros não emplaca. Perfil cheio de contradições. Requião é um poço de polêmicas.

O DISCURSO DE SARNEY

José Sarney, no auge da crise, pega o microfone do Senado e faz uma peroração de senador dos tempos romanos. É a liturgia do poder em ação.

NOMES NO PSDB

O cenário presidencial está à vista. Avoluma-se a onda Serra na sigla tucana. É o único que se apresenta, hoje, em condições de vencer Lula no segundo turno. Atente-se para o HOJE. Campanha política é, sobretudo, um jogo no campo das circunstâncias. FHC é carta fora do baralho. É um presidente que ainda está bem vivo, na alma da política econômica. Traz muita polêmica para o certame. Aécio Neves ainda se afoga nas águas nem sempre calmas da política. Parece arrebatado e sem muito equilíbrio. Geraldo Alckmin seria o segundo nome, depois de José Serra. Equilibrado. Falta-lhe uma idéia de país. É pouco arrojado. E escorregadio. Não demonstra autoridade, força, pulso. E sua visão de comunicação política se esgota no entendimento de que isso é sinônimo de assessoria de imprensa.

NOMES NO PFL

César Maia, não fosse tão chegado a factóides, seria um bom nome. Sua banda marqueteira come pedaço de sua banda de político e de administrador. Marco Maciel é um figurino de qualidade e competência, mas muito discreto. O melhor nome do PFL é, espantem-se, Guilherme Afif Domingos. Sabe dizer as coisas. Exerce liderança na área de pequenos e médios empresários. Mas está recolhido na Associação Comercial de São Paulo. Seu tiro, hoje, alcança os limites do território paulista.

NOMES DO PT

Lula, se continuar no partido e se este não tiver o registro suspenso. Difícil, mas não impossível. Palocci, pela idéia de segurança no vetor macroeconômico. O PT está muito resumido. Até nessas linhas.

OUTROS NOMES

Heloisa Helena, do PSOL (AL), pode ser a mulher guerreira do próximo pleito presidencial. Ou Denise Frossard, do PPS (RJ). As mulheres poderão se constituir em poderoso braço da política nos próximos tempos. Encarnam de maneira mais intensa os valores da probidade/dignidade, da seriedade, do zelo público e da crença nas instituições democráticas.

EPÍLOGO I

"Um homem se propõe à tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu resto". (Jorge Luis Borges, Buenos Aires, 31 de outubro de 1960)

EPÍLOGO II

"Um partido político se propõe à tarefa de desenhar um novo Brasil. (Palavras que escolheu para o desenho: Ética, moral, grandeza, progresso, justiça social, distribuição de renda, fome zero, bolsa família, civismo, bons costumes, avanços, fé e esperança.) Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente amontoado de palavras traça a imagem de sua grande mentira." (Gaudêncio Torquato, São Paulo, 17 de agosto de 2005)

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